Outros sites Medialivre
Notícia

António Nogueira Leite: “O mar é o nosso grande recurso distintivo”

A cerimónia de entrega dos Prémios Mar Sustentável juntou várias vozes que defenderam a urgência de fazer do oceano o novo centro de prosperidade económica de Portugal.

02 de Março de 2023 às 14:00
António Nogueira Leite, presidente do Fórum Oceano Pedro Ferreira
  • Partilhar artigo
  • ...
"Tivemos uma sessão bastante enriquecedora, não só pela justiça nos prémios atribuídos nas diferentes nas diferentes áreas e pela importância que o estímulo tem na continuação das atividades, mas também para um conjunto de mensagens que são extremamente importantes e que foram aqui deixadas por todos os intervenientes", assinalou António Nogueira Leite, presidente do Fórum Oceano, no discurso de encerramento da Cerimónia de Entrega do Prémio Mar Sustentável que se realizou no auditório do Templo da Poesia em Oeiras.

Uma das mensagens foi reafirmada por António Nogueira Leite quando que "temos que tirar vantagens dos nossos recursos e o mar é o nosso grande recurso distintivo. Não vale a pena fazer conferências atrás de conferências para dizer que há imensas riquezas, que somos a nona área marítima e sobre a qual temos alguma jurisdição". A urgência está em ter um plano a longo prazo tenha "decorrências no curto prazo e temos que começar hoje, temos de urgentemente começar a pôr as pedras de um caminho em que sabemos qual é o objetivo final."

A nova agenda oceânica

As intervenções ao longo da cerimónia salientaram a necessidade de premiar e incentivar a inovação e as atividades no oceano. É importante aproveitar a oportunidade que Portugal tem de fazer do oceano o seu grande horizonte estratégico. José Maria Costa, secretário de Estado do Mar, constatou que a iniciativa Mar Sustentável fomenta e premeia "projetos e organizações e personalidades que atuam no âmbito da economia azul, alinhadas com o objetivo da sustentabilidade e tendo em conta os princípios do desempenho ambiental social e da governança empresarial".

Estes são os mesmos princípios e valores da nova agenda oceânica, que tem ganho maior dimensão nos últimos anos abordando as questões nas suas vertentes ambiental, social, económica e geopolítica. Observou que se assiste "a um novo paradigma relacionado com a modernização da relação da Europa com o mar. O território marítimo é o meio propício à prosperidade económica e a um estimável contributo ao avanço científico e tecnológico em benefício de todos os habitantes".

A promoção e a visibilidade da economia azul foram destacadas por Pedro Patacho, vereador da Educação, Desporto, Juventude, Ciência e Inovação da Câmara Municipal de Oeiras. Acentuou a sua importância pelo alinhamento "com os valores da sustentabilidade assente no conhecimento, na tecnologia e na inovação científica e tecnológica e articulando a rentabilidade económica com o alto desempenho ambiental e com responsabilidade social".

Prozac em Portimão

No debate sobra a economia azul, a professora catedrática e diretora do Centro do Investigação Marinha e Ambiental (CIMA) da Universidade do Algarve, Maria João Bebiano, chamou a atenção para a importância da interação Terra-Oceano, que tem sido sujeita a muita contaminação e que pode ser resolvida em terra através de novas tecnologias. Falou da necessidade de as estações de tratamento de efluentes serem mais eficientes. Deu como exemplo a contaminação dos oceanos com grandes quantidades de medicamentos, o que tem impacto na qualidade da alimentação que vem dos oceanos.

"No mar do Algarve temos Prozac do lado de Portimão e, do lado do Guadiana, onde temos uma população mais idosa, os "pain killers". Outro exemplo, é a facilidade com que nós detetamos no oceano de drogas sexta-feira, ou seja, depois das festas na quinta-feira", sublinhou Maria João Bebiano.

"Se olharmos para o oceano é como se fosse um puzzle em que lhe faltam algumas peças para percebermos tudo o que lá está. Por isso nós precisamos de ter tecnologia que permita ler e obter informação em tempo real do oceano em todas as suas dimensões", afirmou Ruben Eiras, secretário-geral do Fórum Oceano. Na sua opinião a digitalização pode ser o novo abre-te sésamo dos oceanos, acrescentando que "sem digitalização não há descarbonização porque é necessário um sistema de informação preciso sobre os processos produtivos se consegue".

Revelou ainda que o Fórum Oceano definiu a estratégia do DDC, que é Digitalizar, Descarbonizar e Circularizar a economia azul. "Comunicamos dentro do cluster e dentro daquilo que são o nosso ecossistema de associados de forma a mudar o sistema de negócios e adotar a digitalização. Será através da digitalização que se conseguirá criar modelos de negócio que descarbonizem, fechem o ciclo produtivo para que se consiga ter lucros que dependam da capacidade de eficiência", concluiu Ruben Eiras.


Vencedores da primeira edição do Prémio Mar Sustentável

Categoria - Ciência e Tecnologia: INESC TEC
O TEC4Sea é uma atividade que se propõe a apoiar o desenvolvimento e a implementação de tecnologias que permitam observar, explorar e operar nas profundezas do mar de forma sustentável, utilizando sistemas autónomos. Da robótica marinha à sensorização avançada, passando pelas comunicações, o INESC TEC tem vindo a desenvolver uma série de soluções que potenciam a monitorização e a exploração sustentável do Mar, em que se inclui o navio "Mar Profundo" para apoio à investigação, teste e validação de tecnologias oceânicas.

Categoria - Inovação e Empreendedorismo: Sun Concept
A empresa de construção naval é especializada no desenvolvimento e fabricação de embarcações eletro solares. A Sun Concept tem o seu estaleiro em Olhão e exporta grande parte da sua produção.

Categoria - Literacia do Oceano: Observatório do Mar e dos Açores
Foi criado em 2002 e tem como objetivos a divulgação da cultura científica e tecnológica e a promoção de atividades de interpretação e educação ambiental, no âmbito das Ciências do Mar. Tem a sua sede na Fábrica da Baleia de Porto Pim, na cidade da Horta, e compete-lhe a salvaguarda, o estudo e a divulgação do Património Baleeiro do Faial e da Região dos Açores.

Prémio Personalidade: António Sarmento
António Sarmento é doutorado em Engenharia Mecânica pelo Instituto Superior Técnico, de que é professor associado aposentado. Está ligado às energias renováveis marinhas há quase quatro décadas. Foi fundador da WavEC em 2003, então como Centro de Energia das Ondas e que, em 2013, passaria a WavEC Offshore Renewables. Foi o seu presidente até 2022, mantendo-se atualmente como assessor da direção.