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“Listas de espera em dermatologia estão ao nível mais baixo de sempre”

Durante o início da pandemia, os doentes psoriáticos foram afetados pelo receio de que a infeção pudesse ser mais grave em doentes medicados com terapêuticas imunossupressoras/ /biológicas, o que levou, em alguns casos, à suspensão e adiamento dos tratamentos.

08 de Outubro de 2021 às 11:15
Paulo Varela, diretor do Serviço de Dermatologia do CHVNG.
Paulo Varela, diretor do Serviço de Dermatologia do CHVNG. DR
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Os efeitos da pandemia nos doentes com psoríase contribuíram para o agravamento dos quadros clínicos. Os principais fatores foram a dificuldade “no acesso dos doentes a consultas, quer nos centros de saúde quer a nível hospitalar, não só por limitações impostas pelas regras em vigor mas também porque os doentes tinham medo de sair de casa e, sobretudo, de frequentar hospitais. Houve também impacto na utilização de terapêuticas sistémicas com efeitos imunossupressores, quer por receio dos doentes quer por alteração das prescrições médicas. A estes dois fatores associou-se ainda o aumento dos níveis de stress e as alterações de estilo de vida, por exemplo, levando a aumento de peso”, salientou Maria João Paiva Lopes, responsável pela Dermatovenereologia do Centro Hospitalar Universitário de Lisboa Central e professora da Faculdade de Ciências Médicas.

Por sua vez, Paulo Varela, diretor do Serviço de Dermatologia do Centro Hospitalar de Vila Nova de Gaia/Espinho (CHVNG), considerou que a pandemia levou inicialmente a uma inacessibilidade aos cuidados de saúde, com menos referenciação de novos doentes pelos serviços de medicina geral e familiar, quebras na cadeia de prescrição e monitorização analítica de efeitos secundários de medicação.

“Alguns doentes a fazerem fototerapia nos hospitais públicos viram as suas sessões de tratamento canceladas porque foram entendidas como cuidados não essenciais e os enfermeiros alocados foram desviados para os cuidados covid”, assinala Paulo Varela. Entre outros efeitos, refere “algum receio inicial em manter e sobretudo iniciar terapêuticas imunossupressoras, centrais na abordagem da psoríase, em período de pandemia e na incerteza do aumento do risco covid, e também “alguns doentes tiveram ligeiros e temporários agravamentos da psoríase pela vacinação, o que poderá ser devido à estimulação imunológica, comum a outras imunizações e infeções ou a alguma ansiedade pelas fake news que rodearam as vacinas”.

Agravamento da doença

Paulo Varela fala ainda que “a psoríase também agravou por stress da incerteza da pandemia e pela redução da atividade ao ar livre, pelo confinamento, já que a exposição aos ultravioletas melhora a doença”.

Os doentes psoriáticos foram afetados pelo receio de que a infeção por SARS-CoV-2 pudesse ser mais grave em doentes medicados com terapêuticas imunossupressoras/biológicas o que levou, em alguns casos, à suspensão ou adiamento dos tratamentos. Mas como refere Tiago Torres, “felizmente os hospitais adaptaram-se a esta nova realidade, promovendo a teleconsulta e a entrega de terapêutica ao domicílio. Adicionalmente, a evidência de que as terapêuticas imunossupressoras/biológicas não se associam a pior prognóstico da covid-19 permitiu aos dermatologistas tranquilizar os doentes, promovendo a manutenção das terapêuticas e iniciando tratamento a todos os doentes que necessitassem. Por fim, a decisão da DGS de considerar os doentes psoriáticos medicados com terapêuticas imunossupressoras/biológicas numa fase mais precoce do plano de vacinação permitiu acelerar a vacinação destes doentes”.

Em termos de recuperação da atividade assistencial, “neste momento não há qualquer alteração na referenciação, tratamento e acompanhamento dos doentes com psoríase e podemos dizer mesmo que as listas de espera para consultas de dermatologia no SNS estão ao nível mais baixo de sempre, pela redução na referenciação em 2020 mas também pela valorização do pagamento da atividade adicional pela tutela”, disse Paulo Varela.