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2024: o ano das obrigações

As obrigações estão a permitir fazer investimentos e a garantir uma expectativa de ter uma remuneração com taxas de juro reais positivas, um bom investimento olhando para o binómio risco-rentabilidade.

Filipe S. Fernandes 01 de Março de 2024 às 15:00
Mário Carvalho Fernandes, chief investment officer do Banco Carregosa. David Cabral Santos
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"O mercado obrigacionista está mais interessante do que o mercado acionista. Ainda que este confira um prémio sobre o mercado, poderá, em termos de trade-off, não estar no momento mais interessante para investir. É um sinal de cautela em relação à exposição ao mercado acionista", referiu Mário Carvalho Fernandes, chief investment officer do Banco Carregosa, na conferência "O Futuro dos Mercados Financeiros", uma iniciativa integrada no Jogo da Bolsa, e que é uma parceria do Jornal de Negócios e do Banco Carregosa.

Na sua opinião, as obrigações estão a permitir fazer investimentos e a garantir uma expectativa de ter uma remuneração com taxas de juro reais positivas. É um tipo de investimento que "parece apetecível, olhando para o binómio risco-rentabilidade numa carteira diversificada. O grande risco do investimento em obrigações são surpresas de surtos inflacionistas, mas não estamos à espera que aconteça uma segunda vaga."

Por sua vez, o índice S&P 500, com a sua métrica de avaliação medida pelo múltiplo de P/E (price-to-earnings (P/E) ratio), está com o PER acima de 20 pontos e da sua média histórica, o que "mostra que há alguma sobrevalorização do mercado acionista tanto em termos relativos como absolutos. Historicamente, quando o S&P500 está com este múltiplo os retornos no futuro tendem a ser abaixo da sua média histórica, que anda à volta dos 8%, dependendo do horizonte temporal que se utilize. Mas neste momento a expectativa a 12 meses é de 3,4% de retorno esperado", considera Mário Carvalho Fernandes.

Revelou que a economia passou de um período de stress para uma fase de maior normalidade e com menos riscos a nível económico. Recentemente, o FMI previu para 2024 um crescimento global de 3,1% , que deve passar em 2025 para 3,2%. "É um crescimento abaixo da média histórica dos últimos anos, mas mesmo assim um crescimento salutar e até aborrecidamente normal, o que é bom para os mercados, porque não há grandes volatilidades", sublinhou Mário Carvalho Fernandes.

Riscos e carteira ideal

Os principais riscos para o crescimento económico são a instabilidade no Mar Vermelho e o possível impacto na inflação, risco a ter em conta quando se está a investir nos mercados financeiros porque é prejudicial para o investimento em ações e em obrigações. "O facto de a economia norte-americana se estar a aguentar com uma taxa de crescimento acima do esperado também contribui para um sobreaquecimento da economia e para um risco inflacionista no futuro, mas enquanto o preço das matérias-primas se mantiver relativamente deprimido, é um risco que não se deverá materializar. Mas há sempre que estar atento aos chamados "riscos desconhecidos", alerta Mário Carvalho Fernandes.

Avisa ainda que na Europa e nos Estados Unidos houve uma reversão rápida dos níveis elevados de inflação, que chegou a atingir os 8%, até aos 4 pontos percentuais, mas para descer para os 2% o processo "deverá ser mais lento e errático com alguns efeitos de segunda ordem como os salários, que continuam a mostrar alguma resiliência em torno dos 4%".

Mário Carvalho Fernandes aconselhou uma carteira de obrigações, "especialmente obrigações de qualidade, porque estas se comportam bem mesmo num clima recessivo. No passado, tivemos sempre liquidez, neste momento, com a perspetiva de corte de taxas, essa liquidez deverá ser canalizada para obrigações com taxas de juro fixas por um período mais longo", aconselhou.

Cautela é a palavra de ordem nas ações mas, segundo Mário Carvalho Fernandes, há algumas oportunidades nas empresas mais quality e mais growth que poderão beneficiar das descidas das taxas de juro, e setores temáticos envolvidos com a inteligência artificial. "Preferimos as ações nos Estados Unidos à Europa pela composição setorial de exposição à economia norte-americana, não gostamos do risco dos emergentes, nesta altura", concluiu.