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Ana Sampaio: “Há atrasos que não se recuperam”

A suspensão dos rastreios e os atrasos dos diagnósticos são anos de retrocesso. Foram feitos estudos que apontam que no cancro da mama atinge-se os 9% na mortalidade, cancro colorretal 15%, cancro do pulmão 6%, cancro do esófago 5%.

28 de Outubro de 2021 às 16:30
A diretora do Negócios, Diana Ramos, conversou com Ana Sampaio, Ana Raimundo e Isabel Magalhães.
A diretora do Negócios, Diana Ramos, conversou com Ana Sampaio, Ana Raimundo e Isabel Magalhães. Mariline Alves
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"Os maiores riscos provocados pela pandemia de covid-19 foram os diagnósticos que ficaram por fazer, tanto no cancro como em outras patologias crónicas. Quando agora forem diagnosticados certamente vão estar numa fase mais adiantada da doença", considerou Ana Sampaio, presidente da APDI - Associação Portuguesa Da Doença Inflamatória do Intestino.

"Em Portugal, houve uma quase paragem dos cuidados primários, por isso vão encontrar doenças mais complicadas com estadias mais prolongadas tanto no cancro como nas outras doenças crónicas. Demorarão mais a recuperar, o que poderá trazer outras penalizações ao doente tanto na saúde como de emprego, atividade produtiva, o acompanhamento social". Sugere que se apressem os exames de diagnóstico para que "se detete o mais cedo possível, porque houve atrasos que nunca serão recuperados".

Ana Raimundo, presidente, SPO - Sociedade Portuguesa de Oncologia, começou por referir o percurso padrão do doente oncológico. "Aparecem os primeiros sintomas, que têm de ser diagnosticados, fazem-se exames auxiliares de diagnóstico, quando é feito o diagnóstico é preciso fazer o estadiamento, que tem de ser analisado e visto de uma forma multidisciplinar, depois é delineada a melhor estratégia terapêutica, que deve ser multidisciplinar e o doente começa o seu tratamento".

Interrupção na cadeia

Qualquer interrupção nesta cadeia, como aconteceu na pandemia de covid-19 com a suspensão dos rastreios, "provoca um aumento do estadiamento, mais metástases, mais dificuldade de tratar, e os doentes já não podem ser tratados com intuito curativo mas passa a ser paliativo, com maiores custos para o doente que passa por tratamentos mais complexos, mais demorados, com maiores custos para a sociedade e com uma maior mortalidade".

Na sua opinião são anos de retrocesso "porque vamos sentir as ondas de impacto da pandemia covid-19 dentro de três, quatro, cinco anos quando olharmos para as curvas de sobrevivência. Verificaremos que vão morrer mais doentes. Foram feitos estudos sobre os atrasos dos diagnósticos. No cancro da mama atinge-se os 9% na mortalidade, cancro colorretal 15%, cancro do pulmão 6%, cancro do esófago 5%".

Por sua vez, Isabel Magalhães, presidente da Pulmonale - Associação Portuguesa de Luta Contra o Cancro do Pulmão, disse que seria importante "aproveitar a janela de mudança" e perceber a ligação da saúde com a economia. A saúde "não é um tema apenas dos doentes e dos profissionais de saúde, mas deve ser um tempo que nos convoca a todos enquanto cidadãos". Adiantou que deveríamos ter "uma ambição grande e que a retoma não deveria ser o regresso ao modelo de tínhamos em 2019, mas seguir em direção a um modelo mais assente na prevenção do que tratamento e em que é possível haver investimento na inovação".

Isabel Magalhães defende que tem de haver uma outra resposta diferente: "Um sistema que funcione de maneira diferente, muito mais articulada, centrada no doente, com uma resposta complementar em que haja um apoio de proximidade, que para algumas patologias terá de ser complementado por centros de excelência. Tudo isto implica um grande trabalho de coordenação que vai muito para além de retomar os números e abrir os centros de saúde. Tem de se pensar de maneira diferente, não é só fazer mais, mas para fazer melhor".