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Foto em cima: O debate sobre as Tendências e Perspetivas Internacionais contou com a moderação de Leonor Mateus e a participação de Maria João Tomás, Catarina Castro, Pedro Baldaia, e António Seladas.
"O mercado americano está a transacionar múltiplos de PER (price-to-earnings ratio) de 22 vezes para os próximos 12 meses. Há 25 anos, negociava a esses níveis, mas três meses depois atingiu múltiplos de 25 a 26 vezes e colapsou", afirmou António Seladas, analista da AS Independent Research, no debate sobre as Tendências e Perspetivas Internacionais, realizado na 13.ª edição da Grande Conferência ‘O Futuro dos Mercados Financeiros’, organizada pelo Negócios e pelo Banco Carregosa, com o apoio da ISCTE Business School. Salientou ainda que, historicamente, a média a longo prazo é de 16 vezes e a média dos últimos 5 anos é de cerca de 19 vezes, o que torna difícil esperar um retorno positivo no mercado de ações a 12 meses.
Para António Seladas, quando se fala nos Estados Unidos e no S&P 500 como referência, não quer dizer que "os outros mercados não sejam investíveis, mas, pelo S&P 500, conseguimos perceber o que poderá acontecer no resto do mundo, pois ninguém imagina que os mercados financeiros europeus subam enquanto os Estados Unidos caem 10, 15 ou 20%."
A inflação subjacente
Mas António Seladas, a parte que era mesmo inflação, mantém-se, sobretudo, nos serviços, cuja taxa de inflação em Portugal está nos 4%. Acrescentou ainda que a inflação subjacente, que é menos volátil, que retira produtos frescos e os energéticos, está nos 3,2 a 3,3%. A inflação na Europa está em 2,7%, mas com dificuldade em baixar.
António Seladas defendeu que "se a inflação não está controlada, a Reserva Federal durante o próximo ano terá que reverter o discurso, o que é uma coisa que os mercados não gostam. Porque, depois, quando se inverte, os bancos centrais têm que subir os juros, surge o risco de uma recessão e ninguém quer ter ações cujos resultados vão cair".
Na sua opinião, os bancos centrais têm injetado muito dinheiro na economia como forma de evitar as recessões, conseguiram controlar a inflação para 3%, sem problemas nas taxas de desemprego, mas "as recessões provocam dor, mas são boas porque limpam". António Seladas salientou ainda que, por exemplo, em Portugal a população empregada é de cerca de 5 milhões empregadas "um número record, nunca tivemos tanta gente a trabalhar, portanto, há inflação dos serviços. Só há menos inflação nos serviços, se houver desemprego".
Donald Trump é um problema para a Europa
"Desde que existe o índice S&P 500 houve 24 eleições presidenciais e, em vinte dos anos em que ocorreram eleições, o índice subiu", relativizou Pedro Baldaia, Head of Equities do Banco Carregosa.
Sublinhou que "Trump é visto mais como uma incerteza, mas o mercado também se recorda do que aconteceu no primeiro mandato de Trump". No seu primeiro mandato, entre 2016 e 2020, já com a disrupção do Covid-19, o desempenho do S&P 500 foi de 58%, "o que significa uma média geométrica de 12% ao ano. Pode haver incerteza em relação ao que Trump possa trazer para a mesa, mas a verdade é que existe um histórico positivo do primeiro mandato", disse Pedro Baldaia.
Em termos setoriais, recordou que o setor Oil&Gas, que se pensava ser beneficiado no seu primeiro mandato, "foi o pior setor em bolsa no S&P 500. Por isso, nem tudo o que parece um trade fácil a seguir a uma eleição se repercute, na verdade, no mercado".
Um problema para a Europa
Este debate foi realizado antes de se conhecerem os resultados das eleições norte-americanas, em que Donald Trump foi reeleito pela segunda vez, em 5 de novembro passado. No entanto, as análises centraram-se na sua provável vitória. Para Maria João Tomás, professora no ISCTE, "esta não seria uma ameaça para os Estados Unidos, mas, sobretudo, para a Europa. Donald Trump afirmou que, para além do amor e da religião, a tarifa é a palavra mais bonita que existe. O que significa que vamos ser alvo de tarifas americanas, e, é claro, que os investidores não terão qualquer problema, porque a economia americana continuará a crescer e não terá problemas."
Maria João Tomás recordou que Donald Trump acredita que é através das tarifas que reduzirá o déficit americano, e o seu pensamento económico é "tarifa sobre tarifa, sobre tarifa", o que nos leva à questão de como é que a Europa ficará em termos de mercados, dado que se apontam tarifas de 10 a 20% para a Europa, 60% para a China e 200% para os carros mexicanos. "A Europa pode ser fortemente penalizada, e a Alemanha, em particular, será gravemente afetada, pois a exportação para os Estados Unidos é muito significativa."
"Trump é tendencialmente protecionista e procurará proteger a economia americana, sobretudo da China e do México. A Europa, além de sofrer com a eventual aplicação de tarifas, também seria afetada por uma guerra comercial entre os Estados Unidos e a China", sublinhou Maria João Tomás.
Além disso, avizinham-se novos desafios na segurança europeia, com Donald Trump a ser muito crítico da NATO. A Europa pode ser severamente penalizada caso Trump concretize "aquela ideia brilhante de cortar os países que não pagarem à NATO. Já se falou na revisão do artigo 5.º, para deixar de haver obrigatoriedade de defesa de um membro da aliança."