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Dívida pública pesa mas é gerível

A dimensão dos pacotes de apoio na crise epidémica global teve mais a ver com dívida pública do que com a severidade da doença.

22 de Abril de 2020 às 14:00
Ricardo Reis, professor da London School of Economics
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"Nas emergências, como a atual, o apoio estatal é essencial e necessário. Como este apoio não é europeu mas nacional, surge um conflito entre apoio e concorrência sã entre empresas europeias", disse Ricardo Reis, professor da London School of Economics (LSE), na webconferência Liderança à Prova, promovida pelo Jornal de Negócios com o apoio da GoContact.

"Alguns países que tinham folga fiscal puderam apoiar mais as suas empresas do que outros. Isto cria uma desvantagem competitiva para as empresas portuguesas que tiveram menos apoio que as empresas alemãs", o que no fundo viola o que era o level playing field.

"Há uma palavra proibida em Portugal, que é a austeridade", sublinhou Ricardo Reis. Mas salientou que num momento em que houve necessidade de fazer gastos públicos, os países que puderam abrir os cordões à bolsa e apoiar a sua economia no último mês "foram os que não acumularam dívida nos últimos 10, 20, 30, 50 anos".

Ricardo Reis referiu que quando se compara a severidade da doença e os pacotes fiscais aplicados pelos Estados, "descobrimos que o pacote fiscal da intervenção dos países foi determinado muito mais tamanho da dívida pública do que pela severidade da doença". Concluiu que, "quando se discutir que o défice e a dívida pública não interessam, o que interessa são as pessoas, vamos lembrar-nos de que quem poupou tem mais capacidade de acudir nas emergências".

Mais dívida pública

A dívida pública vai subir muito mas isso não implica austeridade, é o que têm dito António Costa e Pedro Siza Vieira. Para Ricardo Reis, a "austeridade não é de todo certa", mas para isso é necessário que se cumpram alguns aspetos. Portugal tinha este ano uma dívida pública de cerca de 118% do PIB, a economia, segundo o FMI, vai cair 8%, as despesas públicas para acorrer à crise foram cerca de 3%, o que soma 129%. "Vamos chegar ao fim do ano com o rácio de dívida no PIB de 130%. O pico da dívida pública em Portugal foi em 2014 com 132%. A dívida pública vai subir muito e vai ter de ser gerida, é inevitável, não vai ser culpa do Governo, do Ministério das Finanças", sublinhou Ricardo Reis.

O peso dos juros deste montante da dívida pública no orçamento não me assusta.  Ricardo reis
Professor da London School of Economics


Mas há uma grande diferença em relação a 2010. "Este choque atual foi simétrico no sentido em que a dívida pública na Alemanha, na Dinamarca não vai subir só 5% mas 20 ou 30%. Como tal, o BCE, assim como as autoridades financeira europeias vão fazer o que sempre se faz quando se tem de gerir uma grande dívida que é manter as as taxas de juro baixas. Ao nível da Zona Euro vai ser gerível esta dívida porque não vamos pagar 4 ou 5% como pagávamos em 2013, mas 0,5%, 1%", prevê Ricardo Reis.

"O peso dos juros deste montante da dívida pública do orçamento não me assusta. São geríveis e a austeridade não é inevitável", admite Ricardo Reis. A condição é que Portugal beneficie das taxas de juro baixas da Alemanha ou de França, porque a partir do momento em que, por qualquer razão, haja fragmentação dos mercados financeiros e "as taxas de juro descolarem do que é a média no Centro da Europa, teremos um colapso e uma austeridade como tivemos em 2011", alertou Ricardo Reis.