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"As empresas têm de cumprir dois objetivos que é pagar impostos e crescer e investir, mas muitas vezes não o conseguem fazer. Se uma empresa que gera 200 milhões de cash-flow tem de fazer 150 milhões de dividendos, porque as famílias, os core-investors, os investidores que controlam a empresa assim o querem, fica com 50 a 100 milhões de euros para se digitalizar, para inovar os portefólios de produtos e serviços, o que é difícil", afirmou António Seladas, diretor da AS Independent Research.
Considera que as equipas de gestão vivem num dilema pois são muito pressionadas para pagar dividendos e para investir e manter o nível de competitividade exigido pelas outras empresas. Noutros mercados, fora de Portugal, "há uma atitude relativamente à natureza do ativo no sentido em que a empresa terá de pagar menos dividendos e reinvestir, capitalizar e crescer. É difícil para as equipas de gestão investir, manter níveis de investimento relativamente elevados e, em simultâneo, pagar dividendos elevados. Menos IRC e uma tributação mais elevada ou mais dura nos dividendos poderia resolver o problema", sugeriu António Seladas.
Transitória ou permanente
"A questão da inflação é um tema fundamental, porque se não for transitória e for permanente os bancos centrais vão ter de ser reativos, uma vez que não foram proativos, e nesse caso vão ter de pôr as taxas de juro a níveis mais altos, o que pode provocar uma recessão imediata e os resultados das empresas colapsam 21 ou 22 vezes. Uma coisa é colapsar quando se está a transacionar a 14, 15 vezes, é isto que está em cima da mesa dos mercados", afirmou António Seladas.
Por isso se deve ter cuidado no mercado de ações por causa dos múltiplos com que se transacionam e num contexto de eventual espiral inflacionista. Nos Estados Unidos, a inflação está nos 4% e as taxas de juro em 1,6% e quando se coloca isto nos modelos eles aconselham a compra de ações.
Mas António Seladas acha "quase impossível que nos próximos tempos os mercados tenham retornos positivos". Lembra no entanto, que "há um ano também se dizia que os mercados teriam retornos entre 0% e 5% e hoje atingem os 21% a 22% porque o mercado de ações em 2021 na Europa e nos Estados Unidos surpreendeu pelo crescimento de resultados. Esperava-se para o S&P uma subida de resultados de 21 a 23, era uma previsão elevada mas beneficiava da base de 2020, ano da pandemia, mas o valor vai andar nos 43 a 44. Mas, em 2021, sem inflação está-se com um múltiplo de 21 e com um crescimento previsto de resultados de empresas de 8 a 9%. O PEG (price/earnings-to-growth) de 2 a 3 vezes é muito alto para uma média histórica entre 1,3 e 1,5", esclareceu António Seladas.