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A inovação como novo desígnio nacional

Há cerca de uma década, o país decidiu que para continuar a crescer era importante fazer um esforço coletivo e dirigir os meios e os esforços possíveis para aumentar as exportações. Agora vivemos uma situação semelhante, mas com a inovação. É necessário que a inovação seja natural e faça parte das rotinas nas empresas, na sociedade e no Estado.

17 de Fevereiro de 2023 às 14:30
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O caráter potenciador da inovação, quer em termos de crescimento económico, produtividade e, desde logo, qualidade de vida, foi um dos aspetos destacados no início desta conferência de apresentação da primeira edição do Prémio Nacional de Inovação 2023, que decorreu no Terminal de Cruzeiros do Porto de Leixões, onde foi debatido, mais do que o presente, o futuro da inovação em Portugal.

No evento, Francisco Barbeira, administrador do BPI, justificou a presença deste banco no PNI como algo natural, já que a inovação lhes está no sangue, no ADN. "Fomos criados em 1985, o primeiro banco a ser concebido após a abertura do setor à iniciativa privada depois das nacionalizações de 1975. Fomos igualmente o primeiro banco cotado na bolsa portuguesa. Como vêm, nascemos da inovação." Uma atitude que perdura no tempo, materializada na criação de um Centro de Excelência de Inovação e Novos Negócios. "Entre muitas áreas disruptivas que estamos a explorar, o BPI tem o primeiro balcão do mundo no metaverso, em realidade imersiva."

A Claranet é a prova de como uma pequena startup com cinco pessoas passou a mil colaboradores, sendo atualmente o maior fornecedor de serviços de tecnologias de informação em Portugal, com mais de 200 milhões de euros de volume de negócios. António Miguel Ferreira
Managing director da Claranet
António Miguel Ferreira, managing director da Claranet, munido do tão popular ChatGPT, define a inovação como a arte que transforma ideias em realidade, que reinventa o mundo à nossa volta. "Para a Claranet, a inovação é fundamental. Há 28 anos, cinco jovens universitários juntaram-se e formaram a Esotérica, o primeiro fornecedor de acesso à internet em Portugal, o chamado Internet Service Provider. A Claranet é a evolução da Esotérica. É a prova de como uma pequena startup com cinco pessoas passou a mil colaboradores, sendo atualmente o maior fornecedor de serviços de tecnologias de informação em Portugal, com mais de 200 milhões de euros de volume de negócios". António Miguel Ferreira diz que, por isso, a inovação esteve na génese desta empresa, neste caso inovação em termos de modelo de negócio, não de produto. "Ao longo destes 28 anos fomo-nos reinventando", mencionou perante uma plateia de mais de uma centena de pessoas.

Inovação é inspirar

Reconhecer e premiar a inovação em Portugal é o grande objetivo do Prémio Nacional de Inovação - PNI, uma iniciativa que juntou o Jornal de Negócios, o BPI e a Claranet, em parceria com a Cotec Portugal e a Nova SBE como knowledge partner. Pedro Brito, associate dean da Nova SBE, assume o alinhamento fortíssimo entre a visão e a missão da escola com este prémio. "Sobretudo na intenção de ter impacto na sociedade portuguesa e transformar as empresas a nível nacional." A Nova SBE faz isto de três formas, diz o reitor. Através da investigação aplicada, através da inovação que envolve não só empresas mas investidores, administração pública, professores e alunos, e através da educação. "A educação vai de mãos dadas com a inovação nas metodologias ativas que procuramos desenvolver para garantir que a aprendizagem é muito mais eficaz, na introdução de tecnologia para garantir que conseguimos desenvolver competências durante muito mais tempo e, naturalmente, aproveitando este tipo de iniciativas não só para reconhecer mas para inspirar todos os alunos não só da Nova SBE mas de todas as escolas".

Pedro Brito foi o responsável por detalhar o Prémio Nacional de Inovação aos presentes, explicando que são elegíveis, para as diversas categorias do PNI 2023, quaisquer entidades coletivas, públicas ou privadas, que tenham sede ou estabelecimento em Portugal e gerem benefícios diretos para a sociedade portuguesa.

Fomos o primeiro banco cotado na bolsa portuguesa. Como vêm, nascemos da inovação. Francisco Barbeira
Administrador do BPI
As entidades devem candidatar-se com iniciativas, produtos ou serviços, desenvolvidos por si e com resultados comprováveis e evidenciáveis, que deverão ter impacto significativo no desenvolvimento dos temas associados a cada uma das categorias, seja na transformação das atividades, do negócio das empresas ou da sociedade. O dean salientou ainda que os candidatos poderão submeter candidaturas a mais de uma categoria.

As categorias do PNI

As nove categorias do PNI 2023 estão repartidas entre "Tecnologias" e "Segmento de Negócio". As categorias de tecnologias centram-se em inteligência artificial e machine learning, transformação de posto de trabalho, cloud, cibersegurança, tecnologia sustentável e Web 3.0. Já as de segmento de negócio são inovação em grandes empresas, inovação em PME e inovação em empresa pública ou administração pública.

Há ainda uma terceira categoria, denominada personalidade, que não é alvo de candidatura mas de nomeação por parte do júri, com o objetivo de distinguir um empresário ou personalidade pela sua carreira, ousadia, empreendedorismo ou contributo para o desenvolvimento de um, ou vários, dos setores de atividade. A data-limite para apresentação das candidaturas será o dia 30 de abril de 2023, com os prémios a serem anunciados a 20 de junho.

A inovação em 2030

O título da apresentação de Rui Coutinho era "O Estado da Inovação". O executive director do Innovation Ecosystem da Nova SBE fez "hacking" e transportou-nos para 2030, numa visão claramente otimista de como, daqui a oito anos, Portugal vai estar neste capítulo. Nessa data, diz Rui Coutinho, é notória uma extraordinária evolução. Porque se, em 2022, o European Innovation Scoreboard apontava Portugal como um inovador "moderado", com uma performance de cerca de 85% da média da UE, em 2030 classifica-nos como um "inovador forte", com uma performance de 123,8% em relação à média da União Europeia e a crescer a um rápido ritmo.

E se havia indicadores em 2022 onde estávamos relativamente bem, como um interessante número de estudantes de doutoramento estrangeiros, capacidade de penetração de banda larga ou no apoio do Governo e entidades públicas à investigação e desenvolvimento em contexto empresarial, não estávamos tão bem no nível de investimento que fazíamos em inovação por colaborador, nas tecnologias relacionadas com o ambiente e com a descarbonização ou na produtividade.

As lojas autónomas representam um marco que gostamos de chamar de um novo começo para o retalho. Vasco Portugal
CEO e cofundador da Sensei Tech
Em 2030, Rui Coutinho profetiza que a força nacional está na capacidade de vender produtos inovadores, de gerar emprego em atividades e empresas inovadoras, na capacidade de ser líder nas tecnologias que estão a descarbonizar o planeta e em gerar colaboração nas PME ao nível da inovação. Também aqui, 2030, há espaço para melhorar, nomeadamente no número de patente que Portugal consegue registar, nos investimentos em I&D no setor público, nos investimentos em venture capital ou na mobilidade de emprego científico e tecnológico. Uma visão que, de resto, foi mote para muitos dos oradores desta participada sessão.

O exemplo Sensei Tech

Vasco Portugal, CEO e cofundador da Sensei Tech, veio ao Terminal de Cruzeiros do Porto de Leixões contar uma inspiradora história de inovação. A base do projeto é uma tecnologia que permite às lojas serem perfeitamente autónomas dando uma melhor experiência não só ao cliente, mas ao próprio retalhista. "Para nós, as lojas autónomas representam um marco que gostamos de chamar de um novo começo para o retalho", disse na sua apresentação. A Sensei implementa soluções "grab-and-go" no retalho alimentar, lojas de conveniência ou estações de serviço deu um importante passo no seu processo de internacionalização com a empresa a desenvolver o primeiro supermercado autónomo do grupo Muffato, permitindo assim que a tecnologia chegasse a Curitiba, no Brasil, e abrindo a porta para o imenso mercado da América Latina.

Esta primeira conferência terminou com um debate sobre os desafios da Inovação em Portugal no qual Afonso Eça, diretor executivo do Centro de Excelência para a Inovação e Novos Negócios do BPI, Ana Casaca, diretora de inovação da Galp, Joana Mendonça, presidente da ANI, e Sérgio Silvestre, diretor-geral de inovação da Claranet, identificaram problemas e, mais do que tudo, apontaram soluções para um melhor futuro da inovação em Portugal.

Ao longo deste semestre estão ainda previstos mais três eventos dedicados à inovação, sendo que, na conferência final que se realizará em junho, serão conhecidos os vencedores deste prémio.