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A 18 de junho de 2019 o Facebook anunciou planos para criar uma criptomoeda, a Libra, e uma carteira eletrónica para a guardar, a Calibra. "É um exemplo acabado do efeito de escala nas mãos de uma ‘big tech’", referiu Paulo Figueiredo, administrador do Banco BIG. "Lançam um criptoativo, uma moeda sem fronteiras, porque têm mil milhões de pessoas à volta do Facebook. Estão a mexer com política monetária a uma escala intercontinental. Ainda bem que o fizeram porque vão obrigar os reguladores a dizer até onde se pode ir em termos de ‘big techs’ e da sua intervenção no sistema financeiro".
Este projeto do Facebook trouxe "uma solução para um problema que existe, que é a troca e as transferências ‘crossboard’ P2P [ponto a ponto] imediatas e a um custo baixo e é um problema que ainda não está bem endereçado mesmo ao nível da Europa", explica Maria José Campos, administradora do Millennium bcp. Acrescenta que, "alavancando na escala que têm e numa tecnologia que permite fazer isto a custos baixos e rápido, vieram preencher um espaço que existe. Isto é um alerta para os bancos acelerarem e conseguirem ter maior velocidade nos consensos que têm de ser estabelecidos para ter ao nível da Europa uma solução de transferências imediatas ‘crossboard’ com custos baixos".
Maria José Campos reconhece que "em princípio não será anónima, não terá uma rede distribuída, terá mais transparência e terá por trás um conjunto de moedas tradicionais que elimina a questão da volatilidade. Tem de ser regulada mas se resultar vai-nos criar mais dificuldades. Para as ‘big techs’, os bancos têm de se unir muito para ter melhores propostas de valor para os seus clientes".
Caminho sem retorno
"É um tema que tem muitas interrogações. Não é um criptomoeda porque não tem exatamente as características da moeda, será baseada num ‘basket’ de um conjunto de moedas para obter a sua valorização mas não há nada que permita assegurar, em termos concretos, quem faz a determinação do valor da nova moeda", explicou Fernando Faria de Oliveira, presidente da Associação Portuguesa de Bancos.
Paulo Figueiredo defende a abertura das API (application programming interface) das "big tech".
Por outro lado Paulo Figueiredo defende a abertura das API (application programming interface) das "big tech". "Se os bancos já abriram as API dos serviços bancários a outras empresas de forma regulada, é o mínimo que se deve passar com as ‘big techs’. Tem de haver regulação. Imagine o número de negócios que os bancos poderiam ter com os seus clientes com o simples facto destes permitirem o acesso aos seus dados das ‘big techs’ e estas disponibilizarem o acesso como fazem os bancos", questionou o administrador do Banco BIG.
Tanto Fernando Faria de Oliveira como Paulo Figueiredo consideram que é inevitável o caminho em direção aos criptoativos mas que terá de ser feito de uma forma regulada para assegurar a transparência e a proteção dos clientes.