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Afonso Fuzeta Eça: “A inovação é um círculo virtuoso que se autoalimenta, mas que é difícil de iniciar”

O diretor executivo do novo CEINN do BPI deixa um alerta: a inovação pela inovação, sem ter um contexto e proposta de valor claros, é difícil monetizar.

28 de Outubro de 2022 às 14:30
Afonso Fuzeta Eça, diretor executivo do novo CEINN do BPI DR
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O Centro de Excelência de Inovação e Novos Negócios (CEINN) tem como missão apoiar o desenho de uma visão de futuro do banco BPI identificando tendências relevantes no setor financeiro e novas oportunidades de geração de valor para clientes e acionista. O Centro foca-se na promoção de ecossistemas colaborativos que facilitem e acelerem a implementação de oportunidades identificadas em temas tão diversos como open banking, ESG finance, metaverso/Web 3.0 e decentralized finance. O CEINN foi criado em fevereiro de 2022 e tem, atualmente, sete colaboradores.

Afonso Fuzeta Eça, diretor executivo do novo CEINN, reflete sobre o valor, a importância e os desafios da inovação, no seguimento do Prémio Nacional de Inovação, uma iniciativa do Jornal de Negócios em parceria com o BPI, a Claranet e a Nova SBE.

Quantas classes de inovação podem ser aplicadas numa organização?
Numa empresa, normalmente, temos dois tipos de inovação possível: a incremental, toda a evolução que é feita em cima de produtos e serviços já existentes por forma a ir incorporando evoluções que se vão passando em todos os mercados; e a disruptiva, aquela que rompe com o status quo de um produto ou serviço, sendo uma abordagem totalmente nova.

A primeira alternativa tem, normalmente, menos risco do que a segunda, mas tem também menos potencial. Assim sendo, as empresas têm de encontrar um balanço entre ambas no seu portefólio de inovação.

Há muitos anos que se aborda a necessidade e a importância de as empresas apostarem em inovação. Quais os motivos que impedem o tecido produtivo de investir em inovação?
Num contexto de velocidade de mudança cada vez mais acelerada, a inovação torna-se essencial como fonte de crescimento e prosperidade económica. Estamos a falar de inovação em toda a sua plenitude. Muitas das inovações que reconhecemos têm uma forte componente tecnológica. Mas, se nos focarmos no passado recente, em especial no período da pandemia, tivemos de ser bastante inovadores a reformular a forma como trabalhávamos quebrando algumas barreiras que existiam há décadas. Logo, olhamos para a inovação em geral, e para este prémio em particular, como uma forma de darmos palco ao que de melhor se faz em termos de inovação no nosso país, dando o merecido destaque a várias iniciativas que já se encontram em curso, e tentando trazer ímpeto para muitas outras que nos ajudem a tornar o país mais competitivo e atrativo.

A inovação pela inovação, sem ter um contexto e proposta de valor claros, é difícil monetizar. Afonso Fuzeta Eça
Diretor Executivo do novo CEINN do BPI

A inovação bem aplicada é rentável, mas se for mal gerida pode ser ruinosa. Que cuidados deve ter uma organização na hora de inovar?
O maior risco associado à inovação é ser feita como um fim em si mesmo. A inovação deve ser feita em prol de mudanças que venham a acrescentar valor a um negócio e por isso às pessoas. A inovação pela inovação, sem ter um contexto e proposta de valor claros, é difícil monetizar.

É mais fácil iniciar um processo de inovação com pequenos passos e implementar várias vezes ou avançar para um modelo mais disruptivo e impactante?
A escolha entre inovar em pequenos passos ou dar grandes saltos disruptivos depende da forma como cada empresa quer gerir o seu portefólio de inovação, mas diria que é necessário um equilíbrio entre ambos.

Que papel deve ter a transformação digital no processo de inovação das organizações?
Mais inovação aumenta produtividade, que por sua vez gera mais crescimento. É um círculo virtuoso que se autoalimenta, mas que, no entanto, é difícil de iniciar. Normalmente, a inovação necessita de capacidade de investimento e da assunção de risco, duas condições que muitas vezes não são fáceis de reunir. A transformação digital tem sido uma importante força de inovação, no entanto, seria redutor limitarmos o espaço de inovação ao fenómeno digital.

Como se humaniza a transformação digital?
A transformação digital, ou a digitalização, faz sentido se facilitar a vida das pessoas, se trouxer valor à vida das pessoas. Esse é o objetivo último destas inovações: melhorar a qualidade de vida das pessoas. Diria que não há melhor forma de humanização do que essa. Obviamente, muita da transformação digital tem impacto no mercado de trabalho, mas isso é uma tendência que temos observado desde o início da revolução industrial: a introdução de tecnologia muda o perfil de empregos que são procurados no mercado de trabalho. No entanto, esta crescente adoção de tecnologia tem sido sempre acompanhada da criação de mais emprego, mesmo com toda a automação a que temos assistido.