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Jorge Sampaio "É preciso um novo pacto social à escala mundial"

Para Jorge Sampaio, a saúde tem que ver com os direitos humanos, a dignidade humana e o problema do desenvolvimento e uma resposta multilateral às grandes ameaças actuais.

18 de Outubro de 2016 às 17:18
David Martins
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As grandes ameaças actuais "têm um carácter interdependente, transfronteiriço e global. Para enfrentar este tipo de ameaças transversais são necessárias respostas conjuntas e concertadas, acção colectiva, portanto, só com mais e melhor diplomacia multilateral será possível combatê-las e preveni-las", por isso "a globalização requer regulação e esta exige o reforço da diplomacia multilateral", referiu Jorge Sampaio na sua intervenção como chairman da Be Well Global Health Conference, que se realizou no Meo Arena em Lisboa no passado 1 de Outubro e contou com a presença de mais de 3 mil assistentes relacionados com as actividades da saúde.

Acentuou que "a saúde pública é matéria política, e só com uma perspectiva forte de políticas públicas se podem abordar as ameaças e os desafios, que neste conturbado século XXI se colocam à humanidade não só no plano nacional como internacional. Isto explica também o papel que cabe às Nações Unidas, e muito especialmente à OMS, bem como em geral às organizações multilaterais, tal como o Banco Mundial, ou ainda às organizações regionais, como a União Europeia e até a CPLP, seja absolutamente fundamental e insubstituível". Nesse sentido na "área da saúde pública isto é muito claro, os desafios são sempre transnacionais, e a verdade é que também neste sector temos vivido ultimamente em modo de crise". Fez então um apelo, dizendo que "é preciso reinventar um novo pacto social à escala mundial que ponha todos os actores a trabalhar conjuntamente seja OMS, Estados, organizações, empresas, fundações em torno da procura da melhor solução para cada problema específico".

Para Jorge Sampaio, a saúde tem que ver com os direitos humanos, a dignidade humana e o problema do desenvolvimento. Como referiu, "na saúde jogam-se também os direitos humanos enquanto campo de assignação e construção da dignidade humana e do desenvolvimento sustentável. A meu ver a dignidade humana manifesta-se antes de mais no terreno da vida e da saúde na acepção ampla que lhe empresta a OMS como um estado completo de bem-estar físico, mental e social e não apenas a ausência de doenças".

Na questão da saúde está em causa o problema do desenvolvimento. Por isso assinalou as ambições da denominada agenda de 2030 em que a saúde de qualidade surge "ao lado de um conjunto vasto de objectivos sectoriais que vão, por exemplo, da redução da taxa de mortalidade até acabar com doenças como a sida ou doenças tropicais que têm sido negligenciadas, combater a hepatite, as doenças transmitidas pela água e outras doenças transmissíveis".

A saúde e a Síria

Jorge Sampaio, chairman da conferência e enviado especial do secretário-geral da ONU para a Luta Contra a Tuberculose (2006-2007), pediu ainda às mais de 3 mil pessoas dedicadas à área da saúde que apoiassem e ajudassem na formação complementar para 200 médicos da Síria para evitar que, depois do fim de uma guerra fratricida e sangrenta, não se suceda uma crise sanitária. Desde o início da guerra na Síria, foram mortos mais de 700 médicos, cerca de 50% dos profissionais de saúde fugiram do país e muitos estudantes de medicina abandonaram os estudos. O projecto SOS - Focus on Syrian Medical Students & Doctors está integrado na Plataforma Global de Assistência a Estudantes Sírios, que o ex-Presidente lançou em 2013 e já permitiu a cerca de 135 estudantes universitários sírios prosseguirem os seus estudos.