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A importância dos ensaios clínicos

A investigação clínica não deve nem pode esgotar-se nos ensaios clínicos, deve promover a ponte entre ciência e clínica.

16 de Junho de 2015 às 11:00
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Os ensaios clínicos são uma forma de desenvolvimento da investigação clínica. Normalmente são promovidos pela indústria para a avaliação e licenciamento de novos medicamentos e com o objectivo de determinar a eficácia, segurança e qualidade exigidos pelas autoridades regulamentares, a EMA na Europa e FDA nos Estados Unidos. Portugal está na linha da frente destas pesquisas.


Para Vítor Virgínia, director-geral da MSD Portugal, "o panorama dos ensaios clínicos tem vindo a melhorar gradualmente fruto da sensibilização crescente para a importância da investigação". A nova lei da Investigação Clínica ajudou, "permitindo o aumento expressivo do número de ensaios realizados em Portugal" tal como o "reconhecimento dos nossos investigadores pelo seu conhecimento científico e boas práticas de investigação é também um factor de notoriedade e um estímulo para a integração das instituições em redes de investigação internacionais".


Os ensaios clínicos são desejados porque têm uma componente económico-financeira relevante nas instituições de saúde e impacto terapêutico que pode resultar em benefício dos doentes. Como refere Emília Monteiro, "os ensaios clínicos são importantes pelas receitas, pela investigação que dá sustentabilidade ao hospital, pela visibilidade e pela capacidade de atracção de doentes". Mas, como sublinha Vítor Virgínia, "a investigação clínica não deve nem pode esgotar-se nos ensaios clínicos. A descoberta de novas abordagens terapêuticas também assenta na investigação básica de iniciativa académica. A investigação translacional iniciada por investigadores clínicos e que promove a ponte entre ciência e clínica é igualmente fundamental para o avanço do conhecimento científico e da medicina".


Uma das formas de tornar Portugal mais atractivo para os ensaios clínicos está na participação no consórcio europeu para uma Infraestrutura Europeia de Investigação (ECRIN-ERIC) através da PtCRIN (Portuguese Clinical Research Infrastructure network) que é composta por 14 instituições nacionais, grandes hospitais e universidades e que é coordenado por Emília Monteiro, também vice-presidente do ECRIN-ERIC steering committee. Tem como objectivo capacitar as unidades de saúde ou as universidades para terem CRC (Clinical Research Center, onde se recrutam os doentes para os ensaios clínicos) e CTU (Clinical trials units, que são centros de apoio ao desenho e implementação dos estudos clínicos) profissionais, o que é fundamental para os processos de acreditação. São acções que vão permitir captar o financiamento europeu para os ensaios clínicos de iniciativa académica ou do investigador.


A criação de uma forte estrutura de apoio para a realização de ensaios clínicos em Portugal é importante também para a indústria farmacêutica. O desenvolvimento clínico de um novo medicamentos demora em média 10 a 12 anos,  o custo ronda os 2 mil milhões de dólares e apenas 5% dos produtos passam todos os testes e acabam por ser comercializados. Mas a investigação clínica não termina com a comercialização do medicamento seguem-se os ensaios clínicos. Por isso, para Vítor Virgínia, "o conhecimento destes resultados em saúde é fundamental para analisar e melhorar o impacto dos medicamentos nos doentes, na prática clínica e na eficiência dos cuidados de saúde e constitui a base para a demonstração de efectividade das tecnologias de saúde".