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As consequências dos preços dinâmicos

As soluções descentralizadas exigem o acesso a redes inteligentes, mas estas colocam algumas dificuldades porque exigem conhecimento, transmissão de informação e literacia.

28 de Novembro de 2022 às 17:00
Pedro Ferreira
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"A questão da descentralização, que está associada a uma maior participação das energias renováveis no mixing energético, é uma oportunidade na medida em que tem características totalmente diferentes de outros tipos de energia e não é controlada pelo operador. É intermitente, varia no tempo e no espaço, abre outras oportunidades", assinalou Antonieta Cunha e Sá, professora associada da Nova SBE, durante a sessão "Economia de Proximidade da Energia: O Potencial dos Recursos Descentralizados" na conferência "E-REDES Academia: Redes para a Transição Energética", em parceria com o Negócios, que teve lugar na Nova School of Business and Economics.

As soluções descentralizadas exigem o acesso às redes inteligentes, mas estas implicam conhecimento, transmissão de informação e literacia. "Para se tirar o maior partido desta inovação tecnológica, garantir o máximo de eficiência e a equidade, estas redes requerem soluções para que estas comunidades possam perceber o que estão a fazer", disse Antonieta Cunha e Sá. Precisou que a utilização destas redes inteligentes requer, para tirar o melhor partido, a utilização dos chamados preços dinâmicos.

Estes significam capacidade de, em cada momento, haver uma possibilidade de o próprio consumidor contribuir para a estabilidade da rede, controlando a procura em função do preço em cada momento. É um aspeto extremamente importante, que pode, em princípio, resultar num aumento de eficiência. "Pode ser um incentivo para as pessoas fazerem um desvio da sua procura quando os preços são muito altos para outros momentos", considera Antonieta Cunha e Sá.

A codiretora científica do Nova SBE Environmental Economics Knowledge Center citou um estudo feito em Espanha, que foi o primeiro país, a partir de 2015, a adotar o real time price, os denominados preços dinâmicos. O que possibilitou o estudo das consequências para os padrões de consumo quando se faz a alteração de um padrão em que o preço era mais ou menos estável, que não reage em cada momento à situação da procura, com o preço dinâmico.

A questão da equidade

Uma das conclusões do estudo foi a não alteração no padrão de consumo, as pessoas não mudavam a sua forma de procurar a energia ao longo do dia. A razão pela qual isso acontece é uma lição importante, segundo Antonieta Cunha e Sá. "Para que as pessoas possam usar desse poder de escolha, é preciso que tenham informação, que o custo desta informação não seja muito alto, e que seja relativamente fácil de a obter. Quanto mais a procura for automatizada, melhor, porque não é fácil o uso destas redes digitais por parte dos consumidores", explicou Antonieta Cunha e Sá.

Esta transição energética também supõe problemas de equidade. Como salientou Antonieta Cunha e Sá este estudo concluiu que, "embora o padrão de consumo não tenha sido alterado, a verdade é que, do ponto de vista da equidade, houve efeitos distributivos que penalizaram as pessoas com níveis de rendimento inferior e que têm a ver com os padrões de consumo ao longo do ano".

Acrescentou que "há uma penalização dos rendimentos mais baixos porque usam a energia na altura do inverno quando os preços são mais altos. As classes com níveis de rendimento usam mais a energia nos picos de procura ao longo do dia. Como a variação entre os meses é maior do que a variação ao nível diário, há um efeito regressivo desta política."

Na sua conclusão, Antonieta Cunha e Sá salientou que os dados são essenciais, para tentar conhecer como é que as pessoas se comportam para poder fazer uma gestão eficiente e equitativa.

O consultor do consumidor de energia  A Watt IS nasceu em 2012 tendo como matéria-prima os dados do sistema elétrico e um propósito. "Havia necessidade de dizer às pessoas o que devem fazer para se tornarem mais eficientes e reduzirem consumos", disse Miguel Carvalho, CEO da Watt Intelligent Solutions. A partir dos diagramas dos consumos a 15 minutos e aplicando modelos de data analytics, inteligência e machine learning encontram e reconhecem os padrões de consumos. "A disponibilização dos dados em formato de curva de carga pela E-REDES é um bom primeiro passo, mas a tradução desses dados em ações concretas sempre foi o nosso foco. Desenvolvemos algoritmia para depois gerar de forma automatizada medidas muito concretas e direcionadas. Tentamos sempre a partir da análise de dados encontrar medidas concretas para que o consumidor ou a empresa possa ser eficiente", explicou Miguel Carvalho.

Em parceria com a Deco Proteste, a Watt IS tem o Poupawatt, gestor de energia virtual, que analisa todos os dados de consumo energético provenientes de contadores inteligentes dos consumidores. "Olhamos para os dados como enablers de inovação, reconhecendo o papel nevrálgico que a E-REDES faz nesta questão", disse Miguel Carvalho.