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A inflação que veio da China

O controlo da inflação vai depender da forma como a China souber resolver os seus próprios problemas que estão em grande parte na origem desta onda inflacionista.

22 de Novembro de 2021 às 15:30
José Crespo de Carvalho, presidente do ISCTE Executive Education. Duarte Roriz
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"As considerações gerais sobre a inflação são sempre bem-intencionadas mas começamos a ver um conjunto de sinais em simultâneo que são alarmantes como as sérias disrupções nas cadeias de abastecimento, produções interrompidas, uma tentativa de regulação na China de empresas tecnológicas, de empresas de educação, vários intervenções no mercado de uma economia que é fábrica do mundo", considerou José Crespo de Carvalho, presidente do ISCTE Executive Education.

Acrescenta que parece haver na China uma "tentativa de modificação do modelo económico chinês. Esta alteração pode criar uma disrupção. Por exemplo, uma mudança de foco do mercado externo para o mercado interno, querendo a China faça um consumo interno dos seus produtos, porque a China já tem uma classe média relativamente grande, é uma alteração de fundo", considera José Crespo de Carvalho.

"Todos os sinais que vêm da China são preocupantes. Esta forma de regulação acabou por ter uma influência nos ADR muito grande. O dinheiro investido em ações chinesas colocadas no mercado americano foi saindo. As próprias empresas que se financiam no mercado americano estão a ver uma saída de fundos sem precedentes. Tudo isto são sinais de alarme."

Dependências

José Crespo de Carvalho referiu-se ainda ao estado das cadeias logísticas com navios que não acostam, filas de espera gigantescas, contentores que estão vazios e ninguém os vais buscar e com falta de contentores onde são necessários. A que se junta a questão energética em que se está "longe de perceber se tem um travão possível". Implica olhar para a situação económica mundial de uma forma diferente, sendo "mais realistas e menos otimistas em relação ao que é ou que possa vir da China de quem o mundo tem uma grande dependência, que não se resolve com redundância de hoje para amanhã".

Na sua opinião, o controlo da inflação dependerá da forma como a China souber encontrar soluções para os seus próprios problemas. Nesta fase, face à lógica sistémica que tem a economia, a Europa ou os Estados Unidos não têm para já capacidade por si só para resolver problemas desta dimensão global. "A inflação surge trazida por um conjunto de problemas China."

O crescimento em Portugal poderá ser 5,5% como as previsões mas será "assimétrico pois não será igual para todos os setores nem para todas as empresas, porque algumas conseguiram até reforçar os seus balanços durante a pandemia mas outras têm balanços mais débeis". Considera que não se pode "fazer uma radiografia do todo sem olhar para o que está acontecer em cada um dos setores e das empresas".

Referiu-se ao problema endémico da dimensão das empresas. "Foi pena que nesta pandemia quando se concederam empréstimos às empresas deveria prever-se que esses empréstimos deveriam obrigar a que houvesse fusão ou concentração de empresas. Era uma oportunidade histórica de criar dimensão nas empresas como de pão para a boca e não aproveitamos esta crise para poder fazer esse trabalho."