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Foto em cima: Luís Mira Amaral, ex-ministro da Indústria e Energia, Carlos Borrego, ex-ministro do Ambiente e Recursos Naturais, Paula Policarpo, jurista, gestora e mentora do Movimento Zero Desperdício, e Ana Maria Couras, vice-presidente do Conselho Geral da CIP.
"Economia Circular e Descarbonização" foi o tema escolhido para encerrar o ciclo de Conferências de Outono, um evento organizado pela Câmara Municipal de Anadia e a FNWAY Consulting. Após terem sido feitas reflexões sobre temas tão atuais como a energia e a produtividade, a necessidade de implementar uma economia circular e a descarbonização esteve em debate no palco do Cineteatro Anadia onde Teresa Cardoso, presidente da Câmara Municipal de Anadia, abordou esta temática como "um dos grandes desafios deste século". Um desafio que a autarca assume ser de todos nós, das autarquias e das empresas. "Um processo que é dispendioso, mas é o caminho que todos temos de fazer se queremos efetivamente ter melhor qualidade de vida." E quando fala em qualidade de vida, Teresa Cardoso implica palavras como sustentabilidade e combate ao processo de alterações climáticas. Na sua intervenção de boas-vindas, e dado o sucesso do evento que integrou três debates, a presidente de Câmara deixou em aberto a edição do próximo ano onde novas temáticas serão abordadas. Joana Xavier, consultora financeira técnica de projetos de investimento da FNWAY Consulting, integrou a relevância e importância destes temas no âmbito dos fundos comunitários, nomeadamente no âmbito do Portugal 2020, nos projetos e nos investimentos que se encontram direcionados para estas temáticas, sejam da economia circular, da eficiência dos processos, da utilização de matérias-primas de segunda vida ou da reciclagem. Uma valorização que, segundo Joana Xavier, se efetua de duas formas. A primeira, pela valorização do mérito. "Quanto maior o mérito, maior a probabilidade de as candidaturas serem aprovadas." A segunda, em termos de taxas de apoio, "majoradas quando os projetos têm investimentos neste domínio". Aliás, esta importância, que se tem vindo a acentuar no âmbito do Portugal 2020, continua, e até de forma mais explícita, no âmbito do PRR - Plano de Recuperação e Resiliência português. "Também no âmbito do Portugal 2030 se perspetiva que os investimentos direcionados para estas temáticas, fruto da sua importância no atual contexto, continuem a ser relevantes, seja no âmbito dos projetos de inovação produtiva, nos pequenos investimentos, mas também de um novo sistema de incentivos da descarbonização da indústria."
Joana Xavier salientou na sua intervenção que, no âmbito do PRR, já houve um primeiro aviso precisamente no âmbito da descarbonização da indústria, com as candidaturas a terem encerrado no passado mês de julho, com um total de 242 candidaturas e um valor de investimento que corresponde a 2,4 mil milhões de euros. "A FNWAY Consulting efetuou 28 candidaturas no valor de investimento superior a 214 milhões de euros."
Neste momento está aberto um novo aviso referente à descarbonização e economia circular, que pretende apoiar o investimento no âmbito das indústrias para temática da eficiência energética e novas tecnologias para promover estes processos. Este aviso tem algumas novidades, nomeadamente um regime simplificado que permite colocar projetos de investimento cujo apoio não exceda os 200 mil euros, cujos parâmetros avaliados serão as reduções e termos de consumo e emissões dos gases com efeito de estufa. "Serão processos simples, decididos no prazo de 10 dias após a submissão da candidatura."
Produto útil e inútil
Luís Mira Amaral, ex-ministro da Indústria e Energia, Carlos Borrego, ex-ministro do Ambiente e Recursos Naturais, Paula Policarpo, jurista, gestora e mentora do Movimento Zero Desperdício, e Ana Maria Couras, vice-presidente do Conselho Geral da CIP - Confederação Empresarial de Portugal, foram os intervenientes neste último painel que decorreu em formato híbrido e cuja participação foi gratuita, mas a inscrição prévia obrigatória.
Na sua intervenção, Luís Mira Amaral focou o tema da economia linear à economia circular salientando o facto de num processo produtivo se utilizarem os inputs - energia, água e matéria-prima -, transformando-os em dois produtos: o produto útil, que consumimos, e o produto inútil, baseado na poluição e resíduos. "É fácil de perceber que a evolução tecnológica aumentando a produtividade do processo de transformação permite aumentar a percentagem de produto útil e reduzir a de produto inútil, indo assim a competitividade empresarial em linha com as preocupações ambientais."
Teresa Cardoso, presidente da câmara municipal
O engenheiro salientou que o modelo linear já não corresponde às necessidades das modernas sociedades, exprimindo que o nosso futuro não pode ser feito a partir do velho modelo de extrair, fabricar e descartar. "Na economia da reciclagem, tem-se em atenção o ciclo de vida do produto, que se inicia com o projeto e começa a reutilizar-se no processo produtivo uma parte dos resíduos gerados no processo de transformação, bem como se começa a fazer o reaproveitamento de equipamentos após reparação e beneficiação, dando lugar às chamadas retroações positivas." No fundo, diz Mira do Amaral, o que deve ser feito é analisar todo o ciclo de vida do produto de modo a desenhá-lo tendo em conta o seu fim de vida.
O ex-ministro abordou ainda temas como a economia circular e a ecoinovação e materiais biológicos e técnicos.
A resiliência climática
Carlos Borrego, ex-ministro do Ambiente e Recursos Naturais, focou a sua intervenção na resiliência climática, algo que considera ser "a única coisa que nos pode valorizar nos próximos anos de vida do planeta", numa altura em que o mundo atinge os oito mil milhões de pessoas. Urge assim, no seu entender, perceber de que forma vamos melhorar o uso de recursos. "Desde 1950 até 2020, a população mundial cresceu três vezes e a economia cresceu 19 vezes. Para quem?, se só crescemos três vezes", questiona Carlos Borrego. "Foi para o seu conforto e é aí que estão a maior parte das iniciativas que temos de tomar", até porque a previsão para 2100 é que haja cerca de 11 mil milhões de pessoas a viver na Terra. "Temos de encontrar no planeta maneira de garantir que há recursos para toda a gente."
Um dos desafios é precisamente a energia, nomeadamente os consumos de energia doméstica, indústria, agricultura e transportes. "É preciso resolver a crise energética, mas não é só aumentando a parcela de energias renováveis. Só com isso não resolvemos a nossa dependência dos combustíveis fósseis, se o consumo total de energia continuar a aumentar. O que temos de fazer não é dizer que vamos substituir o carvão, o petróleo ou o gás, mas garantir que a quantidade de energia que consumimos diminui, independentemente de onde vem."
Nós somos o problema e a solução
Paula Policarpo, jurista, gestora e mentora do Movimento Zero Desperdício, admite que as soluções já foram todas inventadas e que, inclusivamente, já sabemos como havemos de salvar as entidades vivas do planeta. "Temos as respostas, não conseguimos é implementar as soluções e escalá-las." Ou seja, em questão estão as teorias comportamentais. "É em nós que está a mudança. Somos o problema e a solução."
Fundadora da DARiACORDAR, cujo objeto social é precisamente a recuperação do desperdício, Paula Policarpo deu como exemplo este projeto que tentou combater o desperdício, promover a inovação e envolver a comunidade.
Ana Maria Couras, vice-presidente do Conselho Geral da CIP - Confederação Empresarial de Portugal, centrou a sua abordagem na realidade empresarial, que debate diariamente com questões de mercado, de aprovisionamento, de logística e de concorrência. "As empresas não são irresponsáveis", disse Ana Maria Couras. "As empresas sabem que têm de dar o seu contributo óbvio para todas as questões que hoje foram aqui discutidas." A executiva falou de "conceitos indiscutíveis" como o Green Deal, da estratégia para os químicos, do roadmap para os plásticos e de como é importante que a economia seja circular, falou na reutilização, na reparabilidade e na necessidade de não haver obsolescência.
Em 2021, a CIP fez a avaliação geral da realidade do tecido empresarial em Portugal em matéria de economia circular, que concluiu que este é um tema cada vez mais central nas agendas das empresas, mas ainda prevalece um longo caminho a percorrer na capacitação das entidades no sentido de acelerar essa transição. Os resultados do inquérito demonstram que não existe um entendimento alargado do conceito de economia circular ao nível da sua aplicação em processos produtivos e em estratégias corporativas e que embora a grande maioria das empresas respondentes ainda não domine o tema em estudo e não o tenha fortemente presente na estratégia, a generalidade considera o tema bastante importante e uma das soluções para mitigar a escassez de recursos naturais.
"Economia Circular e Descarbonização" foi o tema escolhido para encerrar o ciclo de Conferências de Outono, um evento organizado pela Câmara Municipal de Anadia e a FNWAY Consulting. Após terem sido feitas reflexões sobre temas tão atuais como a energia e a produtividade, a necessidade de implementar uma economia circular e a descarbonização esteve em debate no palco do Cineteatro Anadia onde Teresa Cardoso, presidente da Câmara Municipal de Anadia, abordou esta temática como "um dos grandes desafios deste século". Um desafio que a autarca assume ser de todos nós, das autarquias e das empresas. "Um processo que é dispendioso, mas é o caminho que todos temos de fazer se queremos efetivamente ter melhor qualidade de vida." E quando fala em qualidade de vida, Teresa Cardoso implica palavras como sustentabilidade e combate ao processo de alterações climáticas. Na sua intervenção de boas-vindas, e dado o sucesso do evento que integrou três debates, a presidente de Câmara deixou em aberto a edição do próximo ano onde novas temáticas serão abordadas. Joana Xavier, consultora financeira técnica de projetos de investimento da FNWAY Consulting, integrou a relevância e importância destes temas no âmbito dos fundos comunitários, nomeadamente no âmbito do Portugal 2020, nos projetos e nos investimentos que se encontram direcionados para estas temáticas, sejam da economia circular, da eficiência dos processos, da utilização de matérias-primas de segunda vida ou da reciclagem. Uma valorização que, segundo Joana Xavier, se efetua de duas formas. A primeira, pela valorização do mérito. "Quanto maior o mérito, maior a probabilidade de as candidaturas serem aprovadas." A segunda, em termos de taxas de apoio, "majoradas quando os projetos têm investimentos neste domínio". Aliás, esta importância, que se tem vindo a acentuar no âmbito do Portugal 2020, continua, e até de forma mais explícita, no âmbito do PRR - Plano de Recuperação e Resiliência português. "Também no âmbito do Portugal 2030 se perspetiva que os investimentos direcionados para estas temáticas, fruto da sua importância no atual contexto, continuem a ser relevantes, seja no âmbito dos projetos de inovação produtiva, nos pequenos investimentos, mas também de um novo sistema de incentivos da descarbonização da indústria."
Joana Xavier salientou na sua intervenção que, no âmbito do PRR, já houve um primeiro aviso precisamente no âmbito da descarbonização da indústria, com as candidaturas a terem encerrado no passado mês de julho, com um total de 242 candidaturas e um valor de investimento que corresponde a 2,4 mil milhões de euros. "A FNWAY Consulting efetuou 28 candidaturas no valor de investimento superior a 214 milhões de euros."
Neste momento está aberto um novo aviso referente à descarbonização e economia circular, que pretende apoiar o investimento no âmbito das indústrias para temática da eficiência energética e novas tecnologias para promover estes processos. Este aviso tem algumas novidades, nomeadamente um regime simplificado que permite colocar projetos de investimento cujo apoio não exceda os 200 mil euros, cujos parâmetros avaliados serão as reduções e termos de consumo e emissões dos gases com efeito de estufa. "Serão processos simples, decididos no prazo de 10 dias após a submissão da candidatura."
Produto útil e inútil
Luís Mira Amaral, ex-ministro da Indústria e Energia, Carlos Borrego, ex-ministro do Ambiente e Recursos Naturais, Paula Policarpo, jurista, gestora e mentora do Movimento Zero Desperdício, e Ana Maria Couras, vice-presidente do Conselho Geral da CIP - Confederação Empresarial de Portugal, foram os intervenientes neste último painel que decorreu em formato híbrido e cuja participação foi gratuita, mas a inscrição prévia obrigatória.
Na sua intervenção, Luís Mira Amaral focou o tema da economia linear à economia circular salientando o facto de num processo produtivo se utilizarem os inputs - energia, água e matéria-prima -, transformando-os em dois produtos: o produto útil, que consumimos, e o produto inútil, baseado na poluição e resíduos. "É fácil de perceber que a evolução tecnológica aumentando a produtividade do processo de transformação permite aumentar a percentagem de produto útil e reduzir a de produto inútil, indo assim a competitividade empresarial em linha com as preocupações ambientais."
Teresa Cardoso, presidente da câmara municipal
O engenheiro salientou que o modelo linear já não corresponde às necessidades das modernas sociedades, exprimindo que o nosso futuro não pode ser feito a partir do velho modelo de extrair, fabricar e descartar. "Na economia da reciclagem, tem-se em atenção o ciclo de vida do produto, que se inicia com o projeto e começa a reutilizar-se no processo produtivo uma parte dos resíduos gerados no processo de transformação, bem como se começa a fazer o reaproveitamento de equipamentos após reparação e beneficiação, dando lugar às chamadas retroações positivas." No fundo, diz Mira do Amaral, o que deve ser feito é analisar todo o ciclo de vida do produto de modo a desenhá-lo tendo em conta o seu fim de vida.
O ex-ministro abordou ainda temas como a economia circular e a ecoinovação e materiais biológicos e técnicos.
A resiliência climática
Carlos Borrego, ex-ministro do Ambiente e Recursos Naturais, focou a sua intervenção na resiliência climática, algo que considera ser "a única coisa que nos pode valorizar nos próximos anos de vida do planeta", numa altura em que o mundo atinge os oito mil milhões de pessoas. Urge assim, no seu entender, perceber de que forma vamos melhorar o uso de recursos. "Desde 1950 até 2020, a população mundial cresceu três vezes e a economia cresceu 19 vezes. Para quem?, se só crescemos três vezes", questiona Carlos Borrego. "Foi para o seu conforto e é aí que estão a maior parte das iniciativas que temos de tomar", até porque a previsão para 2100 é que haja cerca de 11 mil milhões de pessoas a viver na Terra. "Temos de encontrar no planeta maneira de garantir que há recursos para toda a gente."
Um dos desafios é precisamente a energia, nomeadamente os consumos de energia doméstica, indústria, agricultura e transportes. "É preciso resolver a crise energética, mas não é só aumentando a parcela de energias renováveis. Só com isso não resolvemos a nossa dependência dos combustíveis fósseis, se o consumo total de energia continuar a aumentar. O que temos de fazer não é dizer que vamos substituir o carvão, o petróleo ou o gás, mas garantir que a quantidade de energia que consumimos diminui, independentemente de onde vem."
Nós somos o problema e a solução
Paula Policarpo, jurista, gestora e mentora do Movimento Zero Desperdício, admite que as soluções já foram todas inventadas e que, inclusivamente, já sabemos como havemos de salvar as entidades vivas do planeta. "Temos as respostas, não conseguimos é implementar as soluções e escalá-las." Ou seja, em questão estão as teorias comportamentais. "É em nós que está a mudança. Somos o problema e a solução."
Fundadora da DARiACORDAR, cujo objeto social é precisamente a recuperação do desperdício, Paula Policarpo deu como exemplo este projeto que tentou combater o desperdício, promover a inovação e envolver a comunidade.
Ana Maria Couras, vice-presidente do Conselho Geral da CIP - Confederação Empresarial de Portugal, centrou a sua abordagem na realidade empresarial, que debate diariamente com questões de mercado, de aprovisionamento, de logística e de concorrência. "As empresas não são irresponsáveis", disse Ana Maria Couras. "As empresas sabem que têm de dar o seu contributo óbvio para todas as questões que hoje foram aqui discutidas." A executiva falou de "conceitos indiscutíveis" como o Green Deal, da estratégia para os químicos, do roadmap para os plásticos e de como é importante que a economia seja circular, falou na reutilização, na reparabilidade e na necessidade de não haver obsolescência.
Em 2021, a CIP fez a avaliação geral da realidade do tecido empresarial em Portugal em matéria de economia circular, que concluiu que este é um tema cada vez mais central nas agendas das empresas, mas ainda prevalece um longo caminho a percorrer na capacitação das entidades no sentido de acelerar essa transição. Os resultados do inquérito demonstram que não existe um entendimento alargado do conceito de economia circular ao nível da sua aplicação em processos produtivos e em estratégias corporativas e que embora a grande maioria das empresas respondentes ainda não domine o tema em estudo e não o tenha fortemente presente na estratégia, a generalidade considera o tema bastante importante e uma das soluções para mitigar a escassez de recursos naturais.