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Grupos de turismo nacionais ainda são demasiado pequenos

A dimensão e a escala são hoje importantes sobretudo para fazer face a investimentos na distribuição. Mas a consolidação no sector deve passar mais pela gestão de hotéis.

02 de Maio de 2017 às 12:03
Inês Lourenço
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Um dos problemas da indústria turística é a sua fragmentação, com cerca de 7 mil empresas. O maior grupo português, o Grupo Pestana, tem uma quota de mercado de 5%. Para José Theotónio, o seu CEO, "se não quisermos ser um produto customizado, que pode ser facilmente substituído, tem de se conseguir ter uma relação com o cliente final. Para isso tem de se trabalhar a marca, a distribuição, os sistemas, a customização e a fidelização de clientes para ter uma base que depois nos assegure alguma independência". Para isso, os grupos deviam ter uma maior dimensão para fazer face aos investimentos exigidos pela distribuição seja em sistemas, seja em centros de competência "que se não houver escala muito dificilmente se rentabilizam", afirmou no think tank "Turismo em Portugal: Os 5 trunfos para a Excelência", promovido pelo Jornal de Negócios e o BancoPopular.

Se o Grupo Pestana não tivesse ganho dimensão através da internacionalização, estes investimentos que estamos a fazer na parte de sistemas e de novos centros de competências não seriam possíveis. José Theotónio
CEO do Grupo Pestana

O negócio tornou-se complexo nos canais de venda e trouxe mais custos de distribuição. "É verdade que os preços têm subido em Lisboa, e que uma forma geral os destinos portugueses como o Porto, o Algarve, a Madeira, têm mais visibilidade. Mas os custos de distribuição têm subido muito, o que faz com que as margens que ficam nas unidades hoteleiras não tenha uma relação directa com evolução do turismo", diz José Theotónio.

Em Espanha, que é forte em termos turísticos, existem duas dezenas de grupos já com escala e dimensão global que conseguem fazer este tipo de investimentos que são necessários e que em Portugal são feitos com alguma dificuldade. "Se o Grupo Pestana não tivesse ganho dimensão através da internacionalização, estes investimentos que estamos a fazer na parte de sistemas e de novos centros de competências não seriam possíveis" diz José Theotónio.

Propriedade vs gestão

A consolidação só é possível com a separação entre propriedade e gestão hoteleira devido à escassez de capital. Quando se faz um hotel tem um "pay-back" que não se faz em dois anos, tem um período de recuperação do investimento. Também não é possível comprar activos, tanto mais que hoje o sistema financeiro é mais cauteloso e exigente.

Para José Theotónio a oportunidade de fazer a consolidação através da separação entre propriedade e gestão hoteleira surgiu em 2012 com os fundos de reestruturação, "que fizeram um muito bom trabalho porque muitas unidades estavam inacabadas ou ainda não estavam a funcionar e hoje estão abertas". No entanto, os fundos preferiram criar estruturas próprias para explorar os hotéis e perdeu-se a oportunidade. Em Espanha, pelo contrário, o sistema financeiro criou fundos que ficaram com os activos que as cadeias hoteleiras continuaram a desenvolver. José Theotónio referiu que o facto de o Grupo Pestana ser proprietário de muitos hotéis que gere explica que tenham 84 hotéis e não 300.

"O modelo que funciona melhor é a separação imobiliária e a gestão hoteleira" refere Rodrigo Machaz, director-geral da Memmo Hotéis. "O turismo exige investimento constante mas o negócio hoteleiro tem uma vantagem pois pode pagar uma 'yield' boa durante muitos anos e com alguma segurança desde que seja gerido por pessoas competentes", acrescenta.

Como o Ritz subiu os preços

"Como é que últimos dois anos demos o pulo de gato? Depois dos atentados de Nice, Paris, Istambul, o Ritz de Lisboa recebe clientes que estavam habituados a estes destinos em que se cobra mil ou 1500 euros por um quarto. Hoje temos clientes do George V, que também é Four Seasons, que estavam habituados a pagar 1500 euros e agora pagam 600 ou 700 em Lisboa num hotel em que o serviço é igual. Foi uma oportunidade para aproximar os preços aos dos nossos pares. Claro que como a maré é alta todos os barcos sobem" explica Guilherme Costa, director-geral do Ritz.