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Agricultura tem mais profissionais qualificados

“Há dez anos os profissionais não qualificados representavam quase metade da mão-de-obra, mas atualmente são apenas 17%”, disse Paula Carvalho, economista-chefe do BPI.

16 de Novembro de 2020 às 13:45
Paula Carvaho, economista-chefe do BPI.
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"O setor agrícola e agroindustrial tem tido um comportamento assinalável no contexto da pandemia. Nos primeiros sete meses do ano as exportações de produtos agrícolas vegetais aumentaram 5,5% em contraste com a redução de 16% das exportações de bens. A indústria alimentar também registou uma boa performance com as exportações a crescerem 7%", referiu Paula Carvalho, economista-chefe do Banco BPI.

Nesta performance destacam-se as frutas com um acréscimo de 10%, as oleaginosas e sementes com 38%. Na categoria dos produtos de origem vegetal, a fruta representa mais de metade e a hortícola 20%. Em termos de exportações também tem havido diversificação, com 17% das exportações de produtos de origem vegetal para mercados fora da União Europeia. O azeite e o vinho são dos mais exportados para fora da UE.

O contexto atual tem vários riscos, como referiu Paula Carvalho. Esta crise pandémica é inédita em termos do seu impacto no crescimento económico e os seus efeitos serão provavelmente prolongados no tempo. O gabinete de Estudos do BPI estima que a queda da atividade se aproxime dos 10% do PIB em 2020, com uma recuperação moderada de 6% em 2021. As previsões do BPI são de que Portugal só em 2023 recuperará os níveis de riqueza gerados em 2019, devido ao peso expressivo do turismo e ao endividamento excessivo do país.

Os milhões comunitários

Para Paula Carvalho a resposta das políticas económicas foi "muito forte, robusta e impediu situações mais drásticas, com as linhas de crédito para as empresas, o adiamento do pagamento de impostos e contribuições, as moratórias de crédito, entre outras medidas, graças às alterações muito céleres na regulamentação europeia e resposta muito rápida das autoridades e também dos bancos que nesta crise têm sido um suporte importante".

A política monetária e a atuação do Banco Central Europeu basearam-se no programa de compra de ativos, e na promessa de que a taxa de juros não sobe nos próximos anos. Isto é importante para o Estado, famílias e empresas, porque permite o financiamento com custos muito mais baixos e a diminuição gradual do endividamento.

Os fundos comunitários mais do que duplicarão a partir de 2021 com o plano de recuperação Next Geration UE. "Se fizermos bem as coisas o nosso país pode receber pelo menos 2,5 mil milhões de euros por ano, cerca de 1,2% do PIB do ano passado durante seis anos, isto para além dos fundos comunitários de apoio normais e admitindo que Portugal não vai recorrer à fatia de empréstimos", avaliou Paula Carvalho.

Positivo e negativo

O setor agrícola e agroindustrial tem alguns trunfos para o futuro, mesmo que num contexto difícil. Desde 2011 tem vindo a reforçar o seu peso na economia nacional, pesa 1,2% no VAB (Valor Acrescentado Bruto) com tendência positiva de investimento. O VAB gerado por trabalhador tem aumentado mais do que o total da economia, o que se deverá ao reforço do investimento, à introdução de melhores técnicas, como a automatização. O espelho é que o emprego continua reduzir mas com aumento de qualificações. "Há dez anos os profissionais não qualificados representavam quase metade da mão-de-obra, mas atualmente são apenas 17%", disse Paula Carvalho.

Em relação aos nossos parceiros europeus enfrenta desafios estruturais fortes. A produção média por hectare em 2019 valia 1300 euros no Eurostat, que é próximo mas abaixo da média da União Europeia, e muito abaixo de Itália ou Bélgica, que duplicam o valor. A produção por trabalhador também não é uma comparação favorável. Apenas a Polónia, a Roménia e a Bulgária, tinham produtividade mais baixa em 2019 era 30% dos valores em Espanha. O setor continua bastante dual, em 2016, com cerca de 75% das explorações com menos de cinco hectares e com uma estrutura etária envelhecida, mais 65 anos, o que a torna a mão-de-obra mais envelhecida da UE.