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Agricultura só é competitiva em regadio

O vale do Tejo tem cerca de 120 mil hectares em regadio que está dependente do caudal do rio Tejo, que fornece os aquíferos onde os agricultores se vão abastecer de água. Mas a região precisa de resolver os problemas de escassez, salinização e qualidade da água.

06 de Novembro de 2018 às 15:15
Para João Lima, administrador do INIAV, considera que a gestão da água tem várias dimensões e é estratégica. Inês Gomes Lourenço
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"Hoje em dia a agricultura profissional tem de ser feita em regadio para ser competitiva, porque se não é muito difícil sobreviver. Em Portugal temos o handicap dos custos energéticos porque no Norte da Europa chove… com as alterações climáticas isto também está a mudar", refere Jorge Neves, director-geral da Agromais. O vale do Tejo tem cerca de 120 mil hectares em regadio, que está dependente do caudal do rio Tejo. É este que abastece os aquíferos a que os agricultores recorrem para as regas. Jorge Neves alerta para os riscos a longo prazo.

"A Espanha tem grandes necessidades de água para a produção agrícola de hortícolas e frutícolas. Os transvases são fundamentais para a sua agricultura e são feitos, sobretudo a partir da bacia do Tejo. Em Portugal tem de se pensar numa forma de fazer a retenção dessa água. Criar novos regadios é importante mas não cuidar de um regadio existente, que é o Vale do Tejo, é imprudente". Até porque pode dar argumentos aos espanhóis para reterem mais água, pois Portugal deixa que "a água vá regar o mar", como diz José Potes, presidente do Politécnico de Santarém.

No Vale do Tejo, segundo João Lima, no regadio é preciso encontrar soluções para as próximas décadas. Além disso, a região de Vale do Tejo precisa de resolver os problemas de escassez, salinização e qualidade da água.

Eficiência e retenção

Mas há mais aspectos a considerar na gestão da água, salienta João Lima. A eficiência no uso da água na exploração é um caminho que o sector tem feito de uma forma transformadora. Este uso eficiente de água reflecte-se nos custos da energia, que tem um peso muito elevado nos custos de produção.

Com as alterações climáticas e os eventos extremos, tem de se pensar na retenção das águas nas explorações agrícolas, o que implica que os agricultores façam investimentos para reter a água e garantir uma estabilidade de água ao longo do ciclo produtivo. José Potes assinala que se tem de recuperar o solo, que é a peça fundamental para o armazenamento de água. Disse que "aumentar em 3% a matéria orgânica dos solos significa aumentar a capacidade de armazenamento de 5 mil milhões de metros cúbicos de água, é quase o dobro do armazenamento da água do Alqueva. Aumenta também a eficiência de todos os sistemas de agricultura e um equilíbrio entre a intensificação, que gera mais valor, e a extensão".

Uma espécie de plano Alqueva para o Tejo

"O Alqueva é o sistema que mais tem contribuído para o crescimento da agricultura em Portugal", salientou João Lima. Defende que o Plano para o Vale do Tejo está numa fase inicial mas teve o mérito de lançar a discussão sobre o impacto em termos de produção, área regada, impacto ambiental. Ricardo Gonçalves, presidente da Câmara Municipal de Santarém, pretende que pelo menos parte do plano entre no programa de investimentos 2030. Salienta que "hoje os grandes decisores políticos já têm a percepção da importância para a região e o país do plano Tejo, que é um projecto estrutural para o país a médio prazo".

O Projecto Tejo pretende regar cerca de 300 mil hectares, dos quais 260 mil hectares, no Vale do Tejo, e 40 mil hectares na região Oeste. O investimento global rondará aproximadamente 4500 milhões de euros. Na génese da ideia estiveram os irmãos Manuel e Miguel Campilho, da Quinta da Lagoalva, assessorados tecnicamente por Jorge Froes, um especialista na área da engenharia hidráulica.