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A subida das taxas de juro é inevitável

“Temos de estar atentos porque a inflação é um fenómeno muito rasteiro e silencioso, mas que se vai insinuando com rapidez nas economias”, afirmou Rui Leão Martinho.

22 de Novembro de 2021 às 16:30
Rui Leão Martinho, bastonário da Ordem dos Economistas. Duarte Roriz
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"A questão dos juros e da sua subida não é uma questão para amanhã, mas temos de estar prevenidos. A subida vai acontecer, os Estados Unidos estão a caminhar para isso e que serão seguidos pela Europa e os restantes países do mundo", disse Rui Leão Martinho, Bastonário do Ordem dos Economistas.

Acrescenta que "Como acontece desde 1972 em todas as crises de energia, também esta crise de energia vai ter a sua evolução para pode ter custos muito elevados". A reindustrialização tem uma face diferente do que foi a industrialização anterior, e que surge para tentar colmatar algumas deficiências que a pandemia veio evidenciar e a recuperação do pós-pandemia sublinha com produção nos Estados Unidos ou na Europa, com o digital e a tecnologia, o ambiente e a sustentabilidade, o que leva tempo. "Vai ser um período longo de transformação".

Christine Lagarde, presidente do BCE, na sua função apaziguadora, afirmou que é transitória e localizada e que os juros em 2022 não vão subir e portanto é um quadro que "descansa investidores e os players do mercado". Mas "temos de estar atentos porque a inflação é um fenómeno muito rasteiro e silencioso mas que se vai insinuando com rapidez nas economias", afirmou Rui Leão Martinho.

Mas os portugueses que já trabalhavam nos anos 1980 têm alguma experiência dos efeitos da inflação, "ela corrói e portanto acho que temos de estar atentos e é bom que estejamos conluiados todos no que é a política geral europeia do BCE, mas atentos porque a inflação pode, não já amanhã ou a curto prazo, mas pode vir a perturbar a recuperação e a retoma do crescimento neste pós-pandemia".

Riscos geopolíticos

Rui Leão Martinho referiu-se aos vários riscos geopolíticos como a nova aliança entre os Estados Unidos, Reino Unido e Austrália. "É uma nova aliança em que estamos ainda a ver o que se vai passar mas nos na Europa temos de pensar que vai ter alguma influência relativamente a negócios, investimentos, cruzamento de interesses entre os países". Aludiu ao que chamou as manobras sino-soviéticas, e à desaceleração da economia chinesa. Acentuou que neste momento "há um grande risco da parte imobiliária, não será uma bolha, mas percebemos que as empresas estão muito endividadas, o que pode atrasar o ciclo de crescimento quase permanente".

As consequências da pandemia de covid-19 ainda não são passado porque "as assimetrias entre países acentuaram-se, no interior dos países também se aprofundaram as assimetrias e a pobreza, a desigualdade, a inclusão social, que parou. Tudo isto são fatores que temos de ter em linha de conta porque vão influenciar a evolução do crescimento".

Rui Leão Martinho sublinhou ainda os riscos ambientais e os cibernéticos e podem condicionar o andamento da recuperação e da retoma do pós-covid-19. "O BCE é muito importante para a União Europeia que pode defender de uma crise maior ou de passar uma fase mais prolongada para essa retoma. A UE em geral vai retomar um crescimento normal num período relativamente curto, embora Portugal demore um pouco mais, o que tem a ver com as debilidades que a economia já tinha antes da pandemia", referiu Rui Leão Martinho.

O Futuro dos Mercados Financeiros  A 10.ª edição da Grande Conferência "O Futuro dos Mercados Financeiros", realizada pelo Jornal de Negócios e o Banco Carregosa, integra-se no "Jogo da Bolsa", que permite a simulação da negociação de instrumentos financeiros, em tempo real e de uma forma virtual. A abertura contou com as intervenções de Diana Ramos, diretora do Jornal de Negócios, Maria Cândida Rocha e Silva, presidente do Banco Carregosa, e José de Azevedo Rodrigues, vice-reitor do ISCTE-IUL e o keynote speaker Filipe Silva, diretor de investimento do Banco Carregosa, que traçou as perspetivas de investimentos de 2022.

Na primeira mesa-redonda "Os Desafios Económicos Pós-Pandemia: Cenários para a Banca e Mercados" participaram José Crespo de Carvalho, presidente do ISCTE Executive Education, Miguel Pina Martins, CEO da Science4you, e Rui Leão Martinho, bastonário da Ordem dos Economistas, com moderação de Diana Ramos. O segundo debate sobre "Tendências de Investimento" contou com António Seladas, diretor da AS Independent Research, Rina Guerra, Gestão de Ativos - Ações do Banco Carregosa, Rui Alpalhão, professor associado convidado do Departamento de Finanças do ISCTE Business School, e Sérgio Monteiro, ex-consultor do Banco de Portugal e partner do Fundo Horizon, e com moderação de Patrícia Abreu, jornalista do Jornal de Negócios. Encerrou a conferência João Nuno Mendes, secretário de Estado das Finanças.