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"Para mim, sustentabilidade significa equilíbrio, pensar a longo prazo, pensar no futuro e no planeta que estamos a deixar para as gerações futuras. A sustentabilidade é, sobretudo, uma questão ambiental, mas não pode haver longo prazo sem governação e sem o social. Os três têm de estar presentes", afirmou Manuel Estriga, um jovem lisboeta de 22 anos, licenciado em Engenharia Mecânica pelo Instituto Superior Técnico e atualmente a frequentar o mestrado em Empreendedorismo de Impacto e Inovação.
É um dos três jovens convidados da última edição das Conversas de Inspiração, uma iniciativa integrada no Prémio Portugal Inspirador, organizada pelo Negócios, Correio da Manhã e CMTV, com o apoio do Banco Santander e dos knowledge partners Informa DB, Accenture e Nova SBE.
Maria Francisca de Pena é aluna do mesmo mestrado e concorda que os três fatores da sustentabilidade, o ESG (Environmental, Social and Governance), são interdependentes. Deu o exemplo da poluição, que "tem impactos ambientais, mas também impactos sociais, como, por exemplo, na saúde das pessoas".
Pedro Vieira Rodrigues, de 25 anos, natural de Viana do Castelo, licenciou-se em Economia pela Universidade do Minho. Já concluiu o primeiro ano do mestrado em Empreendedorismo de Impacto e Inovação, na Nova SBE, e iniciou recentemente um estágio na Galp, integrando a equipa de Growth no departamento de Energias Renováveis. Para esta escolha, pesou o facto de "o maior desafio da minha geração e das futuras ser a transição energética. Esta transição só é possível se empresas como a Galp forem participantes ativos".
Sustentabilidade mental
Considera que o mestrado tem uma componente muito prática, com uma abordagem de project-based learning, o que significa que é menos académico e mais prático, de projetos. "Tem uma aplicação muito real ao mundo do trabalho, em que temos de ser práticos e resolver problemas", disse Pedro Vieira Rodrigues. A sua tese de mestrado pretende "capacitar as pessoas para identificar soluções acessíveis e não invasivas nas suas habitações, para a melhoria do seu conforto e redução da sua fatura energética".
Manuel Estriga introduz uma nova perspetiva referindo que a sua "geração cada vez mais pensa na sua sustentabilidade pessoal e mental". O seu projeto de vida é "fazer algo que me faça feliz, viver uma vida boa, longa, e que me sinta satisfeito no final dessa vida. Acho que a minha geração começa cada vez mais a pensar desta forma, do que, se calhar, a geração dos meus pais ou a geração dos meus avós".
Para Maria Francisca de Pena, será um problema futuro para as empresas e organizações, "o facto da nossa geração não ter tolerância com empresas que não cumpram os requisitos básicos de sustentabilidade, e, como clientes, não vão cair no greenwashing".
Em termos práticos, Manuel Estriga gostaria de desenvolver trabalho na área de implementação e gestão de projetos culturais, com impacto comunitário e social, na área de consultoria estratégica e criativa, e experimentar a indústria da música, na vertente mais estratégica de planeamento de carreiras de artistas musicais.
Mudanças e empresas exemplares
Pedro Vieira Rodrigues gostaria de alterar a tendência para a polarização que atravessa a sociedade, "em que pessoas com opiniões distintas têm dificuldade em comunicar, o que pode ser um grande entrave para a sustentabilidade". Por sua vez, Manuel Estriga defende a aplicação de multas pesadas a pessoas que deitam beatas para o chão.
"Mudava a maneira como abordamos os temas sociais", afirmou Maria Francisca de Pena. "Temos tendência a abordar estes temas de forma a tratar os sintomas, em vez de ir à raiz do problema. Um exemplo é a luta contra a fome: há muitos programas que se focam nos sintomas, em vez de oferecer as ferramentas necessárias às pessoas para que possam aceder a estas refeições pelos seus próprios meios."
"O tema da sustentabilidade é, para mim, transversal a todos os setores da sociedade", declarou Pedro Vieira Rodrigues. Como exemplos inspiradores, destacou empresas no ecossistema de impacto social e sustentabilidade, como a GoParity e a Maze Impact, que criam pontes entre capital e impacto positivo; a Isto., uma marca de roupa portuguesa que aposta na produção local e em materiais sustentáveis de alta qualidade e, no setor energético, salientou o projeto Ponto de Transição, uma iniciativa da Fundação Calouste Gulbenkian que visa capacitar comunidades para enfrentarem o desafio de uma transição energética justa.
Manuel Estriga, por sua vez, mencionou exemplos como a Fairly Normal, uma marca de roupa portuguesa que utiliza fibras recicladas, orgânicas e naturais; a Nâm Mushrooms, com um modelo de negócio baseado no cultivo de cogumelos biológicos a partir de borras de café; a Refood, que transforma restos de refeições e sobras de alimentos em refeições completas para famílias carenciadas; e o Too Good To Go, um projeto que permite a supermercados, padarias, restaurantes e cafés disponibilizarem as sobras do final do dia a preços bastante reduzidos.
A inspiração de Pedro Vieira Rodrigues é a sua avó, "uma pessoa com muita compaixão pelos outros e muito humilde". Para Manuel Estriga, o que mais o inspira "são os detalhes do dia a dia, que muitas vezes são fáceis de perder: numa viagem de comboio, num passeio. Estar simplesmente parado a contemplar o nada inspira-me bastante, mas também a arte, a cultura e a música". Já Maria Francisca de Pena inspira-se na visão de um futuro em que a sustentabilidade "esteja completamente integrada no nosso mundo".