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"Temos de remunerar a função ambiental da floresta, é uma conversa com décadas e não fazemos nada", referiu Daniel Bessa, professor catedrático jubilado da Faculdade de Economia do Porto e presidente do júri do Prémio Floresta e Sustentabilidade. "A mim obceca-me que esta questão, que é tão importante e há tanto tempo, não tenha dado um passo em frente", frisou.
Há uma falha de mercado na valorização ambiental da floresta, apontou. "Se estamos à espera que o mercado valorize a função ambiental da floresta, perdemos tempo porque não vai valorizar. A professora Júlia Seixas apresentou a sugestão de um mínimo de produto florestal na construção, por exemplo, e seria uma maneira de contrariar e combater a falha de mercado, mas para já vou pelo imposto e pela remuneração pública", acrescentou.
Daniel Bessa lembrou que, segundo o inventário florestal, existem no país 3,2 milhões de hectares a explorar. "Se quisesse remunerar a função ambiental desses 3 milhões de hectares da mesma forma a um euro cada custava três milhões de euros. São uns trocos, não é nada, seria um insulto, portanto, esse número está fora de questão. Mas se fossem mil euros por ano custava-me 3 mil milhões. É 75% do orçamento de Defesa que o Estado português vai passar a ter", sublinhou o economista.
As principais variáveis
Na sua opinião, a remuneração da função ambiental da floresta não pode ser per capita ou per hectare, porque nem toda a floresta contribui da mesma forma. Portanto, nem todos os 3 milhões de hectares seriam elegíveis e, muito menos, da mesma forma. "Não elegeria um hectare que não fosse certificado, porque a certificação é uma garantia de que há alguns cuidados na área da gestão, e que a informação vai estar mais controlada", afirma Daniel Bessa.
Outra distinção na remuneração ambiental poderia ser em função das espécies, porque "têm diferentes capacidades de sequestro de carbono e diferentes consumos de água. O sequestro de carbono para mais, o consumo de água para menos. Talvez se possa fazer alguma diferenciação regional e até uma dimensão mínima", considerou Daniel Bessa.
A remuneração ambiental da floresta poderia passar pela certificação, ter o mínimo dimensão, ponderar as espécies, a capacidade de sequestro de carbono pela positiva, o consumo de água pela negativa, com diferenciação regional. "Mas pode haver muitas outras dimensões do serviço que a floresta presta, mesmo na frente ambiental, que não têm que ver com o sequestro de carbono" sublinhou o também presidente do júri do prémio.