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Hélder Rosalino: “90% dos bancos centrais estão a subir taxas de juro”

A destruição dos valores dos ativos transacionados nos mercados financeiros em 2022 acabou por ser muito superior a 2008, ano da grande crise financeira.

19 de Dezembro de 2022 às 18:00
Hélder Rosalino, administrador do Banco de Portugal Pedro Ferreira
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As principais economias mundiais deverão registar forte abrandamento do crescimento económico nos próximos meses, perspetivando-se que algumas delas entrem em recessão, inclusive já no final deste ano, princípio do próximo ano. "É hoje claro que o enquadramento global da economia se agravou muito no decurso de 2022. Assistimos a uma desaceleração da atividade mundial, as principais economias mundiais deverão registar forte abrandamento do crescimento económico nos próximos meses, perspetivando-se que algumas delas entrem em recessão, inclusive já no final deste ano, princípio do próximo ano", referiu Hélder Rosalino, administrador do Banco de Portugal, durante a conferência "O Futuro dos Mercados Financeiros", uma iniciativa do Jornal de Negócios e do Banco Carregosa.

Nesta comunicação, feita na perspetiva do banco central, Hélder Rosalino considera que "a inflação permanece como o elemento-chave na evolução da situação económica". Acrescentou que existe "ainda uma expectativa de trajetória crescente das taxas de juro, embora a um ritmo, a partir de agora, mais contido num contexto de inflação superior ao que se antecipava no passado e, também em resultado daquilo que são os dados do mercado de trabalho. O mercado de trabalho tem tido um comportamento bastante surpreendente, tem sido, de facto, o elemento de estabilização da economia."

Assinalou ainda que tem havido "um aumento generalizado de yields e quedas dos índices acionistas e uma apreciação bastante significativa do dólar que tem levado a que a relação euro/dólar esteja próxima da paridade. Em momentos anteriores, o dólar já chegou a valer mais do que o euro."

A estabilidade dos preços

A série que vem desde 1997 até 2024 mostra que a inflação se encontra em níveis historicamente elevados. Na Alemanha, é necessário recuar ao início dos anos 50 do século passado para encontrar níveis de inflação semelhantes, nos Estados Unidos só no início dos anos 80 do século passado.

"De acordo com as projeções que têm vindo a ser feitas por diversas instituições, antecipa-se que a inflação deverá atingir o nível mais elevado ainda este ano em 2022 devendo descer significativamente nos dois anos seguintes 2023 e 2024. E aqui não há grande diferença em relação aos Estados Unidos, à Europa, ou a Portugal: há um grande sincronismo na evolução sobretudo neste pico a que estamos a assistir no ano de 2022", acentuou Hélder Rosalino. O mandato principal dos bancos centrais é garantir a estabilidade dos preços, mas nos últimos anos, com inflações muito baixas, os bancos centrais ocuparam-se com questões muito ligadas à estabilidade financeira, às transformações digitais, entre outras.

Como diz Hélder Rosalino, garantir a estabilidade de preços é o seu maior desafio no presente. "A normalização da política monetária é necessária para reduzir a inflação e garantir a estabilidade económica e financeira. Nesse sentido, a principal ferramenta para combater esta inflação é a subida das taxas diretoras. A questão que se coloca é a que ritmo, com que velocidade, com que intensidade e que resultados é que se retiram da aplicação deste instrumento de garantia da estabilidade de preços e que se traduz na aplicação da política monetária por parte dos bancos centrais", considerou Hélder Rosalino.

Salientou que neste momento, cerca de 90% dos bancos centrais estão a subir as suas taxas diretoras. A subida das taxas de juro tem consequências ao nível da aceleração da atividade económica ao nível global. "Cria naturalmente algum risco para as famílias e empresas, riscos de um incumprimento, cria pressão sobre as finanças públicas, são tudo consequências que sabemos que resultam desta política monetária mais contracionista."