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"O S&P 500 negoceia a um múltiplo de PER (price-to-earnings ratio) de 22 vezes, mas é importante separar os setores que compõem o índice, pois o setor de tecnologia transaciona a níveis historicamente elevados. O principal fator para isso é a exposição ao setor de Inteligência Artificial (IA)", afirma Pedro Baldaia, Head of Equities do Banco Carregosa, durante a mesa redonda sobre as Tendências e Perspetivas Internacionais, realizada na 13.ª edição da Grande Conferência ‘O Futuro dos Mercados Financeiros’, organizada pelo Negócios e pelo Banco Carregosa, com o apoio da ISCTE Business School.
"A IA é o tema subjacente que tem levado o mercado financeiro e a classe de ações a capitalizar esses múltiplos de 22 vezes", acrescenta Catarina Castro, economista e analista de mercados.
Para este especialista, a maioria dos outros setores transaciona com um PER abaixo da mediana dos últimos 10 anos. "Existe claramente uma bifurcação em termos setoriais, o que é importante salientar. Estamos num momento económico que, conceptualmente, deveria ser favorável para o crescimento dos resultados das empresas, pois nos Estados Unidos há um crescimento económico resiliente e uma trajetória de taxas de juro descendente.
As sete magníficas
"Enquanto existir a perspetiva de que a IA pode trazer novos ganhos de escala, produtividade e rentabilidade para as empresas, o mercado de ações e a Bolsa, em geral, andarão a um passo e a um ritmo distintos da macroeconomia", disse Catarina Castro. Ela explicou que, com os PIBs a subirem entre 2% e 3%, há a expectativa de que o mercado de ações, que está em máximos históricos, esteja já a descontar os ganhos de eficiência, produtividade e maiores rentabilidades que a disrupção da IA poderá, ou não, realmente comprovar.
Pedro Baldaia detalhou a sua análise sobre as sete grandes empresas da tecnologia, que representam cerca de 30% do S&P 500. "Essas empresas têm um peso enorme no desempenho do índice e estão todas com múltiplos elevados, devido à sua exposição ao tema da Inteligência Artificial." A Nvidia, a maior produtora mundial de chips, quase monopolista, é fundamental para a criação de ferramentas de IA. Seguem-se a Microsoft, Meta, Amazon e Google, que estão a investir fortemente em capacidade produtiva nos seus datacenters, o que arrastou outras indústrias. "Isso teve um impacto significativo na resiliência do crescimento económico nos Estados Unidos ao longo dos últimos trimestres", sublinhou Pedro Baldaia.
O espectro de uma queda
Na sua análise, entraram ainda dois grandes utilizadores. O principal, a Apple, com o iPhone, estava estagnado há cinco ou seis anos em termos de volumes de vendas globais. De repente, a sua cotação subiu, impulsionada pela esperança de que ocorra um ciclo de renovação de telemóveis devido às ferramentas de inteligência artificial integradas nos dispositivos. Por sua vez, a Tesla "é mais uma questão de sonho, pois alegadamente apresentará uma série de produtos relacionados com a temática da IA num futuro próximo", concluiu Pedro Baldaia.
Head of Equities do Banco Carregosa
Este analista do Banco Carregosa considera que "a IA pode ser uma rampa de lançamento para o aumento da produtividade da economia e para um melhor desempenho destas ações". No entanto, adverte que há o risco de, dentro de 18 a 24 meses, a Microsoft ou a Amazon justificarem a redução do seu investimento em IA, com o argumento de que "as pessoas estão a utilizar ferramentas de IA, mas não na magnitude que se estimava". Para Pedro Baldaia, "se isso acontecesse e fosse comunicado ao mercado, essas sete empresas e outras mais seriam impactadas."