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Empresas devem preparar-se para novas regras de reporte

Grande, médias e pequenas serão impactadas, ou pela regulação ou pelas exigências da sua cadeia de valor. No primeiro congresso do GRACE, ficou claro que a sustentabilidade deve ser vista pelas empresas como fator de competitividade.

15 de Novembro de 2023 às 14:30
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Todas as empresas, sejam elas grandes, médias ou pequenas, devem preparar-se para o novo paradigma de reporte de sustentabilidade que vai exigir informações sobre o impacto da sua atividade a nível ambiental e social. Não só porque a nova regulação europeia vai exigir esse reporte a determinadas empresas, mas porque ao integrarem cadeias de valor é expectável que a todas será exigida essa informação pelos seus clientes, se lá quiserem permanecer.

Este é mais um elemento que está a impulsionar as empresas à mudança para uma operação mais sustentável. "As coisas estão a mudar, as empresas estão a começar a compreender que a sustentabilidade é um fator de competitividade", começou por referir Margarida Couto, presidente do GRACE - Empresas Responsáveis, na abertura do primeiro congresso organizado por esta associação empresarial, a 7 de novembro, no Tivoli BBVA, em Lisboa, cujo mote foi precisamente "A sustentabilidade como fator de competitividade". Para a também advogada, "atingimos finalmente um ponto de não retorno".

As empresas estão a começar a compreender que a sustentabilidade é um fator de competitividade. Margarida Couto
Presidente do GRACE - Empresas Responsáveis
Luís Castro e Almeida, CEO do BBVA e anfitrião do congresso, confirmou que "a sustentabilidade está no centro da estratégia", dando conta de que hoje em dia, na banca, "quando analisamos créditos de uma empresa analisamos o seu relatório de sustentabilidade". O CEO recordou, porém, que para as economias se tornarem mais sustentáveis são necessários 275 triliões de dólares. Destes "20% é dinheiro público e 80% é privado. Ou seja, a sustentabilidade só avança se for economicamente viável".

Com a banca cada vez mais a limitar empréstimos a empresas que não estejam a fazer o caminho verde, Luís Castro e Almeida deu conta de que se começou "a estabelecer objetivos de não emprestar dinheiro" em determinados setores, porque "queremos reduzir a nossa exposição ao risco até 2030 e 2050". Por outro, o banco, que tinha como objetivo traçado em 2018 emprestar 100 mil milhões de euros para projetos sustentáveis, triplicou o seu apoio a projetos verdes, em 2023, e tem agora como objetivo emprestar 300 mil milhões de euros. "Agora, 76% do montante que emprestamos é para projetos de sustentabilidade", referiu.

O CEO deu ainda conta da importância de envolver todos os recursos humanos nesta transição, referindo que os colaboradores do banco estão a ser formados em sustentabilidade e têm remuneração variável de acordo com indicadores de sustentabilidade.

Sem negócio não há sustentabilidade

Quatro CEO de empresas multinacionais de origem portuguesa estiveram também em palco para partilhar estratégias de sustentabilidade e como estas têm contribuído para as suas agendas de competitividade.

Cláudia Azevedo, CEO da Sonae, salientou que a empresa iniciou um novo ciclo encarando a sustentabilidade como responsabilidade de todos na empresa. "Já não há gestores de sustentabilidade que fazem reporte, todos os gestores têm essa responsabilidade", referiu a empresária. No novo plano estratégico apresentado há uns meses, ficou estabelecido que todas as decisões devem ser tomadas "com lente ESG", ou seja, com foco nos impactos ambientais, sociais e de governação da empresa. "Não podemos ter bons negócios num mau planeta", acrescentou.

Miguel Stilwell d’Andrade, CEO EDP e EDPR, destacou que "a energia está no centro da descarbonização". Por isso, "ou encaramos isso como uma ameaça ou como uma oportunidade para crescer". Algo que a elétrica está a fazer, sendo já considerada líder mundial nas energias renováveis e a quarta produtora de energia eólica.

A sustentabilidade está no centro da estratégia. Luís Castro e Almeida
CEO do BBVA
Mas a sustentabilidade não se faz só de aspetos ambientais. A nível social, por exemplo, a questão da paridade é também vista como algo necessário. "Quando estamos à procura de talento e excluímos metade da população, só estamos a ir buscar a uma parte. Temos de procurar a melhor pessoa para o lugar dento de toda a população", referiu Stilwell d’Andrade. O CEO salientou também que ao desativar centrais a carvão, por exemplo, têm de ser encontradas soluções para aquela força de trabalho, para que não se criem problemas sociais na região onde operam. "Há estruturas que se podem aproveitar e ser reconvertidas", disse, apontando Sines como um bom exemplo disso.

Carlos Mota Santos, CEO Mota-Engil, destacou por sua vez as exigências regulamentares e a importância de reforçar a competitividade das empresas. "Sustentabilidade sem rentabilidade não existe, mas a rentabilidade sem sustentabilidade não tem futuro", acrescentando que "a sustentabilidade começa com a saúde financeira da empresa". Por outro lado, a operar em diversos países, referiu que "a sustentabilidade é uma oportunidade para nos diferenciarmos e sermos mais competitivos", mas criticou alguns entraves regulamentares à inovação "O Código de Contratação Pública impede que empresas apresentem soluções alternativas como a pré-fabricação", salientou.

A fechar o painel de empresas líderes da sustentabilidade, Rogério Campos Henriques, CEO da Fidelidade, sublinhou que o setor financeiro tem um papel fulcral no pilar social. "A sustentabilidade é inerente ao negócio porque gerimos riscos. E o seguro contribui para uma sociedade ser mais resiliente", acrescentando que "podemos ter um papel a ajudar pessoas, famílias e empresas na transição ecológica". Num evento que contou com cerca de 800 participantes, Nuno Fernandes, autor do livro "Climate Finance", reforçou que "os investimentos públicos não nos vão levar muito longe e os investidores privados só põem dinheiro se houver rentabilidade, por isso, deve pensar-se no binómio risco/rentabilidade". O também membro do Conselho de Auditoria do Banco Europeu de Investimentos salientou ainda que os investidores não devem simplesmente eliminar as empresas pouco alinhadas das suas carteiras e defendeu que "investidores que apenes optem por excluir empresas dos seus portefólios não fazem a melhor forma de ter impacto".