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As três revoluções para a sustentabilidade do SNS

“Precisamos de uma revolução e não apenas de outra reorganização”, afirma Muir Gary, que defende o paradigma do Value Based Healthcare, a mudança organizacional com o sistema integrado e uma cultura de curadoria/zeladoria.

28 de Outubro de 2021 às 19:00
Muir Gray é diretor do Oxford Center for Triple Value Healthcare.
Muir Gray é diretor do Oxford Center for Triple Value Healthcare. DR
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"As necessidades e a procura estão a crescer mais e a uma velocidade superior aos recursos e por isso mais do mesmo não é suficiente, precisamos de três revoluções", afirmou Sir Muir Gray, diretor executivo do Oxford Centre for Triple Value Healthcare, na sua conferência com o tema "Three Revolutions to Ensure the Sustainability of Universal Healthare". Acrescentou que "nos últimos dez anos temos estado todos muito centrados na qualidade, segurança e eficiência da execução a um custo mais baixo e com maior qualidade. Mas para fazer coisas que são eficazes a um custo mais baixo, não é a melhor forma de nos prepararmos para o futuro".

O novo paradigma é o Value Based Healthcare e que é a primeira das revoluções anunciadas por Muir Gary. "Quando injetamos mais dinheiro em cuidados de saúde os benefícios aumentam mas depois a curva achata. O problema com os cuidados de saúde é que quanto mais cuidados de saúde prestarmos, pior estamos a fazer. Os cuidados de saúde de grande qualidade fazem subir um pouco a curva dos benefícios e baixar a curva dos desperdícios mas as duas curvas mantêm-se", resume Muir Gary.

O diretor executivo do Oxford Centre for Triple Value Healthcare assinalou que os serviços de saúde têm de pensar em termos de populações, têm de se certificar de que as pessoas que mais podem beneficiar estão a receber esses cuidados de saúde. "O que acontece em Inglaterra é que as pessoas mais carenciadas só recebem 25% dos cuidados em termos de próteses e nesta estatística não estão incluídas as próteses colocadas ao abrigo dos seguros de saúde privados. Os dados sugerem que este gap se alarga e que pode ser aplicado aos cuidados da diabetes, ao acesso a especialistas, às admissões de emergência, às cataratas, às consultas de cessação tabágica", disse Muir Gary. "É mais do que desigualdade, é iniquidade, tratamento injusto", acrescenta que "precisamos de uma revolução e não apenas de outra reorganização".

Cuidados de saúde 3D

A segunda revolução relaciona-se com a emergência de novo paradigma organizacional, o sistema integrado. "Em todos os países em que trabalhei existem cuidados de saúde 2D autocuidados, cuidados informais, cuidados gerais, cuidados especializados, e cuidados hiperespecializados, e depois a lista de burocracias do NHS que mudam a cada dois anos e o mesmo acontece em Portugal", considerou Muir Gary.

Os cuidados de saúde 3D centram-se na definição de uma população de acordo com as suas necessidades: pessoas com asma, com problemas de coluna, pessoas no último ano de vida. Os sistemas são concebidos com a ajuda de redes e precisamos da burocracia para as tarefas lineares como a gestão de pessoal, gestão e manutenção dos equipamentos, mas as redes vão para além da burocracia. "Este é o século dos sistemas e das redes. Temos de passar do arquipélago para os cuidados integrados", afirma Muir Gary.

A terceira revolução é a necessidade de uma cultura de stewardship (cultura de curadoria/zeladoria). Nos serviços de saúde existem três aspetos: estrutura, sistema e serviço e normalmente reorganizamos a estrutura. Mas existem duas mudanças importantes ao nível dos sistemas e da cultura, sendo que a cultura é a mais importante e o papel da liderança é dar corpo a uma cultura e é necessária uma cultura de orientação. "Se quem usar os recursos tiver a possibilidade de gerir por si só os recursos, então a sustentabilidade é possível. Passam a ser seus administradores."