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Apostar numa rede cada vez mais inteligente, eficiente, resiliente e com automatização capaz para incorporar os desafios de uma produção cada vez mais distribuída é um dos principais desafios com os quais se depara a E-REDES. O diretor da Direção Gestão e Operação de Sistema, José Ferreira Pinto, fala do papel essencial que a empresa desempenha na transição energética e na produção descentralizada de energia e da iniciativa que tem em parceria com o Negócios. A Academia E-REDES é um ciclo de conferências com várias universidades para debater o contributo das redes de distribuição de eletricidade para a transição energética. O próximo evento é amanhã na Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra.
Para que Portugal alcance as metas estipuladas no Pacto Ecológico Europeu, é necessário fazer grandes transformações em matéria de energia, tornando-se mais sustentável e mais inteligente. Um dos temas é a digitalização e a edificação de uma rede elétrica, progressivamente mais inteligente. O que está a fazer a E-REDES nesta matéria?
O esforço para alcançar esse pacto deverá ser comum de toda a sociedade, assente no recurso a fontes de energia sustentáveis e numa utilização energética mais eficiente e racional. A E-REDES pretende e assume aqui um dos principais papéis nesse desígnio, apostando e investindo no desenvolvimento de uma rede elétrica de distribuição cada vez mais inteligente, capaz de abraçar os novos desafios decorrentes da eletrificação dos consumos, do crescimento da mobilidade elétrica e da produção distribuída, bem como de criar condições para o desenvolvimento de novos modelos de produção e utilização de energia de proximidade, como as comunidades de energia. A E-REDES tem participado ativamente em diversos projetos europeus (INTEGRID, EUniversal), liderando inclusivamente alguns dos mais emblemáticos, desenvolvendo novas abordagens e conceitos para a gestão da rede elétrica do futuro.
No âmbito das "smartgrids", quantos clientes já tem Equipamentos de Medição Inteligentes instalados?
Mais de metade dos clientes já tem Equipamentos de Medição Inteligentes (EMI) instalados, sendo que estamos a trabalhar para que todos os contadores sejam inteligentes até final de 2024. Além das vantagens para os clientes, como o registo automático dos consumos de energia, o fim das estimativas e a possibilidade de solicitar alterações contratuais à distância de forma totalmente digital, há um benefício para todo o sistema através de operações mais eficientes, contribuindo para a redução da nossa pegada de carbono e para uma maior sustentabilidade.
Tirando partido das tecnologias de comunicação e informação, a E-REDES tem vindo a investir na supervisão, controlo e automação das redes, assegurando através dessa estratégia uma operação mais eficiente. A Empresa irá continuar a investir para aumentar o nível de previsão, observabilidade e controlo das redes para assegurar a gestão de uma rede com produção cada mais descentralizada e com novos modelos de utilização de recursos. É um caminho cheio de desafios, para os quais a E-REDES se tem preparado também ao nível dos seus recursos humanos, apostando na diversidade e na qualificação dos seus colaboradores.
Pode quantificar o investimento e o estado de modernização da infraestrutura da E-REDES em matéria de digitalização?
Há vários anos que a E-REDES tem vindo a apostar na digitalização, nas várias vertentes da sua atividade de operação e gestão da Rede Nacional de Distribuição (RDN) e das redes BT. Ao nível das redes de alta e média tensão toda a operação é efetuada com recurso a informação digital, adquirida em tempo real, estando, neste momento, a E-REDES a preparar a evolução dos sistemas de operação da rede para um "Advanced Distribution Management System", reforçando a visibilidade sobre a baixa tensão e maximizando o benefício das "smartgrids". A aposta na modernização e digitalização da rede tem sido efetiva, com um crescimento anual do investimento da ordem dos 20%, representando em 2022 um valor superior a 90 milhões de euros. Este caminho sustentado de aceleração digital tem sido amplamente reconhecido no mercado através da atribuição de prémios a alguns dos projetos de digitalização por entidades reputadas como a IDC (Best Energy & Utilities Project; Best Future of Intelligence Project); APDC (Cidades e Territórios do Futuro); Salesforce (Excelência em Field Services) ou Kaizen (Excelência na Produtividade) que nos enchem de orgulho e nos motivam a ir cada vez mais longe.
Que análise faz do estado da transição energética em Portugal e que papel está a desempenhar a E-REDES?
Portugal tem vindo a trilhar um caminho tendo em vista a descarbonização, assente na eletrificação dos consumos e em simultâneo na evolução da produção de eletricidade para fontes sustentáveis. A E-REDES, enquanto operador da rede de distribuição, posiciona-se no centro desta "revolução". Falar em transição energética sem falar da rede de distribuição de energia não faz sentido. Esta rede, nos seus diversos níveis de tensão, capacita, torna viável e rentável o esforço da sociedade civil, empresas e Estado no desenvolvimento de todos os projetos de transição energética existentes, em curso e futuros.
A E-REDES assume-se como uma plataforma de integração de todas estas tecnologias e "players", e está a preparar o caminho para a sua gestão inteligente. Neste momento, a rede de distribuição já incorpora 5.800 MVA de PRE e cerca de 700 MVA de autoconsumo ligados na rede. Nos próximos dois anos, teremos a ligação de mais cerca de 2.500 MVA através da ligação de novos centros eletroprodutores (UPP + PRE) e novos autoconsumidores.
Que medidas deveríamos adotar para garantir uma maior aceleração dos temas da transição energética?
A transição energética é ela própria dependente da evolução tecnológica e da capacidade de resposta dos mercados aos novos equipamentos em quantidade e custo. Mas há um aspeto fundamental nesta matéria, que é o modo como cada um nós e a sociedade em geral, abraça este desafio. Assim, além de políticas que criem mecanismos de incentivo aos consumidores para evoluírem na utilização da energia, abandonando os combustíveis fósseis em prol da utilização de energia verde, há necessidade de desenvolver e enraizar uma cultura de sustentabilidade na sociedade, desenvolvendo a literacia do tema da transição energética na população em geral.
Do ponto de vista técnico, é fundamental que se realize o reforço do investimento nas redes, de modo a reunir as condições necessárias para receber a produção distribuída e fazer uma gestão efetiva da carga/produção, e de novos mecanismos disponíveis ao ORD que permitam a observabilidade e controlabilidade de geração e do consumo para maximizar a ligação de mais produção e/ou consumo, mantendo a estabilidade e a segurança da rede. Dada a aleatoriedade ou limitação temporal da produção de fonte renovável que neste momento a tecnologia disponibiliza, o incremento da ligação de storage torna-se inevitável, para permitir rentabilizar a potência disponível e a energia não consumida no momento, permitindo "alisar" o diagrama de cargas.
Que novas modalidades de produção e consumo de energia estão a ser promovidas com a aposta em energias renováveis?
A E-REDES, enquanto operador de rede, tem um papel essencial de garantir a alimentação/conectividade elétrica a todos os clientes (produtores e consumidores). O seu primeiro contributo passa pela otimização das redes, permitindo o abastecimento elétrico a todos os clientes, e facilitando a ligação de novas centrais de geração e de novos clientes, respeitando sempre a legislação vigente. A promoção e incentivos relacionados com geração dependem do enquadramento legal vigente.
A geração de energia distribuída é o verdadeiro processo de democratização de acesso à energia?
Historicamente, o desenvolvimento de uma rede elétrica de distribuição em superfície no território nacional veio criar as condições para a democratização do acesso à energia elétrica, ultrapassando os problemas inerentes à assimetria de custos das produções dispersas que existiam no país. Hoje, com uma cobertura de rede nacional e com as novas tecnologias de produção renovável distribuída, estamos perante um novo paradigma. Mais do que a democratização, estamos perante um novo cenário em que cada cliente pode ser consumidor e produtor, fazendo parte ativa do sistema e do mercado. Também ao nível da resiliência surgem novas possibilidades, e abordagens possíveis.
Qual é o vosso papel neste contexto de produção descentralizada?
Há um primeiro papel, que é garantir o funcionamento e qualidade de serviço da rede elétrica, neste novo paradigma de rede. De recordar que tradicionalmente o fluxo de energia nas redes de distribuição era unidirecional. Houve, portanto, um desafio para capacitar e adaptar a rede a esta realidade. Um segundo aspeto fundamental é a inovação na gestão das redes de distribuição para maximizar a incorporação da produção distribuída ligada à rede, assegurando em simultâneo a estabilidade e segurança do sistema elétrico e as suas responsabilidades, e sendo um facilitador dos diversos modelos de organização e de negócio que possam ser desenvolvidos.
A Academia E-REDES regressa com o tema da produção descentralizada. O que se pode esperar desta iniciativa?
A transição energética em curso vai alterar completamente o sistema elétrico de distribuição. Estamos perante uma "revolução" no setor. Para o sucesso que todos ambicionamos nesta transição, são fundamentais a capacidade de inovação e os recursos humanos com os conhecimentos e competências que a mesma exige. A academia portuguesa tem aqui um papel decisivo e em simultâneo uma oportunidade de afirmação. A formação, as escolas e neste caso concreto a Universidade de verão estar intimamente ligadas com a "economia real" e a tornarem as mudanças tecnológicas mais fáceis e ágeis para a sociedade.
Investir no conhecimento é a chave do sucesso, e a E-REDES tem aqui uma dupla motivação, a necessidade para o negócio e a sua parte na responsabilidade social.