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João Nuno Mendes: “Moratórias foram essenciais para a confiança na economia”

Portugal vai ter uma grande capacidade de execução do PRR já que este implica um conjunto de reformas e compromissos que terão de ser implementados.

22 de Novembro de 2021 às 14:30
João Nuno Mendes, secretário de Estado das Finanças. Duarte Roriz
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O Banco de Fomento vai ter um aumento de capital de 250 milhões de euros no primeiro semestre de 2022 e o fundo de capitalização e resiliência terá uma capacidade de investimento de 1,3 mil milhões de euros até 2023 para reforçar os capitais próprios das empresas, anunciou João Nuno Mendes, secretário de Estado das Finanças.

O governante salientou a importância que teve a coordenação das políticas fiscal, de apoio ao emprego, e monetária, de apoio ao financiamento das empresas, para conseguir superar a crise que em boa parte está para trás das nossas costas, "mas a verdade é que ainda enfrentamos um conjunto de riscos significativos como os preços da energia, os constrangimentos ao nível das cadeias logísticas, o surgimento de surtos de covid-19 em diversos países do mundo". Considera que é um momento de confiança em que o crescimento acelera e com boas perspetivas para 2022.

Recordou a questão das moratórias bancárias. "Chegamos a ter cerca de 48 mil milhões de euros em moratórias, mas foi essencial para gerar confiança na economia, nas pessoas, nas decisões das empresas. Durante a parte mais intensa da crise, 1/3 dos empréstimos que foram concedidos tiveram garantia do Estado e no segmento dos mais afetados atingiu os 50%. Hoje temos um stock de garantias bancárias que é de 10 mil milhões euros, 3 mil milhões de euros corresponde ao stock que existia pré-crise", afirmou João Nuno Mendes.

A dívida e o ESG

Referiu que a trajetória da dívida portuguesa, que em 2020 em percentagem do PIB foi de 135%, estima acabar em 2021 com 126,9% e o OE que foi rejeitado previa 122,8% para 2022, um nível próximo do que era em 2018. Em 2019 era de 119% do PIB. "É fundamental para transmitir confiança aos investidores da dívida portuguesa e aos mercados financeiros. A dívida é elevada e os juros sobre o stock da dívida representam uma taxa de 2,2%, cerca de 6 mil milhões de euros, que são menos 3 mil milhões do que se pagava em 2015". Salientou que em 2021 a emissão da dívida portuguesa foi de 0,6%, para uma maturidade média de 14,4 anos, "quando em 2020 o prazo médio era de 10 anos, que é resultado da confiança mas também da política monetária seguida pelo BCE. Hoje estamos em termos de taxas de juro estamos abaixo da Itália e da Espanha", concluiu João Nuno Mendes.

João Nuno Mendes analisou o impacto dos princípios ESG na realocação dos portefólios dos fundos de investimento, que "são muito significativos tanto de obrigações como de ações". Está a levar a uma tendência de repricing estrutural de alguns ativos como os relacionados com as empresas energéticas e como se posicionam face ao mercado energético. O mercado das obrigações sustentáveis cresceu cerca de 70% em 2020, tem uma dinâmica de crescimento mas só representa 1,3% do mercado obrigacionista global. Salientou que o setor público e o Estado não têm capacidade para apoiar esta transformação energética para uma economia verde e sustentável, que tem de ser alavancada também por investimentos do setor privado. Está em discussão o regulamento europeu para as obrigações verdes.

Portugal terá de criar uma capacidade de sustentar o investimento de médio e longo prazo "absolutamente extraordinária" com base no PRR, já que este implica um conjunto de reformas e compromissos que terão de ser implementados trimestre a trimestre, a que se soma o PT2030, "que é maior que o PRR e tem períodos semelhantes de implementação".