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Em março de 2015 Gabriela Sousa foi eleita presidente da Sociedade Portuguesa de Oncologia. É licenciada em Medicina pela Universidade de Coimbra e especialista em Oncologia Médica desde 2002. É médica no Instituto Português de Oncologia de Coimbra, Serviço de Oncologia Médica. Dedica-se sobretudo ao estudo e tratamento da patologia mamária e do trato génito-urinário.
Quais são os principais desafios na inovação em oncologia?
A Oncologia tem registado nos últimos anos significativos avanços tecnológicos que se traduzem ao nível do diagnóstico, com a possibilidade de identificação cada vez mais precoce, ao nível molecular, com uma melhor caracterização biológica da doença, mas também ao nível do tratamento, com melhoria das técnicas cirúrgicas e de radioterapia que permitem cada vez mais tratamentos dirigidos, poupando os doentes a sequelas com significativo impacto na qualidade de vida. A intensa investigação na área do tratamento do cancro tem permitido que novos fármacos sejam desenvolvidos no sentido de aumentar a eficácia do tratamento com impacto na sobrevivência dos doentes, mas sobretudo com significativo aporte na qualidade de vida. Hoje temos na prática clínica cada vez mais fármacos orais, que dispensam os doentes de longas esperas para tratamentos em hospitais de dia, ou fármacos que pelo seu mecanismo de acção mais dirigido a alvos específicos da doença, poupam os doentes a efeitos secundários que diariamente os faziam conviver com o estigma associado ao tratamento do cancro.
E quais são os reflexos em Portugal?
Numa sociedade em que o cancro representa a 2ª causa de morte, sendo a principal causa de morte prematura (abaixo dos 65 anos), descrita como a doença com maior impacto económico tendo em conta os anos de vida perdidos ajustados à incapacidade, são vários os desafios que se nos colocam. Por um lado garantir que qualquer cidadão português tenha a adequada acessibilidade no diagnóstico e tratamento do cancro e que seja tratado de acordo com os padrões europeus. Por outro garantir um Serviço Nacional de Saúde (SNS) que acomode os novos casos de cancro, dado que se espera um aumento do número de novos casos por ano, e que saiba cuidar dos sobreviventes desta doença, mas também dos seus profissionais que diariamente trabalham para proporcionar a estes doentes e às suas famílias o apoio que necessitam.
Os reflexos em Portugal, caso não consigamos superar estes desafios, será certamente a não obtenção dos melhores resultados, o que em última instância se reflecte na sobrevivência dos doentes. Claro que a exigência hoje é que para além da sobrevivência possa ser avaliada a qualidade com que os sobreviventes de cancro vivem. Esta é uma questão fundamental.
A compreensão e o conhecimento do indivíduo com cancro tem de facto permitido o desenvolvimento de uma área que ganha cada vez mais importância no controle do cancro. Durante décadas a investigação do cancro procurou soluções na própria doença, e algumas das que foram encontradas revelaram-se de grande impacto. Hoje a investigação está cada vez mais centrada no hospedeiro (no doente) e na interligação que o nosso organismo, sobretudo ao nível do nosso sistema imunitário, pode desempenhar na protecção e na luta contra o desenvolvimento desta doença. De facto, hoje compreendemos melhor que uma das armas de ataque das células malignas é "desactivar" o nosso sistema imunitário e vamos começando a conhecer como é possível voltar a "activá-lo" no sentido de ser o nosso próprio sistema imunitário a eliminar e/ou a controlar o crescimento de alguns tumores.
A Imunoterapia, uma área cada vez mais importante no tratamento do cancro, será tão mais eficaz quanto maior seja o envolvimento do nosso sistema imune no desenvolvimento de determinados tumores. Por isso dizemos que há tumores mais imunogénicos, aqueles que verdadeiramente têm maior interacção com o sistema imune do hospedeiro. Daí que a imunoterapia actualmente ainda não se aplique a todos os tumores.
Há outro tipo de terapêuticas que demonstrem ser eficazes?
Ao longo dos tempos temos assistido a importantes "saltos" de eficácia no tratamento médico do cancro: primeiro, vários tipos de quimioterapia, e ultimamente cada vez mais terapêuticas alvo: anticorpos monoclonais, inibidores tirosina-cinase e outros, de acordo com a possibilidade de efectuar terapêuticas cada vez mais dirigidas a alterações específicas das células malignas. Hoje curamos mais alguns tipos de cancro e controlamos melhor o seu desenvolvimento.
Em termos de prevenção primária, diagnóstico, tratamento e reabilitação do cancro qual é o estado da arte em Portugal, tanto no SNS como nas estruturas privadas de saúde?
Em termos de prevenção primária é muito importante que se mantenha uma atitude pró-activa na promoção de hábitos de vida saudável, contra o tabaco e o álcool, os principais factores evitáveis, devendo ser dada especial atenção na adolescência. A luta contra o cancro necessita de uma atitude concertada, quer das instituições que têm responsabilidades nesta área, quer da sociedade civil e comunidades educativas. Todos somos responsáveis na questão da prevenção primária.
Relativamente ao diagnóstico, tratamento e reabilitação do doente com cancro, as instituições tentam proporcionar o melhor aos seus doentes, contudo regista-se um subfinanciamento relativo ao impacto económico gerado por esta doença. As instituições que prestam cuidados aos doentes oncológicos estão no limite das suas capacidades, os profissionais são confrontados diariamente com enorme carga assistencial. A capacidade de resposta ao nível do diagnóstico e do tratamento curativo fica comprometida, o que gera grande pressão no sistema.
Quais são os principais desafios na inovação em oncologia?
A Oncologia tem registado nos últimos anos significativos avanços tecnológicos que se traduzem ao nível do diagnóstico, com a possibilidade de identificação cada vez mais precoce, ao nível molecular, com uma melhor caracterização biológica da doença, mas também ao nível do tratamento, com melhoria das técnicas cirúrgicas e de radioterapia que permitem cada vez mais tratamentos dirigidos, poupando os doentes a sequelas com significativo impacto na qualidade de vida. A intensa investigação na área do tratamento do cancro tem permitido que novos fármacos sejam desenvolvidos no sentido de aumentar a eficácia do tratamento com impacto na sobrevivência dos doentes, mas sobretudo com significativo aporte na qualidade de vida. Hoje temos na prática clínica cada vez mais fármacos orais, que dispensam os doentes de longas esperas para tratamentos em hospitais de dia, ou fármacos que pelo seu mecanismo de acção mais dirigido a alvos específicos da doença, poupam os doentes a efeitos secundários que diariamente os faziam conviver com o estigma associado ao tratamento do cancro.
E quais são os reflexos em Portugal?
Numa sociedade em que o cancro representa a 2ª causa de morte, sendo a principal causa de morte prematura (abaixo dos 65 anos), descrita como a doença com maior impacto económico tendo em conta os anos de vida perdidos ajustados à incapacidade, são vários os desafios que se nos colocam. Por um lado garantir que qualquer cidadão português tenha a adequada acessibilidade no diagnóstico e tratamento do cancro e que seja tratado de acordo com os padrões europeus. Por outro garantir um Serviço Nacional de Saúde (SNS) que acomode os novos casos de cancro, dado que se espera um aumento do número de novos casos por ano, e que saiba cuidar dos sobreviventes desta doença, mas também dos seus profissionais que diariamente trabalham para proporcionar a estes doentes e às suas famílias o apoio que necessitam.
Os reflexos em Portugal, caso não consigamos superar estes desafios, será certamente a não obtenção dos melhores resultados, o que em última instância se reflecte na sobrevivência dos doentes. Claro que a exigência hoje é que para além da sobrevivência possa ser avaliada a qualidade com que os sobreviventes de cancro vivem. Esta é uma questão fundamental.
As instituições tentam proporcionar o melhor aos doentes, contudo regista-se um subfinanciamento relativo ao impacto económico gerado por esta doença.
Refere-se a Imuno-Oncologia como a grande resposta. Qual é o impacto destas terapêuticas no tratamento da doença? Existem para todos os tipos de cancro? A compreensão e o conhecimento do indivíduo com cancro tem de facto permitido o desenvolvimento de uma área que ganha cada vez mais importância no controle do cancro. Durante décadas a investigação do cancro procurou soluções na própria doença, e algumas das que foram encontradas revelaram-se de grande impacto. Hoje a investigação está cada vez mais centrada no hospedeiro (no doente) e na interligação que o nosso organismo, sobretudo ao nível do nosso sistema imunitário, pode desempenhar na protecção e na luta contra o desenvolvimento desta doença. De facto, hoje compreendemos melhor que uma das armas de ataque das células malignas é "desactivar" o nosso sistema imunitário e vamos começando a conhecer como é possível voltar a "activá-lo" no sentido de ser o nosso próprio sistema imunitário a eliminar e/ou a controlar o crescimento de alguns tumores.
A Imunoterapia, uma área cada vez mais importante no tratamento do cancro, será tão mais eficaz quanto maior seja o envolvimento do nosso sistema imune no desenvolvimento de determinados tumores. Por isso dizemos que há tumores mais imunogénicos, aqueles que verdadeiramente têm maior interacção com o sistema imune do hospedeiro. Daí que a imunoterapia actualmente ainda não se aplique a todos os tumores.
Há outro tipo de terapêuticas que demonstrem ser eficazes?
Ao longo dos tempos temos assistido a importantes "saltos" de eficácia no tratamento médico do cancro: primeiro, vários tipos de quimioterapia, e ultimamente cada vez mais terapêuticas alvo: anticorpos monoclonais, inibidores tirosina-cinase e outros, de acordo com a possibilidade de efectuar terapêuticas cada vez mais dirigidas a alterações específicas das células malignas. Hoje curamos mais alguns tipos de cancro e controlamos melhor o seu desenvolvimento.
Em termos de prevenção primária, diagnóstico, tratamento e reabilitação do cancro qual é o estado da arte em Portugal, tanto no SNS como nas estruturas privadas de saúde?
Em termos de prevenção primária é muito importante que se mantenha uma atitude pró-activa na promoção de hábitos de vida saudável, contra o tabaco e o álcool, os principais factores evitáveis, devendo ser dada especial atenção na adolescência. A luta contra o cancro necessita de uma atitude concertada, quer das instituições que têm responsabilidades nesta área, quer da sociedade civil e comunidades educativas. Todos somos responsáveis na questão da prevenção primária.
Relativamente ao diagnóstico, tratamento e reabilitação do doente com cancro, as instituições tentam proporcionar o melhor aos seus doentes, contudo regista-se um subfinanciamento relativo ao impacto económico gerado por esta doença. As instituições que prestam cuidados aos doentes oncológicos estão no limite das suas capacidades, os profissionais são confrontados diariamente com enorme carga assistencial. A capacidade de resposta ao nível do diagnóstico e do tratamento curativo fica comprometida, o que gera grande pressão no sistema.
A investigação clínica melhora o desempenho "A formação em oncologia tem aumentado nos últimos anos, o que tem sido visível pelo números de jovens médicos que anualmente escolhem a especialidade de Oncologia Médica" refere Gabriela Sousa. Sublinha, no entanto, que "a oncologia moderna é uma oncologia multidisciplinar e multiprofissional". Por isso não é suficiente a formação individual mas de equipas multidisciplinares, porque como diz a presidente da Sociedade Portuguesa de Oncologia "o sucesso do tratamento do cancro depende de um diagnóstico atempado, de uma equipa cirúrgica competente, de uma radioterapia aplicada no tempo certo, de uma oncologia organizada e sobretudo de profissionais motivados". Advoga, até pela sua experiência como orientadora e coordenadora de formação internato médico de Oncologia Médica, que "os jovens médicos deveriam ter horário protegido para formação e até eventualmente exercício de funções em exclusividade; os orientadores/formadores deveriam também ter o tempo necessário para se dedicarem a esta actividade que assume particular importância: é a garantia da transmissão de conhecimentos e da continuidade do saber através das gerações".
Quanto à investigação clínica, que é feita fora dos centros académicos, é, segundo Gabriela Sousa, "escassa e luta com grandes dificuldades". E esta é fundamental porque "as unidades de saúde que melhores resultados apresentem são as que mais incentivam a investigação, nomeadamente a investigação sobre o seu próprio desempenho". Mas a investigação clínica não se compadece com as faltas de tempo dedicado das equipas e de meios técnicos e de recursos humanos especializados, condicionam a prática e o desenvolvimento da investigação clínica.
Quanto à investigação clínica, que é feita fora dos centros académicos, é, segundo Gabriela Sousa, "escassa e luta com grandes dificuldades". E esta é fundamental porque "as unidades de saúde que melhores resultados apresentem são as que mais incentivam a investigação, nomeadamente a investigação sobre o seu próprio desempenho". Mas a investigação clínica não se compadece com as faltas de tempo dedicado das equipas e de meios técnicos e de recursos humanos especializados, condicionam a prática e o desenvolvimento da investigação clínica.