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João Morais: Investigação e organização fazem recuar enfarte de miocárdio

João Morais diz que ainda se está longe de compreender "o impacto da crise económica na saúde cardiovascular dos portugueses".

18 de Outubro de 2016 às 17:02
David Martins /CM
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Nos últimos quarenta anos as mudanças sociais, económicas, e culturais em Portugal levaram a uma alimentação com padrões urbanos em vez dos rurais, ao sedentarismo, ao hábito do tabagismo e "passamos a integrar um clube dos mais desenvolvidos que são afectados pelas doenças cardiovasculares", recordou João Morais, director do Serviço de Cardiologia do Centro Hospitalar de Leiria. Mas nos últimos vinte anos houve alterações. As doenças cardiovasculares são a principal causa de morte em Portugal, mas com uma grande redução das mortes provocadas pelo enfarte do miocárdio.

A estratégia baseou-se no "reconhecimento de as doenças cardiovasculares, nomeadamente o enfarte de miocárdio, tinham um peso muito grande na mortalidade e tentou perceber-se ". Procurou-se um outro tipo de organização. João Morais recordou que há 30 anos quando iniciou a sua especialização como cardiologista lidavam com cifras da ordem dos 17% e hoje anda nos 5%. Ao mesmo tempo, deu-se a coincidência de a investigação no domínio das doenças cardiovasculares se ter tornado "poderosíssima", o "que teve um impacto marcado na progressão da doença com novos fármacos, novos dispositivos, novas formas de abordar a doença". Um momento importante nesta luta, recorda João Morais, foi "quando se decidiu priorizar através das vias verdes e com uma coordenação nacional das doenças cardiovasculares, o que teve um impacto muito grande na comunidade médica e nos doentes". Referiu ainda a acção Stent permitiu disseminar ideias e criar organização. O mais importante foi o facto de "Portugal se ter conseguido organizar para tratar melhor a doença cardiovascular". Organização e conhecimento foi este binómio que permitiu atingir bons os resultados.
cotacao A luta contra a enfarte do miocárdio está no bom caminho, o importante é não estragar aquilo que está feito.  João Morais Director do Serviço de Cardiologia do Hospital de Leiria
Considerou que era o momento de definir outras prioridades para o futuro. "A luta contra o enfarte do miocárdio está no bom caminho, o importante é não estragar aquilo que está feito, mas é importante também priorizar novas ideias. O Acidente Vascular Cerebral (AVC) é um grande problema e se conseguimos um grande avanço no enfarte de miocárdio estamos muito longe de conseguir os mesmos resultados no tratamento do AVC. Os caminhos são muito semelhantes, tal como a história e até as metodologias se assemelham. Os caminhos que a cardiologia trilhou podem ser trilhados por outras áreas, mas é fundamental inverter o AVC." As outras duas prioridades deveriam ser a prevenção da morte súbita, pois "esta é evitável pois sabemos os mecanismos, os meios de prevenir", e a insuficiências cardíaca que afecta muito dos utentes dos serviços de saúde. Dizem até que é a doença silenciosa da cardiologia porque afecta todas as idades, tem uma mortalidade e uma morbilidade elevadas.

Referiu que ainda está longe de se compreender "o impacto desta crise económica na saúde cardiovascular dos portugueses". Deu como exemplo do facto de Portugal ter sido o último país da Europa a ter os novos fármacos contra as doenças cardiovasculares. Mas a crise económica teve aspectos positivos e um deles foi que "aprendemos a gastar melhor o dinheiro. No serviço que dirijo todos os dias fazemos as contas, somos muito rigorosos mas fomos longe de mais. Cortámos as gorduras mas também estamos a escavar o osso".