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A blockchain é a tecnologia que está na base da moeda virtual bitcoin, criada em 2008 por Satoshi Nakamoto. Mas, embora suporte a negociação da bitcoin, a blockchain vai muito além da criptomoeda. Na conferência Business Disruption with Blockchain, organizada pelo Negócios, em colaboração com a EDP e a Everis, que decorreu em Lisboa recentemente, vários especialistas abordaram as indiscutíveis potencialidades desta tecnologia, mas também os seus problemas.
Além dos desafios tecnológicos, para garantir que os dados são invioláveis, é preciso também criar uma regulação à medida desta nova realidade. Afonso Silva, vogal da CMVM, argumenta que esta tecnologia irá permitir aos reguladores ter conhecimento das transacções com os intermediários "de forma quase imediata". Para o especialista, esta "é uma ferramenta que acaba por afectar a actividade de todas as entidades", lembrando que agora o "modelo de supervisão é baseado em reportes periódicos".
Perante uma nova realidade que promete eliminar barreiras e facilitar operações, Afonso Silva alerta que é preciso repensar todo o modelo, percebendo, por exemplo, quem são as contrapartes, como são garantidas as transacções, ou quem protege os dados. Mas preparar legislação sobre algo que ainda está em desenvolvimento não é fácil. "Não se pode regular bem o que não se conhece", remata. Já Carlos Moura, do Banco de Portugal, lembra que no caso das criptomoedas não existe protecção de valor e é preciso "estudar a tecnologia para perceber as limitações".
"O supervisor o que tenta proteger é a confiança", acrescenta Carlos Moura, reiterando que só depois de haver factos concretos sobre o lançamento de plataformas de blockchain é que o Banco de Portugal poderá dar recomendações técnicas para sistemas de pagamentos. Portanto, o fundamental é estar atento, ainda que admita que "precisamos de novas competências para enfrentar estes desafios". O mesmo responsável argumenta que "vamos caminhar para uma moeda central digital no Eurosistema" e destaca que os pagamentos são uma das áreas onde a blockchain pode ter grande impacto. O mesmo acontece com a partilha de informação, por exemplo, na central de responsabilidade de crédito.
Para Miguel Teixeira, CEO da Everis Portugal, "estamos na fase em que há alguma coisa que percebemos disruptiva", que desperta um misto de respeito e curiosidade. Para o especialista, o desafio agora é testar o que se pode fazer com a blockchain. E, segundo Miguel Teixeira, no Reino Unido está a decorrer já um projecto piloto com trabalhadores do Santander no país para realizar transferências através de uma plataforma de blockchain.
Na opinião de Paulo Figueiredo, com "a blockchain deixamos de transportar a confiança numa pessoas e colocamo-la num algoritmo". Mas a mudança vai bem além. O administrador do BiG destaca que a blockchain forçará adaptações e vai obrigar os bancos a redefinirem qual o seu papel.
Nos seguros, o impacto no modelo de negócio também será grande. "Esta tecnologia implica uma mudança enorme de paradigma. Há uma redução da intermediação que não tem valor", refere Rogério Campos Henriques, administrador da Fidelidade. Mas, se a blockchain traz possibilidades, sobretudo em medir o perfil de risco, também traz desafios. "Vai ser preciso um consenso entre concorrentes, 'players' e reguladores", remata.
Afinal, o que é a blockchain?
A blockchain é a tecnologia que está por trás da criação da bitcoin. Contudo, apresenta um potencial muito maior. Esta tecnologia permite fazer o registo de informação numa plataforma digital de forma encriptada, impedindo a sua cópia ou alteração. A informação fica disponível nesta plataforma, podendo ser acedida em simultâneo, validada e consultada a qualquer momento, pelos vários membros da cadeia. A blockchain promete assim ter grande impacto no sistema financeiro, onde as transacções financeiras poderão ser realizadas em "tempo real" e sem intermediários e necessidade de confirmação de informação junto de várias entidades. Para os reguladores, o acesso também é facilitado.