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A aceleração da transição energética exige a participação massiva e ativa dos consumidores. Para que tal aconteça, o mercado tem de oferecer novos produtos e serviços. É necessária a inovação de mercado e de jovens quadros, gestores, economistas, investigadores, empreendedores, interessados na profunda transformação da energia e nas oportunidades daí decorrentes. Este é o ponto de partida para mais uma conferência Academia E-REDES, desta vez na Nova School of Business & Economics, na qual se vai debater a economia de proximidade da energia, uma tendência associada à descentralização do setor elétrico. A conferência é transmitida amanhã, dia 22 de novembro, em streaming, no site do Jornal de Negócios.
Em entrevista, Luís Tiago Ferreira, Head of Energy Efficiency e Electric Mobility da E-REDES, fala da importância da digitalização e da criação de uma rede mais inteligente, atendendo a que permite um alinhamento mais eficiente entre todos os parceiros deste ecossistema e um maior foco nos desafios presentes e futuros.
Para alcançar os objetivos do Pacto Ecológico Europeu, Portugal precisa de fazer grandes transformações em matéria de energia, tornando-se mais sustentável e mais inteligente. O que está a fazer a E-REDES nesta matéria?
A E-REDES tem um papel absolutamente central na transição energética, nas suas várias vertentes: descarbonização, descentralização e digitalização.
Na descarbonização, assistimos a um crescimento acelerado da produção renovável e de descarbonização do consumo por eletrificação, hoje em dia a forma mais eficiente de descarbonizar (nos veículos, no aquecimento, na alimentação, entre outros) – estas atividades requerem da E-REDES um acréscimo muito significativo de novas ligações à rede, de centros electroprodutores, infraestrutura de carregamento de veículos elétricos, produção distribuída. No primeiro semestre de 2022 realizámos quase 16% mais ligações à rede do que no ano anterior.
A produção de energia é cada vez mais descentralizada. Mais de metade da potência renovável do nosso país está ligada à Rede Nacional de Distribuição. Tem aumentado o número de regiões exportadoras de energia, com fluxos de energia invertidos face ao tradicional; os pequenos produtores-consumidores, e no futuro as baterias, os próprios veículos elétricos, injetam energia nas redes locais, e agregam-se em comunidades de energia. Tudo isto representa novos desafios na gestão das redes de distribuição. Para gerir o acréscimo de complexidade e aumentar a eficiência da rede, as tecnologias digitais, a automação e os dados são um instrumento-chave. A E-REDES tem aumentado o investimento e a digitalização das suas operações, na disponibilização de meios e canais digitais para os clientes e agentes de mercado, no desenvolvimento dos seus sistemas, em múltiplos projetos de inovação digital e em novas formas de disponibilizar abertamente dados com a sociedade.
Que análise faz da transição energética em Portugal quando comparada com os restantes países da União Europeia?
Portugal tomou opções em prol da transição energética que deixam o nosso país bem posicionado face à média europeia. Temos tipicamente mais de 60% de produção renovável na eletricidade e o Eurostat posicionou-nos em 2021 como o quarto país com maior produção renovável de eletricidade da União Europeia, que regista uma média inferior a 40%.
Portugal tem excelentes condições naturais para aproveitar os benefícios desta tendência e é preciso recordar que a transição energética é um caminho que ainda está a meio caminho. Na descarbonização dos transportes, por exemplo, estão-se a dar os primeiros passos.
A E-REDES conta com cerca de 4,6 milhões de contadores inteligentes implementados em Portugal. O que permitem estes equipamentos que um contador tradicional não faz?
Os contadores inteligentes permitem essencialmente alavancar dois fatores de melhoria: dar mais informação aos clientes, para que possam gerir melhor os seus consumos, tomar medidas de eficiência energética ou ponderar melhor o investimento em energias renováveis; aumentar a eficiência da gestão e do serviço prestado pela rede de distribuição, uma vez que permitem recolher mais e melhor informação sobre o consumo e produção, automatizar processos (uma alteração de potência contratada, por exemplo, passa a ser algo automático e feito remotamente), melhorar o planeamento e gestão da rede.
Este processo de digitalização e a criação de uma rede elétrica mais inteligente são essenciais para poder introduzir novos modelos de negócio como a energia distribuída? O que estão a fazer nesta matéria?
Este processo de digitalização é uma tendência transversal a todos os setores de atividade, e em crescente aceleração. Naturalmente, a E-REDES tem vindo a investir significativamente na sua digitalização, de modo a potenciar a qualidade do serviço que presta aos seus clientes. Ter uma rede elétrica cada vez mais inteligente, e com melhor informação, permite tomar as melhores decisões de negócio, quer na vertente mais operacional de gestão da energia distribuída, ou de otimização do investimento na rede, quer em vertentes mais relacionadas com resposta a pedidos e requisitos dos nossos stakeholders. Ter a capacidade de gerir todos estes dados digitais, e distribuí-los ao longo da cadeia de valor do setor (e para além dela), vai permitir que várias empresas consigam implementar novos modelos de negócio, como, por exemplo, as comunidades de energia, o autoconsumo coletivo ou potenciais operadores de flexibilidade.
A rede de distribuição da E-REDES conecta e agrega toda a informação da transição energética descentralizada. O que revelam os dados da E-REDES?
A E-REDES agrega, no âmbito da sua atividade, informação que tem muito valor para acelerar a transição energética. Estamos a disponibilizar no nosso novo portal de Open Data, um conjunto significativo de dados relacionados com as nossas operações, os contadores inteligentes, as ligações à rede e os consumos de energia do território, para permitir que esses dados sejam analisados, estudados e utilizados por todos os agentes da sociedade que deles podem extrair valor e conhecimento relevante. Sabemos desde já que existem múltiplas utilizações possíveis destes dados, úteis para a transição energética, como, por exemplo, direcionar ofertas de instalação de unidades de autoconsumo para locais com melhor adequação do consumo ao período solar e com maior percentagem de instalação de contadores inteligentes, ou identificar locais com maiores necessidades de medidas de eficiência energética. Estaremos disponíveis para trabalhar com todos os agentes para proporcionar a utilização destes dados no sentido de acelerar eficiências, inovação e conhecimento.
Pode quantificar o investimento e o estado de modernização da infraestrutura da E-REDES em matéria de digitalização?
Há vários anos que a E-REDES tem vindo a apostar na digitalização, nas várias vertentes da sua atividade de operação e gestão da Rede Nacional de Distribuição (RND) e das redes BT.
Ao nível das redes de alta e média tensão toda a operação é efetuada com recurso a informação digital, adquirida em tempo real, estando, neste momento, a E-REDES a preparar a evolução dos sistemas de operação da rede para um "Advanced Distribution Management System", reforçando a visibilidade sobre a baixa tensão e maximizando o benefício das "smartgrids".
A aposta na modernização e digitalização da rede tem sido efetiva, com um crescimento anual do investimento da ordem dos 20%, representando em 2022 um valor superior a 90 milhões de euros.
O que não se mede não se pode gerir, por esse motivo os dados são uma fonte de inovação. Que papel podem ter nos veículos elétricos inteligentes?
No caso da relação da mobilidade elétrica com a rede de distribuição de energia elétrica, tipicamente chamamos inteligente à possibilidade de gerir a potência de carregamento dos veículos elétricos de forma a aproveitar essa flexibilidade para um conjunto de utilizações que trazem benefícios aos clientes e ao sistema elétrico. Alguns destes benefícios podem traduzir-se em incorporar mais pontos de carregamento num edifício e nas redes locais, minimizando o reforço da infraestrutura elétrica, gerir o carregamento de forma integrada com energias renováveis locais ou providenciar maior segurança e estabilidade ao sistema elétrico nacional e europeu.
Com a evolução da tecnologia, os veículos poderão ainda vir a entregar energia aos edifícios e à rede, aumentando ainda mais os seus benefícios e utilizações potenciais. De uma forma mais abrangente, os dados têm ainda um papel importante a desempenhar na mobilidade elétrica, ao nível do planeamento das cidades e das infraestruturas de carregamento.
O crescimento da mobilidade elétrica coloca as cidades em pressão. O que permitem fazer os dados nas cidades inteligentes em termos de planeamento e gestão?
Dados do consumo, das ligações à rede e da operação da rede elétrica podem beneficiar a eficiência do planeamento das cidades inteligentes em diversas vertentes, incluindo na mobilidade elétrica, mas não só. Em relação à mobilidade elétrica, conhecer os locais onde há maior disponibilidade da rede, onde há maior dinamismo de ligações à rede, ou mesmo conhecer os padrões de consumo do território pode permitir direcionar de forma mais eficiente o desenvolvimento das infraestruturas de carregamento de veículos elétricos, bem como permitir a diversos agentes melhor coordenar os seus esforços.
Que dados partilham com esta plataforma Open Data
E-REDES?
2) Planeamento da rede e gestão de ativos;
3) Gestão da rede;
4) Operações;
5) Novas soluções de rede;
6) Plataforma digital.