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A mesa redonda "Como Financiar Anos de Vida em Portugal" foi moderada por André Veríssimo e contou com Alexandre Lourenço, Francisco Rocha Gonçalves, Heriberto Jesus, João Oliveira e Daniel Simões.
Todos reconhecemos a necessidade de mudar os sistemas actualmente existentes baseados em volume para um sistema fundado em valor. A grande discussão é como é que o vamos fazer", considerou Alexandre Lourenço, presidente da Associação Portuguesa dos Administradores Hospitalares.
Considerou que é necessário capacitar as organizações do ponto de vista técnico para o implementar. Referiu o papel do ICHOM na capacitação das próprias estruturas e deu como exemplo o apoio da APAH ao IPO do Porto na implementação de um projecto na área do cancro do pulmão que irá permitir medir os resultados em saúde na experiência do doente, mas associando custos do tratamento aos resultados. "Mas de uma forma genérica ainda temos uma elevada incapacidade para generalizar este tipo de modelos no sistema", concedeu Alexandre Lourenço.
Falta paz social
O presidente da Associação Portuguesa de Administradores Hospitalares enunciou ainda um conjunto de constrangimentos, como as deficiências dos sistemas de informação, e a necessidade de investimento. Relembrou o caso da insuficiência cardíaca em Estocolmo onde foi necessário investir dois milhões de euros para depois se obter ganhos de 23 milhões.
presidente da Associação Portuguesa dos Administradores Hospitalares
Mas para Alexandre Lourenço vive-se "hoje uma elevada restrição na organização das estruturas e, para que as mudanças ocorram de uma forma sustentada, é necessário o envolvimento de todos os actores. Há matérias e resistências organizacionais que têm de ser ultrapassadas e actualmente o contexto nacional não é favorável a uma implementação de inovações organizacionais".
Pormenorizando, Alexandre Lourenço disse que a conflitualidade dentro das organizações, como as greves, "inibe qualquer tipo de grande transformação que precisa de paz social. As grandes transformações fazem-se por liderança política, e líderes locais, e estes têm de congregar todas as forças dentro das organizações".
Modelo ultrapassado
O grande objectivo dos sistemas de saúde não é prestar cuidados de saúde, é melhorar os indicadores de saúde da população, aumentando a esperança de vida, na qualidade de vida acima dos 65 anos, mas também de garantir a equidade e a distribuição desses níveis de saúde.
"O modelo actual de cuidados de saúde está ultrapassado. É preciso reinventar", disse Alexandre Lourenço. Mas para se começar a instalar a um modelo de resultados em saúde, é necessária "a autonomia das organizações, o contexto de paz laboral, e a noção de que se está a construir algo para o futuro. Mas vivemos uma elevada frustração dos actores no sistema pelas questões do financiamento mas também pela conflitualidade existente".
Os hospitais têm de se transformar num farol para a mudança e não podem ser algo que é âncora que inibe o desenvolvimento futuro das organizações. Todo este contexto está num retrocesso e tem de se dar um passo em frente para que seja possível voltar a ter esperança no sector da saúde e isso é feito com autonomia das organizações, dar espaço aos profissionais, com investimento e com muita liderança técnica e política para o sector se desenvolver.