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“É indispensável aliar a mudança tecnológica a uma alteração nas formas de pensar e trabalhar”, afirma Rui Teles, managing director da Accenture Technology Portugal, que alerta para que a democratização da tecnologia seja acompanhada por formação e requalificação para “preparar as pessoas, os processos e as métricas para fazer acontecer a transformação digital de que o mercado e as empresas necessitam”.
Como é que as empresas podem tirar partido da democratização da tecnologia e quais são as principais vantagens e os principais obstáculos?
Democratizar a tecnologia significa torná-la acessível a todos dentro da organização, sem a necessidade de recorrer constantemente a perfis especializados. É capacitar cada um dos colaboradores com as ferramentas e competências para implementarem soluções tecnológicas que melhorem e inovem as suas funções.
Este movimento pode também ser visto como um alargamento do próprio TI da empresa, descentralizando as suas competências através de um modelo de governo que promova a convergência para interesses comuns e estratégicos da organização. Na verdade, os modelos atuais de TI devem ser repensados à luz desta nova realidade.
Quando falamos de tecnologia democratizada, referimo-nos a processos de linguagem natural, plataformas low-code ou automação robótica de processos (RPA), por exemplo. A cloud é também um excelente recurso, pois soluções como Amazon’s Honeycode e Salesforce ’Lightning App Builder, servem de trampolim, são ferramentas que preenchem o hiato entre a tecnologia complexa e os colaboradores, a todos os níveis da organização.
Claro que este processo não é automático, é longo e exige grande esforço de todos. As organizações devem apostar fortemente na requalificação tecnológica de cada um dos funcionários e alterar a cultura de TI da empresa.
As empresas têm de passar a fazer a formação da sua força de trabalho como tecnólogos, como inovadores?
A gestão de pessoas é uma área-chave em qualquer empresa e investir em talento é essencial para desenvolver soluções inovadoras e responder de forma rápida e flexível ao que possa acontecer no mercado.
Um estudo recente da Accenture indica que as empresas que investiram em tecnologia durante a pandemia rentabilizaram o seu negócio cinco vezes mais do que os seus concorrentes que não o fizeram e aumentaram a sua previsão de crescimento.
Este investimento, se não for suportado por formação e requalificação de todos os colaboradores, acaba sustentado no vazio. É essencial criar uma cultura de empresa em que a democratização da tecnologia e a inovação são fomentadas e alimentadas diariamente.
É fundamental aumentar as competências dos colaboradores, em particular as necessárias para a economia digital, acelerando programas de reskilling, aumentando rapidamente a formação em tecnologias de informação e no digital. Quando me descrevem que existem áreas de marketing nas quais as pessoas não têm formação em análise de dados e não sabem trabalhar com ferramentas de mercado, pergunto-me como é que tomam decisões e promovem uma constante melhoria das suas funções.
Qual vai ser o papel dos departamentos de TI nas empresas uma vez que cada vez mais a tecnologia está no coração da estratégia empresarial?
Há neste momento uma tendência que nos leva para a descentralização da tomada de decisões. Isto quer dizer que com a requalificação, maior domínio e conhecimento tecnológico dos colaboradores, as empresas empurram o processo de decisão operacional cada vez mais para equipas focadas em produtos concretos, que trabalham em rede e com um objetivo comum. Isto quer dizer que o grupo core de gestão da estrutura de TI deverá dedicar o seu tempo a grandes projetos e à reflexão estratégica necessária para a flexibilidade e resiliência da organização.
Sendo que a tecnologia e a estratégia empresarial caminham para se tornar uma só, começam a ser indissociáveis e indistinguíveis. Se a este mix acrescentarmos o compromisso com a qualificação das pessoas, aquilo que parecia impossível, torna-se viável.
Todas as empresas terão no curto prazo competências profundas e especializadas em tecnologias de informação, modelos de gestão de pessoas e talento focados nessas competências e uma alteração significativa da cultura nos departamentos de TI, mais orientada ao negócio, menos “fornecedora” e com um forte compromisso com os objetivos da organização.