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A evolução da economia na Europa e nos Estados Unidos tem sido um pouco divergente, apesar de ambos estarem a reduzir bastante a inflação, mas "a economia norte-americana está a crescer mais, com 2,2%, e a Europa estagnou com um crescimento de 0,5%. Praticamente não cresce desde o verão de 2022", assinalou João Leão, ex-ministro das Finanças, professor auxiliar e vice-reitor do ISCTE - Instituto Universitário de Lisboa, durante a mesa-redonda "O Panorama Político Internacional e o Impacto Económico-Financeiro", integrada na conferência "O Futuro dos Mercados Financeiros".
Na sua opinião, a Europa foi mais atingida por esta crise da guerra da Ucrânia do que os Estados Unidos, não só do ponto de vista de acesso à energia, em que o preço do gás natural subiu mais, como, por outro lado, o efeito das sanções nas relações comerciais com a Rússia afetou sobretudo os países mais a leste.
Nesta fase, os Estados Unidos fizeram o soft landing. "Conseguiram fazer aquilo que, já há um ano ou dois, achava que era possível. Uma vez passados os efeitos base do aumento dos preços dos produtos energéticos e alimentares e de outras commodities, que afetou sobretudo 2022 e início 2023, seriam beneficiados com a queda dos preços da energia, das commodities, com recuos aos preços anteriores à guerra. Isto está a desinflacionar o Ocidente", concluiu João Leão.
A China de valor acrescentado
O sinal de que a crise europeia é mais profunda vê-se na indústria europeia, particularmente a Alemanha, a ser muito afetada pela concorrência chinesa, que está a inundar a Europa de produtos como automóveis, maquinaria sofisticada, indústria eletrónica. "A Europa está a aperceber-se de que os setores core, que são a base da competitividade e da produtividade, estão ameaçados. Enquanto há 20 anos a entrada da China no comércio mundial ameaçou sobretudo o Sul da Europa, com Portugal e Itália a serem muito atingidos no vestuário, têxtil e calçado, agora estão a ser atingidas as indústrias core. A indústria alemã está a sofrer quebras significativas, estão a perder quota de mercado na China, em países terceiros e a própria China está a entrar na Europa", explica João Leão.
Sublinha que a China tem uma crise macroeconómica, não é uma crise de competitividade industrial. Nos últimos quatro anos, as exportações da Alemanha, que é a principal potência europeia, para os países do BRIC, incluindo a China, têm caído a pique, enquanto as exportações da China nesses espaços cresceram.
Na sua opinião, está-se a criar um mundo mais rival, mais multipolar e a própria economia global e a própria globalização vão estar ameaçadas por estas forças contrárias no sentido contrário. Deixa de haver uma clara liderança ocidental no mundo global, vai-se sentir na indústria europeia uma tentativa de se proteger mais. Haverá uma mudança no sentido de menor abertura dos espaços europeus ao nível da economia mundial e também uma dimensão de rivalidade política significativa. "A pandemia já tinha acentuado quando se sentiu que a Europa tinha pouca autonomia em termos industriais e de necessidades básicas. Acentuou a perceção de que a Europa precisa de mais autonomia e de reduzir a globalização, o que se veio acentuar com a guerra na Ucrânia quando a Rússia ameaçou com os cortes do gás", disse João Leão.
Na sua opinião, a Europa foi mais atingida por esta crise da guerra da Ucrânia do que os Estados Unidos, não só do ponto de vista de acesso à energia, em que o preço do gás natural subiu mais, como, por outro lado, o efeito das sanções nas relações comerciais com a Rússia afetou sobretudo os países mais a leste.
Nesta fase, os Estados Unidos fizeram o soft landing. "Conseguiram fazer aquilo que, já há um ano ou dois, achava que era possível. Uma vez passados os efeitos base do aumento dos preços dos produtos energéticos e alimentares e de outras commodities, que afetou sobretudo 2022 e início 2023, seriam beneficiados com a queda dos preços da energia, das commodities, com recuos aos preços anteriores à guerra. Isto está a desinflacionar o Ocidente", concluiu João Leão.
Há o risco de uma política monetária demasiado apertada, porque agora o BCE terá algum cuidado em descer as taxas de juro com receio de que a inflação venha a recuperars. João Leão
Ex-Ministro das Finanças, Professor Auxiliar e Vice-reitor do ISCTE
O seu olhar sobre a crise na Europa incide menos sobre a inflação, que está mais ou menos controlada, e mais sobre a estagnação europeia. "Estamos bastante estagnados e os efeitos da política monetária restritiva continuaram a fazer-se sentir ao longo deste ano. O Banco Central Europeu subiu as taxas de juro durante 2023 mas os impactos maiores dessa subida têm efeitos um ano depois. Há o risco de uma política monetária demasiado apertada, porque agora o BCE terá algum cuidado em descer as taxas de juro com receio de que a inflação venha a recuperar, mas essa cautela pode contribuir para uma recessão ou que a estagnação na Europa demore mais do que seria ideal". O sinal positivo é que "o emprego tem estado em máximos históricos, tem crescido e batido recordes sucessivos".Ex-Ministro das Finanças, Professor Auxiliar e Vice-reitor do ISCTE
A China de valor acrescentado
O sinal de que a crise europeia é mais profunda vê-se na indústria europeia, particularmente a Alemanha, a ser muito afetada pela concorrência chinesa, que está a inundar a Europa de produtos como automóveis, maquinaria sofisticada, indústria eletrónica. "A Europa está a aperceber-se de que os setores core, que são a base da competitividade e da produtividade, estão ameaçados. Enquanto há 20 anos a entrada da China no comércio mundial ameaçou sobretudo o Sul da Europa, com Portugal e Itália a serem muito atingidos no vestuário, têxtil e calçado, agora estão a ser atingidas as indústrias core. A indústria alemã está a sofrer quebras significativas, estão a perder quota de mercado na China, em países terceiros e a própria China está a entrar na Europa", explica João Leão.
Sublinha que a China tem uma crise macroeconómica, não é uma crise de competitividade industrial. Nos últimos quatro anos, as exportações da Alemanha, que é a principal potência europeia, para os países do BRIC, incluindo a China, têm caído a pique, enquanto as exportações da China nesses espaços cresceram.
Na sua opinião, está-se a criar um mundo mais rival, mais multipolar e a própria economia global e a própria globalização vão estar ameaçadas por estas forças contrárias no sentido contrário. Deixa de haver uma clara liderança ocidental no mundo global, vai-se sentir na indústria europeia uma tentativa de se proteger mais. Haverá uma mudança no sentido de menor abertura dos espaços europeus ao nível da economia mundial e também uma dimensão de rivalidade política significativa. "A pandemia já tinha acentuado quando se sentiu que a Europa tinha pouca autonomia em termos industriais e de necessidades básicas. Acentuou a perceção de que a Europa precisa de mais autonomia e de reduzir a globalização, o que se veio acentuar com a guerra na Ucrânia quando a Rússia ameaçou com os cortes do gás", disse João Leão.