Outros sites Medialivre
Notícia

Faltam indicadores para fazer escolhas

Dois surveys feitos a profissionais de saúde e ao público revelam que os primeiros querem um novo modelo de financiamento e os segundos consideram que o SNS precisa de investimento.

28 de Dezembro de 2018 às 14:45
Maria do Céu Machado, presidente do Infarmed, fez o comentário final. Inês Gomes Lourenço
  • Partilhar artigo
  • ...

No survey público dirigido ao universo de leitores do Grupo Cofina, 89% dos inquiridos considerou que o Serviço Nacional de Saúde carece de reforço orçamental e 93,4% vê problemas de eficiência nos cuidados de saúde.

Interrogados sobre a liberdade de escolha do hospital sem estar limitado à área de residência, 63,4% conheciam essa opção, contra 34,6% que desconheciam. A escolha do médico ou hospital para os seus cuidados de saúde é feita em 34,1% dos casos por aconselhamento de outros profissionais de saúde, 30% por proximidade geográfica, 19,5% por aconselhamento familiar ou de conhecidos, 8,9% por informação técnica e científica ou disponibilizada pelo SNS.

Para Alexandre Lourenço, "os doentes têm pouca informação para escolher um hospital". Aduziu, ainda, que "não existem dados suficientes para que o doente possa escolher com base em qualidade ou em resultados. Hoje os indicadores são tempo de acesso e a escolha de hospital baseada neste critério será feita sobretudo nos dois grandes meios urbanos, Lisboa e Porto".

Liberdade sem dinheiro

Maria do Céu Machado, presidente do Infarmed, colocou o problema de a política da liberdade de escolha do hospital não ter sido acompanhada por alterações na forma de financiamento dos hospitais.

Cerca de 61% sabe identificar o melhor hospital para cuidados de saúde mais especializados e obtém essa informação por aconselhamento de outros profissionais (39,8%), aconselhamento familiar ou de conhecidos (18,6%) e informação técnica e científica ou disponibilizada pelo SNS (15,4%).

"A relação médico-doente é um valor acima da partilha de informação", sublinhou Alexandre Lourenço, que deu exemplo de Bill Clinton que, quando era presidente, escolheu, para uma operação cardíaca, o hospital em que tinha o seu médico de confiança e não hospital de referência nessa especialidade. Maria do Céu Machado deu o exemplo dos cheques-cirurgia em 2011/2012, em que 30% não foram utilizados porque os utentes preferiram esperar pelo médico ou pelo hospital em que estavam a ser seguidos.

Profissionais de saúde querem novo modelo de financiamento

No survey online realizado aos profissionais de saúde ficou clara a necessidade de um novo modelo de cuidados de saúde. O modelo de financiamento baseado em critérios de volume foi considerado injusto por 82,4%, e 94,1% consideraram que é necessário um novo modelo de financiamento e que deveria ser baseado em resultados e valor para o doente, pois 94,1% acha que representaria ganhos para o SNS.

Sobre o principal desafio na adopção de um modelo baseado em resultados 41,2% optaram pela tecnologia de informação interoperável e harmonizada, 35,3% votaram pela vontade política, enquanto 11,7% referiram a definição de critérios (standard sets) e 5,8% a autonomia hospitalar.

Nos factores decisivos para uma melhor assistência em saúde, a opinião distribuiu-se de uma forma semelhante: autonomia hospitalar (25%), integração de cuidados (25%), especialização hospitalar (25%) e modelo de Financiamento (25%).