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"Na sequência da crise pandémica, houve uma atração particularmente importante pelo ensino superior. Pela primeira vez, nos últimos dois anos, tivemos mais de 50 mil novos estudantes a ingressar no ensino superior em cada ano, enquanto andava à volta dos 42 a 43 mil anualmente", afirmou Manuel Heitor, ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior.
Acrescentou ainda que, pela primeira vez, mais de 52% dos jovens de 20 anos estão no ensino superior e, na população adulta, hoje cerca de 46% dos residentes em Portugal entre os 30-34 anos têm um diploma de ensino superior.
Há seis anos que se regista um aumento do número de estudantes no ensino superior, o que está "associado a uma nova realidade sobretudo na penetração do ensino superior no território, particularmente associada ao ensino politécnico e às formações curtas de âmbito superior. Hoje temos oferta de ensino superior em 134 localidades enquanto em 2015 tínhamos em 40 localidades", explica Manuel Heitor.
"A democratização do ensino, um movimento que começou há algumas décadas, o que está a acontecer com os politécnicos, é um movimento no sentido positivo", afirmou Pedro Oliveira, membro da Comissão Executiva da Nova SBE, mas considerou que as universidades "deviam ter um papel central e essencial na sociedade portuguesa, que ainda não tem como gostaríamos".
A vacina de Oxford
Na sua opinião, "temos um ensino superior a velocidades diferentes e as universidades têm uma certa culpa por não se afirmarem na sociedade como líderes necessários para o desenvolvimento de Portugal. Esta falta de afirmação é um problema de algumas universidades, embora haja escolas em Portugal que competem e se afirmam entre as melhores do mundo". Além disso, "no debate público, a ciência, a tecnologia, a investigação, os investigadores, apesar de terem ganho durante a pandemia um papel bastante relevante, ainda não foram trazidos para o centro do debate como penso que deveriam ser".
Por sua vez, Francisco Veloso considera que "o que aconteceu no último ano e meio com a pandemia veio trazer as universidades para um papel mais visível e mais central no contexto das sociedades a nível internacional". Deu como exemplo o desenvolvimento feito em Oxford e que veio a dar origem à vacina da AstraZeneca. "É um excelente exemplo de como o investimento universitário ao longo de várias décadas cria uma plataforma que depois permite uma aplicação e tem um impacto societal muito significativo".
Para o reitor do Imperial College Business School a resposta a muitos desafios desde a saúde à descarbonização da economia passando pelo envelhecimento ou as desigualdades, por exemplo, está na universidade, que pode e deve desempenhar um papel central. "Criar condições para que isto venha a acontecer em Portugal nos próximos anos deve ser uma absoluta prioridade. Nesse sentido, acho que o PRR não vai tão longe como poderia ir. O Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) acabou por investir menos do que deveria na criação de condições para que as universidades, as empresas e a sociedade civil trabalhassem juntos para resolver alguns destes problemas e através disso reformar as próprias universidades".
Os impulsos PRR
O PRR tem dois programas específicos na área do ensino superior, que devem ser interpretados na articulação com todas as outras áreas, segundo Manuel Heitor. O Impulso Jovem STEAM, que está dotado com 130 milhões de euros, para reforçar a formação na área das ciências, tecnologias e engenharias e artes, tanto na modernização pedagógica mas também da capacidade de ter mais estudantes nestas áreas que são das mais procuradas do ensino superior.
No Impulso Adultos, terá 130 milhões na área das ciências, tecnologias e engenharias e artes, "porque hoje temos ainda um défice ao longo da vida, quando, por um lado, encaramos o cenário demográfico, e por outro, a mudança tecnológica que enfrentamos quer em termos das oportunidades da digitalização mas também dos desafios para a mudança ecológica. Estes fatores não justificam mas irão condicionar a modernização do ensino superior em Portugal e no mundo, sobretudo no contexto europeu", assinalou Manuel Heitor.
Pedro Oliveira admite que algumas escolas "vão aproveitar o PRR muito bem". Refere que a sua escola a Nova SBE acabou de lançar o ecossistema da inovação, "em que procuramos trazer para o campus da faculdade um conjunto de empresas para trabalharem com os alunos, os docentes, com um modelo que considero inovador em todo o mundo no que se chama project based learning, resolução dos problemas concretos das organizações".
Mas admite que muitas universidades vivem uma situação orçamental "bastante aflitiva, vão acabar por gastar muito deste dinheiro nas suas despesas correntes e colmatar algumas das suas necessidades básicas. Há muitas escolas com recursos escassos, para estas o PRR vai ser uma boia de salvação e não para um investimento transformacional".
"Esta ideia crítica que temos de ter mais economia com mais educação e mais inovação fez parte do desenho do PRR e por isso em todas as linhas como a educação, a investigação e a inovação é exigida uma articulação e uma colaboração sistemática entre os empregadores públicos e privados e as instituições científicas e académicos. Este círculo virtuoso da colaboração é cada vez mais crítico para a modernidade de Portugal e dos portugueses", concluiu Manuel Heitor.