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Isabel Ucha: “A forma de poupança tem impacto no crédito das empresas”

Como na Europa a poupança assenta nos depósitos bancários, as empresas têm acesso, sobretudo, a financiamento bancário.

11 de Novembro de 2024 às 15:30
Fernando Costa
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Foto em cima: Isabel Ucha, presidente da Euronext Lisbon

A evolução dos hábitos de poupança, mas sobretudo a forma como as pessoas aplicam as suas poupanças, "pode fazer toda a diferença para recuperarmos a competitividade, o crescimento e o desenvolvimento da economia europeia e portuguesa", sublinhou Isabel Ucha, presidente da Euronext Lisbon, na 13.ª edição da Grande Conferência ‘O Futuro dos Mercados Financeiros’, organizada pelo Negócios e pelo Banco Carregosa, com o apoio da ISCTE Business School. Explicou como as diferentes formas de poupança na Europa, nos Estados Unidos e na China se refletem na menor competitividade das empresas e das economias europeias.

"Começa-se a deixar de falar de União do Mercado de Capitais, da União da Poupança e do Investimento e, não é por acaso, que está a ser adotada esta redenominação no programa da próxima Comissão Europeia e que deverá ser também adotada na política económica", considerou Isabel Ucha.

O americano médio possui um nível de riqueza acumulado muito superior ao dos europeus, devido ao facto de o dinheiro não permanecer essencialmente em depósitos bancários, mas estar aplicado em outros tipos de ativos e instrumentos. Isabel Ucha
Presidente da Euronext Lisbon

O relatório Draghi, entre outros relatórios dos últimos anos, refere a perda de competitividade relativa da Europa face aos Estados Unidos e a outros blocos económicos no mundo. Os cidadãos europeus, incluindo os portugueses, têm as suas poupanças em depósitos bancários e não investem em ações, obrigações, fundos de investimento ou fundos de pensões, instrumentos que financiam o capital das empresas nos EUA e na China.

Mais poupança, menos proveito

O relatório Draghi indica que a poupança anual nos Estados Unidos foi de 850 mil milhões de euros em 2022, enquanto na Europa foi de 1.400 mil milhões, refletindo um nível agregado de poupança muito mais elevado. No entanto, em termos de riqueza acumulada, "o americano médio possui um nível de riqueza acumulado muito superior ao dos europeus, devido ao facto de o dinheiro não permanecer essencialmente em depósitos bancários, mas estar aplicado em outros tipos de ativos e instrumentos", afirma Isabel Ucha.

A poupança tem impacto na forma como as empresas se conseguem financiar, "porque não há investimento sem haver poupança em termos macroeconómicos", lembrou Isabel Ucha.

Na Europa, como a poupança se concentra em depósitos bancários, as empresas têm acesso principalmente a financiamento bancário. As soluções para alterar este sistema passam, sobretudo, por "verdadeiras reformas fiscais sobre os instrumentos da poupança e do investimento, mudanças radicais que simplifiquem a tributação da poupança e, tão importante quanto a simplificação, algum incentivo. Contudo, talvez a simplificação seja tão relevante quanto o incentivo", sublinhou Isabel Ucha.

O segundo grande grupo de propostas refere-se aos sistemas de poupança para a reforma, o segundo pilar da Segurança Social. Nos Estados Unidos, os ativos em fundos de pensões representam 145% do PIB, enquanto na Europa representam apenas 32% do PIB, concentrando-se em três países: Dinamarca, Suécia e Países Baixos, os únicos com sistemas de capitalização consolidados.