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A dívida líquida sobre o EBITDA ainda estava em 8 vezes e vinha de valores da ordem de 20 e 16 vezes, e os juros sobre o EBITDA ainda rondavam os 30% mas vinham dos 60% e até 90% nos anos anteriores. "São valores que reflectem a média do sector e não se referem felizmente ao Grupo Pestana, Memmo Hotéis ou Hotel Ritz" ressalvou Carlos Álvares.
Dinheiro para reabilitação
"O Instrumento Financeiro para a Reabilitação e Revitalização Urbanas (IFRRU) vai ser o novo Jessica. Mas enquanto este teve cerca de 200 milhões de euros, o novo instrumento terá valores da ordem dos 2.000 milhões para a reabilitação de edifícios" referiu Carlos Álvares. O que se alia, como salientou Bernardo Corrêa de Barros, vice-presidente da Associação de Turismo de Cascais, "com o que as câmaras definiram como as ARU (Área de Reabilitação Urbana), que tornam os licenciamentos mais ágeis sobretudo para o alojamento local, que ainda tem muito para crescer, e o acesso a estes financiamentos mais fácil".
Os números médios do sector ainda revelam sinais dos tempos difíceis que o turismo viveu a partir de 2011, quando "os fundos de reestruturação ficaram com os activos de vários grupos hoteleiros, que estavam muito alavancados e quebraram por causa da escassez de dinheiro e subida das taxas de juro" como recordou Carlos Álvares.
O responsável pelo Banco Popular em Portugal salientou que hoje os projectos que surgem na área do turismo são estruturados, "têm cabeça, tronco e membros". José Theotónio, CEO do Grupo Pestana e que foi CFO entre 2000 e 2015, relembrou que até 2011 "bastava mandar uma folha de Excel, agora já se tem que discutir o projecto e o percurso da empresa". Acabou-se a fase das loucuras em que se queria empurrar dinheiro para dentro das empresas. "Houve empresas na altura que, com capitais na ordem dos dois milhões, três milhões de euros, levantaram 1,2 mil milhões de euros. Havia muita liquidez, taxas de juro baixas, dinheiro muito barato, e como eram sobretudo créditos com base em activos, era tentador levantar o dinheiro. Era época de se pôr o crédito a funcionar como forma de fazer as estruturas do banco funcionar" concluiu José Theotónio.
"Hoje existe a exigência de capitais próprios adequados" referiu Carlos Álvares. O Banco Popular não entra em projectos na hotelaria em que não seja numa base de 50% de capitais próprios e 50% de capitais alheios, proporção considerada razoável pois são operações de prazos dilatados".
A boa onda e o risco
"Portugal tem uma vocação natural para o turismo, mas há dez anos, quando fazia viagens de vendas nos Estados Unidos para o hotel em Lisboa, era difícil colocar Portugal no mapa, éramos o patinho feio. De há dois anos para cá quando vamos às feiras de turismo, porque trabalhamos muito o mercado de incentivos nos Estados Unidos, que é o nosso principal mercado, o Ritz de Lisboa é, dentro da Four Seasons, o hotel com mais marcações e estamos a comparar-nos com destinos como Bora Bora, Maldivas" diz Guilherme Costa, director-geral do Ritz. O ambiente está muito favorável para o turismo em Portugal.
Vive-se o momento de um efeito composto e quanto mais investimento se fizer melhor porque agora não se pode deixar de investir. "Neste momento cada passo que se dá vale por dois. Temos de fazer com que Portugal não deixe de estar na moda, que ao longo dos próximos anos tenha de forma sustentada mais turistas" acentua Guilherme Costa.
"Estamos num momento único e não podemos perder esta onda, usando uma imagem do surf" diz Rodrigo Machaz. Mas o director-geral do Memmo Hotéis tem "uma relação um pouco esquizofrénica com o turismo. Por um lado acho que é um gerador de riqueza e é a vocação natural do nosso país. Temos clima e autenticidade, uma oferta única e diferenciadora para oferecer à Europa e a quem viaja. O outro lado é que o turismo pode matar e destruir os destinos, a autenticidade de forma irreversível".