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"Qualquer visão radical de ambiente numa perspetiva antagónica à prosperidade e à igualdade de oportunidades não funciona e acho que é importante olhar para o Green Deal numa perspectiva mais ampla de redefinição de conceitos, de uma nova filosofia de desenvolvimento" afirmou Jorge Moreira da Silva, diretor-geral da Cooperação para o Desenvolvimento da OCDE. Considerou que das três formas de internalizar na economia as externalidades ambientais, a regulamentação, a fiscalidade ou os mecanismos de mercado, é que tem estado ausente desta conceptualização e desenho de políticas públicas.
"Temos o capital financeiro, humano e o natural, que é o único que se tem depreciado desde 1992. O capital financeiro duplicou de 1992 até 2013, o capital humano aumentou 13% nesse período e o capital natural foi depreciado em 40%. Temos um planeta que precisaria de ser quase duas vezes maior do que é para acomodar o nosso modelo de desenvolvimento", enunciou Jorge Moreira da Silva.
PIB desatualizado
Segundo Jorge Moreira da Silva, há uma discussão sobre a possibilidade de alargar ao setor florestal e agrícola o sistema de comércio de emissões, agora que existe mais informação sobre a forma de medir o sequestro de carbono. "A Comissão Europeia tem previsto até fim do ano lançar uma proposta sobre o carbon farming."
"Não devemos esperar que venha a surgir uma solução europeia de comércio de emissões, que integre a floresta, para tratar de realizar no espaço nacional aquilo que está ao nosso alcance e que é nossa responsabilidade. Olhar para a floresta como capaz de provisionar recursos, mas também a remuneração dos serviços de ecossistemas", diz Jorge Moreira da Silva.
Defende uma contabilidade nacional do capital natural. "Temos de passar a medir o capital natural, contabilizá-lo, valorá-lo e valorizá-lo. Hoje temos nas contas nacionais um PIB que está desatualizado, há um capital que está esquecido, só a biodiversidade vale 140 biliões de dólares anuais. Esse capital em que Portugal é rico, é um capital que não está medido, não está contabilizado, não é valorado nem valorizado", considerou Jorge Moreira da Silva.
Ação nacional
Na sua opinião, é essencial uma definição e uma prática da remuneração dos serviços de ecossistemas, qual foi o valor que aquela árvore gerou para além da pasta e do papel no sequestro de CO2, na fixação de minerais, no combate à erosão, na regulação dos recursos hídricos, na preservação da biodiversidade, no combate a pragas e doenças. "Fazer isto depende de regulação e não podemos ficar à espera da europeia, por isso, espero que a academia, o setor público, os legisladores, se possam mobilizar num grande compromisso para finalmente medirmos um capital em que somos verdadeiramente ricos". Com a remuneração dos serviços de ecossistemas "teremos incentivos para as pessoas irem para o interior tratar da floresta, conservar a biodiversidade".