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Júlia Seixas: “Temos de investir em floresta como se investiu em energias renováveis”

Para a professora e pró-reitora da Nova School of Science & Technology, Júlia Seixas, a componente das florestas plantadas é essencial para que as metas do acordo de Paris sejam atingidas.

06 de Abril de 2022 às 16:30
Júlia Seixas trouxe o paradigmático caso das florestas tropicais. Mariline Alves
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"As florestas são o último repositório de grande parte da biodiversidade do planeta", salientou Júlia Seixas, pró-reitora da Universidade Nova de Lisboa e professora da Nova School of Science & Technology. São os pilares da sustentabilidade do planeta, albergam a esmagadora maioria da biodiversidade de muitas classes de animais, 80% dos anfíbios, 75% das aves, 68% dos mamíferos, e 60% das plantas vasculares estão nas florestas tropicais.

A professora acrescentou que as florestas são uma parte muito importante e fundamental no que diz respeito ao sequestro de CO2. As florestas no mundo armazenam cerca de 45% de todo o carbono na terra, sem contar com o oceânico, seja na biomassa, seja na parte dos solos. São muito importantes em termos de retenção de água e na limpeza da água que depois abastecem muitos ecossistemas.

Hoje, as florestas ocupam cerca de 31% da área terrestre do planeta, da qual 50% está quase intacta, e cerca 1/3 é floresta primária essencialmente no Brasil, Canadá e Rússia. Entre 1990 e 2020, a perda líquida foi de 178 milhões de hectares da área florestal, segundo o último relatório da FAO. Se entre 1900-1999 a perda foi de 7,8 milhões de hectares, entre 2000-2010 passou para 4,7 milhões de hectares. "Esta redução tem a ver, não apenas com a redução da desflorestação e desmatamento em alguns países, mas com o aumento das áreas de florestas plantadas", disse Júlia Seixas.

Metas do Acordo de Paris

Como exemplo do problema da desflorestação, Júlia Seixas trouxe o caso paradigmático das florestas tropicais. "O que se verifica é que 40% da razão da desflorestação nas regiões tropicais tem a ver com o nosso sistema alimentar. Cerca de 18,4% tem a ver plantação de oleaginosas, inclusivamente para biocombustíveis. Depois ainda 13% devido à desflorestação para produção de papel, de madeira", explicou Júlia Seixas.

Para a professora da Nova School of Science & Technology, a componente das florestas plantadas é essencial para que as metas do Acordo de Paris sejam atingidas. "Temos de investir em floresta tal como investimos em energias renováveis. Já se percebeu que a inovação tecnológica tornou os preços das energias renováveis muito competitivos face aos fósseis, e agora está na hora de fazermos awareness para a parte das florestas", afirmou.

A FAO separa florestas plantadas com 55% de florestas que correspondem a restauro de ecossistemas, que têm estado a aumentar, e florestas chamadas de conservação, e 45% das florestas plantadas são geridas com uma, duas ou três espécies, típicas de florestas de produção.

"Considero que ambas são muito importantes, mas têm características diferentes", afirma Júlia Seixas. A retenção de CO2 numa floresta que tem rotação é diferente do ciclo do carbono de uma floresta de conservação em que o CO2 fica permanente. "Na rotação, esse CO2 acaba por entrar noutros circuitos e mais cedo ou mais tarde esse CO2 há de ir parar a um dos compartimentos do planeta e pode ir para a atmosfera", explicou Júlia Seixas.