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Aos 23 anos, o pai de Fernando Amaral faleceu. Um ano depois, foi diagnosticado com um cancro maligno no pulmão, o que o levou a fazer tratamentos de quimioterapia e radioterapia durante um ano no Instituto Português de Oncologia. "É um momento que me marca muito, quer como profissional, quer como pessoa", disse Fernando Amaral, de 55 anos, chairman do Sendys Group e CEO da Sendys. Ele é o convidado das Conversas de Inspiração, integradas no Prémio Portugal Inspirador, uma iniciativa do Negócios, Correio da Manhã e CMTV, com o apoio do Banco Santander e dos knowledge partners Informa DB, Accenture e Nova SBE.
Aos 30 anos, sofreu um enfarte. Dessas doenças graves, ficou-lhe uma forma diferente de ver o mundo. "Costumo dizer que vivo a vida ao contrário. Toda a gente fala muito sobre o que lhe falta na vida, mas eu vejo cada dia como um dia de bónus. Quando acordo de manhã, digo para mim mesmo: estou bem, estou vivo; cada dia é um dia novo. Nunca olho para o que me falta, mas sim para o que ganhei em relação ao que aconteceu no passado", afirma Fernando Amaral.
A sua vida começou em Cernache do Bonjardim, onde frequentou um curso de informática do Fundo Social Europeu, sem nunca ter visto um computador. "Éramos trinta e tal pessoas a frequentar o curso; fui um dos três melhores e descobri a minha vocação", recorda. Era o mais velho de três irmãos e começou a trabalhar muito cedo na mercearia do pai, que também era mediador de seguros.
Direito e dinheiro
Veio para Lisboa para estudar Direito e foi convidado para ser monitor de informática no Fundo Social Europeu. Naquela altura, ganhava 35 euros à hora como monitor. "Ganhava mais como monitor de informática do que os professores que me davam aulas à noite", recorda Fernando Amaral. Mais tarde, entrou para a Prológica, então a maior empresa de informática em Portugal, e nunca chegou a concluir o curso de Direito.
Começou a trabalhar no helpdesk, prestando assistência, e depois passou a fazer demonstrações como comercial. "Foi então que descobri uma coisa importante, que também tinha a ver com a minha vocação: ganhar dinheiro, independentemente do que fizesse." Na área comercial, era comum serem melhor recompensados do que os que faziam assistência ou programação. Por isso, deixou a área técnica para se dedicar à comercial, o que causou surpresa entre os colegas. Naquela época a programação e a informática eram vistas como áreas muito nobres e diferentes.
Considera que ter vindo para Lisboa para viver sozinho, longe dos pais e dos irmãos, num quarto interior sem janelas no Intendente, foi talvez um dos maiores desafios que teve. Outros desafios foram trabalhar com tecnologia, "porque há mudanças todos os dias e nunca nos podemos acomodar".
Outro momento importante foi em 2009, quando a Sendys, que nascera como software house em 1984, foi vendida pela Capgemini Portugal aos seus quadros. Com esta aquisição, o negócio passou para as suas mãos, e ele deixou de ser empregado por conta de outrem para se tornar empresário.
As influências e a inspiração
O processo de internacionalização das marcas também teve um impacto significativo na sua vida. Atualmente, lidera um grupo de oito empresas — sete tecnológicas e uma de marketing e publicidade. Em 2023, o Sendys Group registou um volume de negócios de 9,8 milhões de euros, distribuídos por Portugal (5,5 milhões), Angola (2,1 milhões), Moçambique (0,9 milhões) e outros mercados (0,6 milhões).
Na sua opinião, na área de serviços, os recursos humanos têm uma importância enorme. "Não temos stocks, não temos material. Vivemos das pessoas com quem trabalhamos todos os dias e dos clientes. Mas enfrentamos um problema difícil de gerir: as pessoas querem ganhar cada vez mais, o que é justo, enquanto os clientes querem pagar cada vez menos. Viver neste mundo, hoje em dia, é um desafio, e possivelmente o maior é lidar com as pessoas", salienta Fernando Amaral.
As pessoas que mais o marcaram foram o pai e José Morais, que foi seu chefe durante muitos anos na Capgemini e na Prológica. "Costumo dizer que 80% daquilo que sou foi o meu pai que ajudou a formar; 15% foi José Morais, o meu pai tecnológico; e os restantes 5% são as pessoas que conheci."
Hoje, a sua grande inspiração é uma freira que conheceu em Maputo, onde gere uma casa que acolhe crianças de todo o país, operadas no Instituto do Coração (ICOR), um hospital de uma ONG em Moçambique, por médicos que realizam cirurgias pro bono. Após a recuperação, as crianças regressam às suas terras. "Esta freira é uma pessoa que me inspira. Porque, quando achamos que a nossa vida é muito difícil, basta olhar para outras realidades para perceber que a nossa vida é, afinal, bem fácil", explica Fernando Amaral.