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Fintech: há ideias, dinheiro e apoio dos reguladores

Portugal está mais vocacionado para enablers por causa do tamanho do mercado mas a sua pequena dimensão pode ser óptima para testes e provas de conceito. Mas o foco deve ser global porque o mercado internacional oferecer mais oportunidades e capital.

19 de Setembro de 2018 às 14:30
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O número de fintech cresce em todo o mundo, estimando-se em mais de 12 mil, números de 2017. Em termos de investimento global ascendeu a 53 mil milhões de dólares no primeiro semestre de 2018, contra 25 mil milhões de dólares em 2017, segundo o Pulse of Fintech da KPMG.

 

Em Portugal, existem projectos variados como Seedrs, Raize, James Finance, Ifthenpay, LOQR, Switch Payments, UTrust, entre mais de 40 fintech. Mas, como refere Pedro Pinto Coelho, presidente da AFIP (Associação FinTech e InsurTech Portugal), "o ecossistema de fintechs em Portugal é bastante reduzido quando comparado com outros países. É um mercado pequeno com pouco investimento e com excessiva regulamentação". Acrescenta que "as fintechs portuguesas com mais sucesso foram as que se focaram no mercado internacional e que tendencialmente deslocaram a sua sede para fora de Portugal, para países onde é mais fácil captar capital".

 

Um dos casos apontados é o quase unicórnio Feedzai, que está próxima de atingir o milhão de dólares de valorização, como sublinha João Menano. O CEO da James refere que no ecossistema de fintech em Portugal "há ideias, há já boas empresas, e há algum capital, sobretudo seed capital (capital para começar e provar o conceito). Estou também bem impressionado com a iniciativa do regulador em promover a literacia sobre as inovações na área financeira".

 

Falta apenas que haja "alguns casos de sucesso (exits) que provem o valor dos fundadores portugueses", para que esta seja "uma geração de sucesso" e tenha "um impacto muito positivo para as gerações futuras, emprestando não só credibilidade à comunidade portuguesa na área financeira mas também contribuindo com muito know-how que irá ajudar as gerações futuras a cometer menos erros e por isso crescer mais rápido e serem mais globais", concluiu João Menano.

 

O mercado português

 

Na opinião de Pedro Pinto Coelho, "o mercado doméstico é um mercado demasiado pequeno, demasiado regulado, com PIB /capita baixo, baixa taxa de crescimento económico e com uma população envelhecida e avessa à mudança". O também CEO do BNI Europa, considera, no entanto, que é "uma boa base para criação de "hubs tecnológicos" que fornecem know-how a nível internacional. É um mercado muito interessante para exportação de engenheiros e profissionais qualificados".

 

No pólo oposto está Maria António Saldanha da SIBS que considera Portugal um mercado para testes de inovação de fintechs "porque temos uma cultura muito tecnológica, muitos consumidores early adopters e somos um país de escala pequena, ou seja, óptima para pilotos e provas de conceito. Além disso, podemos ser um degrau para salto para outras geografias que tenham, por exemplo, raízes próximas da Portuguesa, como os PALOP". Dá como exemplos a plataforma de Open Banking API, de Instant Payments e o próprio MB WAY, a primeira solução de Instant Payments da zona Euro.

 

"O mercado português é receptivo e tem interesse em experimentar coisas novas", sublinha Afonso Eça, um dos fundadores e accionistas da Raize. Adverte ainda que, em termos de globalização, há vários mundos nas fintech. Por exemplo, as fintech que estão no B2B têm mais facilidade em internacionalizar do que as que se dirigem ao consumidor final, em que a regulação pode torna a globalização mais complexa.

O ponto intermédio é ocupado por João Menano, CEO da James, uma fintech, que considera que "o mercado português está mais vocacionado para enablers por causa do tamanho do mercado em si", mas adianta que o "Portugal também pode ser visto como um tubo de ensaio para voos mais altos noutros mercados. Vai depender do tipo de inovação e das barreiras regulatórias de cada tipo de negócio".

 

Duas experiências

 

Uma das formas de incorporar a inovação da fintech no processo passa por experiências como o SIB Payforward ou o recente o Portugal FinLab, que junta o Banco de Portugal, CMVM, ASF com a Portugal FinLab - where regulation meets innovation. Esta iniciativa é uma plataforma de contacto entre empresas inovadoras nas áreas financeiras e os reguladores nacionais. A primeira fase das candidaturas arranca a 10 de Setembro e termina a 7 de Outubro, sendo os resultados conhecidos até 21 de Janeiro de 2019. A segunda fase começa a 5 de Novembro e termina a 3 de Dezembro, sendo os resultados divulgados até 18 de Fevereiro.

 

Na primeira edição da SIBS Payforward receberam mais de uma centena de candidaturas de 31 países, 85% das quais internacionais. As quatro startups seleccionadas eram da área dos pagamentos (duas), uma da área de finanças pessoais e gestão de contas bancárias e outra ligada ao comportamento do cliente.

 

Na segunda edição concorreram mais de 100 startups de 20 países. Foram seleccionadas três que estão em fase de teste das suas soluções com a plataforma de Open Banking API em desenvolvimento pela SIBS para o ecossistema nacional. Estabeleceu ainda modelos de colaboração com outras quatro startups, relacionadas com a nova directiva dos pagamentos (PSD2).