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Os desafios de exportação não são propriamente recentes, apesar de os últimos tempos terem posto à prova o comércio global e criado estrangulamentos em diversas indústrias e setores. Basta ter em conta que as companhias marítimas de navegação, que representam cerca de 85% do comércio mundial, após os primeiros confinamentos em 2020, retiraram barcos das suas rotas imputando uma forte inflação ao setor logístico. "Chegou-se a pagar 10 vezes mais por um contentor vindo da China e oito vezes mais do Brasil", ilustrou António Mendes Ferreira, PCA da United Resins nos Encontros Fora da Caixa, no debate sobre "Os Desafios da Exportação, o Redesenhar do Comércio Global e o Impacto na Economia Portuguesa".
Não havendo garantia de fornecimento, muitas empresas optaram por aumentar consideravelmente o seu stock, uma estratégia que, mais tarde, coincidiu com uma perda de mercado devido ao arrefecimento da economia em período de guerra. Uma "receita" complicada que basicamente criou uma crise... em cima de uma crise. Como se ajustou a United Resins? António Mendes Ferreira explicou que, basicamente, houve necessidade de aportar mais capital ao negócio. "Na medida do possível fomos gerindo a cadeia de abastecimento e aguentando os stocks com tempo mais prolongado". Hoje, o administrador diz que ainda paga por um contentor não dez vezes mais, como em 2020, mas quatro vezes mais. "Os preços da logística, à semelhança do preço da energia, nunca mais voltarão para os preços de antes, até porque as empresas perceberam que podem ganhar muito mais trabalhando de uma forma diferente e gerindo recursos". Aliás, António Mendes Ferreira acredita que esta inflação não é um problema de procura, mas antes um problema de oferta.
Capacidade de ajustamento é fundamental
Capacidade de adaptação e ajustamento é o que hoje é pedido às empresas. Mais do que pedido, é obrigatório para que possam sobreviver numa época em que um lead time - tempo necessário para percorrer todo o ciclo de produção - de 50 ou 60 semanas é o novo normal. "As empresas tiveram de ajustar a sua produção, os seus stocks", contribuiu Duarte Pais, administrador da Microplásticos, que tem no setor automóvel três quartos do seu negócio. "Esta indústria adaptou-se. Antes, os concessionários estavam cheios de viaturas e, hoje, os clientes já aceitam de uma forma mais ou menos leviana, terem de esperar seis meses pelo seu carro".
Consumidora de eletricidade, a Microplásticos sentiu na pele, ou no negócio, a dependência da Europa. "Não sendo Portugal o país que mais sofre dessa dependência, acabou por ser altamente afetado já que o preço da eletricidade está indexado ao do gás, tendo aqui um efeito dominó." No caso da Microplásticos, o aumento da energia traduziu-se única e exclusivamente numa perda de 1,5% de rentabilidade".
Criar novos métodos
Portugal está numa localização extraordinária, mas fruto do pouco fluxo de importação, acaba por ficar fora das principais rotas do comércio global, diz Pedro Teixeira, CEO da Fapricela. A consequência disto é que, para serem competitivas em alguns mercados, as empresas nacionais acabam por ter de transportar contentores para outras geografias. "A nossa preocupação para o futuro é encontrarmos soluções em Portugal que permitam à indústria nacional chegar a outros mercados de uma forma mais eficaz e com menor custo".
Pedro Teixeira explicou neste debate moderado por Diana Ramos, diretora do Jornal de Negócios, e corroborando os testemunhos dos outros participantes, que a Fapricela lidou com períodos de extrema procura, aos quais simplesmente não conseguia responder. "Tivemos de parar as nossas vendas, não tínhamos capacidade". Hoje, o setor atravessa um momento que o CEO classifica de "normalidade". Estes foram períodos que Pedro Teixeira garante serem desafiadores, tendo havido necessidade de criar novos métodos e de planeamento, processos por forma a corresponder à procura e à exigência dos clientes.
Aproximar a cadeia de abastecimento
Muitos fatores que levaram a este redesenhar do comércio global afetaram a Celbi, produtor mundial de pasta de eucalipto, com a empresa a registar um aumento superior a 50% dos custos logísticos, disse Miguel Silva, CFO. Isto para não falar da escassez de matéria-prima, a madeira, que obriga a empresa lusa a importar e, assim, deixar parte do valor acrescentado das exportações, que de resto são 85% da sua produção.
Na vertente da logística, Miguel Silva explica ter-se munido de alguma criatividade, adquirindo uma participação minoritária numa empresa que detém um barco, o que lhe permite ter acesso a fretes mais competitivos.
A empresa está atualmente a analisar um projeto no Norte da Península que passa pela construção de uma fábrica de fibras têxteis sustentáveis de base celulósica. Um projeto que exemplifica a nova ordem mundial em termos de comércio. "Assim, aproximamos a cadeia de abastecimento. Queremos fazer tudo no mesmo sítio, com vantagens do ponto de vista ambiental e diminuição de pegada, mas também de diminuição do risco de abastecimento".
Capacidade de reação positiva
Em mais este evento Fora da Caixa, Francisco Cary, administrador executivo da Caixa Geral de Depósitos, garantiu que a instituição tem estado ao lado dos clientes no sentido de dar suporte financeiro aos investimentos na área da transição energética, e registou que, neste período, houve um aumento das necessidades de fundo de maneio por parte desses mesmos clientes.
"O setor empresarial português foi muito resiliente na crise anterior e, também nesta, está a demonstrar essa capacidade. Claro que ninguém sabe o que vai exatamente acontecer e com que impacto, mas o que percebemos por parte dos clientes é uma boa capacidade de reação".
Não havendo garantia de fornecimento, muitas empresas optaram por aumentar consideravelmente o seu stock, uma estratégia que, mais tarde, coincidiu com uma perda de mercado devido ao arrefecimento da economia em período de guerra. Uma "receita" complicada que basicamente criou uma crise... em cima de uma crise. Como se ajustou a United Resins? António Mendes Ferreira explicou que, basicamente, houve necessidade de aportar mais capital ao negócio. "Na medida do possível fomos gerindo a cadeia de abastecimento e aguentando os stocks com tempo mais prolongado". Hoje, o administrador diz que ainda paga por um contentor não dez vezes mais, como em 2020, mas quatro vezes mais. "Os preços da logística, à semelhança do preço da energia, nunca mais voltarão para os preços de antes, até porque as empresas perceberam que podem ganhar muito mais trabalhando de uma forma diferente e gerindo recursos". Aliás, António Mendes Ferreira acredita que esta inflação não é um problema de procura, mas antes um problema de oferta.
Capacidade de ajustamento é fundamental
Capacidade de adaptação e ajustamento é o que hoje é pedido às empresas. Mais do que pedido, é obrigatório para que possam sobreviver numa época em que um lead time - tempo necessário para percorrer todo o ciclo de produção - de 50 ou 60 semanas é o novo normal. "As empresas tiveram de ajustar a sua produção, os seus stocks", contribuiu Duarte Pais, administrador da Microplásticos, que tem no setor automóvel três quartos do seu negócio. "Esta indústria adaptou-se. Antes, os concessionários estavam cheios de viaturas e, hoje, os clientes já aceitam de uma forma mais ou menos leviana, terem de esperar seis meses pelo seu carro".
Consumidora de eletricidade, a Microplásticos sentiu na pele, ou no negócio, a dependência da Europa. "Não sendo Portugal o país que mais sofre dessa dependência, acabou por ser altamente afetado já que o preço da eletricidade está indexado ao do gás, tendo aqui um efeito dominó." No caso da Microplásticos, o aumento da energia traduziu-se única e exclusivamente numa perda de 1,5% de rentabilidade".
Criar novos métodos
Portugal está numa localização extraordinária, mas fruto do pouco fluxo de importação, acaba por ficar fora das principais rotas do comércio global, diz Pedro Teixeira, CEO da Fapricela. A consequência disto é que, para serem competitivas em alguns mercados, as empresas nacionais acabam por ter de transportar contentores para outras geografias. "A nossa preocupação para o futuro é encontrarmos soluções em Portugal que permitam à indústria nacional chegar a outros mercados de uma forma mais eficaz e com menor custo".
Pedro Teixeira explicou neste debate moderado por Diana Ramos, diretora do Jornal de Negócios, e corroborando os testemunhos dos outros participantes, que a Fapricela lidou com períodos de extrema procura, aos quais simplesmente não conseguia responder. "Tivemos de parar as nossas vendas, não tínhamos capacidade". Hoje, o setor atravessa um momento que o CEO classifica de "normalidade". Estes foram períodos que Pedro Teixeira garante serem desafiadores, tendo havido necessidade de criar novos métodos e de planeamento, processos por forma a corresponder à procura e à exigência dos clientes.
Aproximar a cadeia de abastecimento
Muitos fatores que levaram a este redesenhar do comércio global afetaram a Celbi, produtor mundial de pasta de eucalipto, com a empresa a registar um aumento superior a 50% dos custos logísticos, disse Miguel Silva, CFO. Isto para não falar da escassez de matéria-prima, a madeira, que obriga a empresa lusa a importar e, assim, deixar parte do valor acrescentado das exportações, que de resto são 85% da sua produção.
Na vertente da logística, Miguel Silva explica ter-se munido de alguma criatividade, adquirindo uma participação minoritária numa empresa que detém um barco, o que lhe permite ter acesso a fretes mais competitivos.
A empresa está atualmente a analisar um projeto no Norte da Península que passa pela construção de uma fábrica de fibras têxteis sustentáveis de base celulósica. Um projeto que exemplifica a nova ordem mundial em termos de comércio. "Assim, aproximamos a cadeia de abastecimento. Queremos fazer tudo no mesmo sítio, com vantagens do ponto de vista ambiental e diminuição de pegada, mas também de diminuição do risco de abastecimento".
Capacidade de reação positiva
Em mais este evento Fora da Caixa, Francisco Cary, administrador executivo da Caixa Geral de Depósitos, garantiu que a instituição tem estado ao lado dos clientes no sentido de dar suporte financeiro aos investimentos na área da transição energética, e registou que, neste período, houve um aumento das necessidades de fundo de maneio por parte desses mesmos clientes.
"O setor empresarial português foi muito resiliente na crise anterior e, também nesta, está a demonstrar essa capacidade. Claro que ninguém sabe o que vai exatamente acontecer e com que impacto, mas o que percebemos por parte dos clientes é uma boa capacidade de reação".