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Filipa Mota e Costa: "Nem toda a inovação se traduz num aumento de despesa para o SNS"

É necessário de um modelo que diferencie a inovação, sobretudo no seu valor para o doente e para o país. Essa é a razão da necessidade de um modelo de financiamento assente em resultados, defende Filipa Mota e Costa.

29 de Novembro de 2018 às 14:30
Filipa Mota e Costa, directora-geral da Janssen Portugal, farmacêutica que integra a Johnson & Johnson
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"Dizemos na Janssen que "os doentes estão à espera" e o que nos move todos os dias é o reduzir/acabar com essa espera", diz Filipa Mota e Costa, directora-geral da Janssen Portugal, farmacêutica que integra a Johnson & Johnson. Por isso a terceira conferência Investir em Saúde se intitula "Financiar anos de vida", "que visa reflectir sobre uma das vias para assegurar esse acesso: um modelo de financiamento assente em resultados e em valor para o doente, em vez do volume de actos médicos ou camas ocupadas".

Quais são os custos no atraso da adopção de medicamentos inovadores e tecnologias inovadoras?
Os custos, tanto directos como indirectos, para a nossa sociedade são enormes. Em primeiro lugar, para o doente, que não tem acesso às melhores e mais recentes soluções terapêuticas; depois para os Profissionais de Saúde que não ganham experiência com as melhores terapêuticas existentes.

O acesso dos doentes em Portugal às terapêuticas mais inovadoras deveria ser equitativo.


O acesso dos doentes em Portugal às terapêuticas mais inovadoras deveria ser equitativo. Não podemos ter desigualdades de acesso tão pronunciadas, seja entre Portugal e outros países Europeus, seja a nível nacional, entre diferentes hospitais, muito menos pela morosidade na aprovação.

Além disto, este atraso leva a que alguns ensaios clínicos não se realizem em Portugal, porque o "standard de tratamento" em Portugal está desactualizado. Neste caso os custos são para todos: doentes, profissionais de saúde, hospitais, SNS e sociedade.

Apesar das recentes evoluções com o SiNATS terem introduzido melhorias no acesso à inovação, Portugal tem ainda um processo complexo, longo e pouco transparente. Há ainda vários mecanismos de controlo e limitação da despesa, pelo que não há justificação para o atraso da aprovação da inovação em Portugal.

A inovação tem um peso cada vez maior no orçamento da Saúde. O sistema de avaliação faz a recolha da evidência que permita compreender se os resultados obtidos foram os que eram esperados?
Nem toda a inovação se traduz num aumento de despesa para o SNS. Quando a inovação é considerada apenas como "incremental", implica poupança de custos directos para o sistema. Apenas a inovação considerada "transformacional" pode significar maiores custos, mas ainda assim o preço é estabelecido por uma análise de custo efectividade e o consumo é sujeito a mecanismos de controlo e limitação de encargos para o SNS. Precisamos de um modelo capaz de diferenciar melhor a inovação, sobretudo no seu valor para o doente e para o país. Essa é a razão da necessidade de um modelo de financiamento assente em resultados.

Seja para financiar os prestadores com base em resultados, seja para renegociar preço de medicamentos, são necessários mais e melhores registos nacionais com a evidência dos resultados obtidos. Há que definir os indicadores de resultados e ter quem os analise e publique para que seja a evidência a diferenciar a inovação em vez de preconceitos financeiros. Alguns hospitais em Portugal já o fazem em algumas áreas terapêuticas, o que demonstra que é possível.

Quais as vantagens de um modelo de saúde baseados em resultados?
Quando falamos em resultados em saúde, falamos em valor para o doente, o que o doente privilegia como importante alcançar após determinado tratamento, e em valor para o sistema de saúde, como atingir a excelência enquanto se poupa, o que se traduz em qualidade.

Para que modelo de cuidados de saúde baseado em resultados para o doente funcione é preciso medir. É preciso passar para uma lógica de avaliação e incentivo para os prestadores que apresentam melhores resultados, o que gerará um aumento da adopção da inovação que verdadeiramente aporte valor.

Este é o passo fundamental: definir o que são resultados em saúde relevantes para a sociedade e para o indivíduo. Depois é preciso medir o resultado e ir registando e adaptando os procedimentos em função daquilo que mais beneficia os doentes.