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A luta entre os vencedores e os perdedores da globalização

“A questão entre a China e os Estados Unidos pode durar bastante tempo. É uma guerra entre duas grandes economias fechadas, e que estão em disputa por alguma hegemonia e um posicionamento de liderança dos sistemas internacional”, refere Vítor Ramon Fernandes, professor auxiliar de Relações Internacionais na Universidade Lusíada de Lisboa.

02 de Dezembro de 2019 às 15:00
Daniel Bessa, Filipe Vasconcelos Romão e Vítor Ramon Fernandes debateram a guerra comercial e os riscos de recessão.
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Vítor Ramon Fernandes, professor auxiliar de Relações Internacionais da Universidade Lusíada de Lisboa, considera que "a economia é uma arma interessante e potente, sobretudo para os Estados Unidos, porque está em desvantagem e a perder a guerra na parte tecnológica. Temos fragilidades diferentes com uma China que tem, apesar de ser uma economia fechada, um grau de abertura ao exterior superior aos Estados Unidos, que é de 16% para a China e inferior a 10% para os Estados Unidos. Se pegarmos nas exportações em percentagem do PIB, os EUA está nos 7% e a China está nos 20%. Nesta luta esta arma é poderosa e as vulnerabilidades de uma e outra são diferentes, o que pode fazer demorar esta luta e não haver nenhuma pressa em encerrá-la."

Estamos a viver uma época de radicalizações e a quebra de consensos não é um chavão. filipe vasconcelos romão
Diretor do Departamento de Relações Internacionais da UAL

A China tem um grau de abertura exterior superior ao dos Estados Unidos, que é de 16% para a China e inferior a 10% para os Estados Unidos.  Vítor ramon fernandes
Professor auxiliar de Relações Internacionais na Universidade Lusíada de Lisboa


Há vulnerabilidades, interesses e velocidades diferentes na resolução deste conflito. Esta guerra comercial está a refletir-se no crescimento económico dos Estados Unidos pois a China é o terceiro parceiro comercial dos Estados Unidos, embora a Alemanha e o Japão representem provavelmente mais do que a China, tal como o Canadá e o México. A China está mais interessada em chegar a acordo mais depressa do que os Estados Unidos porque podem colocar-se questões críticas sobretudo o risco de o crescimento económico cair para 4%, o que pode ter reflexos políticos e sociais internos.

Radicalização e consenso

Filipe Vasconcelos Romão, professor convidado do ISCTE-IUL, do Departamento de Relações Internacionais da UAL e da Universidade ORT do Uruguai, chamou a atenção para o facto de se estar a viver "uma época de radicalizações e a quebra de consensos não é um chavão". Na política espanhola, por exemplo, temos uma política de blocos, o eleitor está radicalizado e não sai do seu nicho. Nos Estados Unidos quando olhamos para as sondagens e para as tendências de avaliação e popularidade do Presidente, vê-se que tem uma popularidade claramente negativa, uma média de 10% negativos, mas que tem 38 a 39% que não deixam de considerar que a sua atuação é positiva. "Estes fenómenos também levam a uma questão complexa, isto é, que se transformam as maiorias sociais em políticas", concluiu Filipe Vasconcelos Romão.

Hoje, o campeão do liberalismo no cenário internacional vai ser a China. Os Estados Unidos querem pôr travões a uma ameaça, sendo certo que são a potência liderante e hegemónica do ponto de vista internacional. Daniel bessa
Economista

Por sua vez Daniel Bessa referiu-se aos perdedores da globalização. "Os Estados Unidos era um dos países que estavam a perder essa guerra. Hoje o campeão do liberalismo no cenário internacional vai ser a China. Os Estados Unidos querem colocar travões a uma ameaça, sendo certo que são a potência liderante e hegemónica do ponto de vista internacional".

Considerou que este refluxo vai ter impacto no bem-estar global, pois a "economia mundial atingiu o seu pico de crescimento na década que se seguiu à viragem do milénio, deve ter sido o período mais rápido do crescimento mundial". Estes períodos são caracterizados por um crescimento do comércio internacional muito superior ao do PIB, que é o driver do crescimento económico. "Potencia muito o aumento da produtividade, das cadeias de abastecimento e que se viu interrompida pela crise económica mundial de 2007-2008. Não foram só as exportações para esses mercados emergentes, mas estes passarem a estar profundamente inseridos nas cadeias de abastecimento para contribuir para o embaratecimento dos insumos e da eficiência e da produtividade."