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Amílcar Lourenço: “O país devia definir o que quer para os próximos 10 anos”

“Hoje temos a investir na agricultura em Portugal muitos players com experiência na agricultura, o que traz não só o capital mas também novas pessoas e novos conhecimentos para o setor”, disse Amílcar Lourenço.

24 de Dezembro de 2021 às 14:00
Amílcar Lourenço, administrador do Banco Santander Portugal Mariline Alves
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"Temos uma história de êxito porque, nos últimos anos, de todos os financiamentos que fizemos na agricultura, não me recordo de nenhum em que nos tenhamos arrependido e que não continuemos a apoiar esses mesmos empresários", sublinha Amílcar Lourenço, administrador do Banco Santander Portugal.

Explicou que a banca é confrontada para olhar para projetos e "se estes são bons e têm bons gestores, mercado-alvo, são todos financiáveis". O Santander tem uma experiência muito vasta na análise de projetos, não só na área da agricultura como industrial. "Reconheço que na agricultura nos últimos anos fizemos muita coisa diferente, nova. Há uns anos quando se falava nos investimentos nos olivais pensava-se que só era possível rentabilizar investimentos de 20 mil euros por hectare, não sabíamos se o olival intensivo, ou superintensivo, durava muitos ou poucos anos, não havia informação e tudo isto se foi consolidando. Hoje olhamos para este tipo de investimento com muita naturalidade e em que os principais riscos são conhecidos", afirmou Amílcar Lourenço. Resume que o "que é preciso é que haja projetos de escala, rentáveis, bons gestores, ter acesso aos meios que são necessários como a água".

Plano a 10 anos

"O país devia definir o que quer para os próximos 10 anos, qual é a estratégia, em que produtos é que quer estar, em que áreas e quais são os investimentos necessários em infraestruturas e outros", referiu Amílcar Lourenço, administrador do Banco Santander Portugal. Se a água é um bem essencial que se deve proteger, há também outros desafios, como o dos recursos humanos.

"Hoje, temos 55% das pessoas que trabalham na agricultura com mais de 65 anos, tem de se fazer a transição das gerações e as dificuldades em atrair pessoas para regiões que nos últimos anos perderam população", disse Amílcar Lourenço. Alertou que há também um desafio de gestão porque incorporar na agricultura estas novas tecnologias, a digitalização, a inovação, a ligação às universidades, "obriga a um rejuvenescimento das pessoas".

O país devia definir o que quer para os próximos 10 anos, qual é a estratégia, em que produtos é que quer estar, em que áreas e quais são os investimentos necessários em infraestruturas e outros. Amílcar Lourenço, administrador do Banco Santander Portugal
Neste ponto, Luís Seabra sublinhou que há várias realidades na agricultura portuguesa. "A agricultura empresarial é diferente do restante mapa agrícola de Portugal. Se formos fazer um exercício ao Alqueva, a idade dos agricultores baixa drasticamente porque há muita juventude metida e, por isso, devia-se fazer análises mais setoriais e mais focadas, porque a agricultura moderna de regadio tem números diferentes da realidade estatística de Portugal."

Mais investimento estrangeiro

"A agricultura tem 3,4% do PIB português, representa 12% das exportações e nos últimos anos tem crescido sempre acima da economia portuguesa e, em 2019, no ano em que se iniciou a pandemia de covid-19, foi um dos poucos setores em que as exportações não quebraram, o que mostra muito da sua resiliência", sublinhou Amílcar Lourenço.

Salientou sobretudo a capacidade de a agricultura atrair investimento estrangeiro. "Hoje temos a investir na agricultura em Portugal muitos players com experiência na agricultura, o que traz não só o capital, mas também novas pessoas e novos conhecimentos para o setor", disse Amílcar Lourenço. Estes novos investidores, que se veem em regiões como o regadio do Alqueva, as Beiras e o Douro, por exemplo, são importantes porque costumam olhar para a cadeia de valor e fazer investimentos industriais e na cadeia de distribuição.

Amílcar Lourenço revelou ainda que "nos últimos anos temos vindo a assistir à migração da riqueza gerada dos canais de distribuição para o produtor, o que é bastante saudável porque o produtor é quem faz o maior investimento e quem toma mais risco em todo este processo".