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A bazuca da saúde

O PRR para a área está vocacionado sobretudo para investimentos no SNS, mas a CUF, rede provada de hospitais e clínicas, também apresentou projetos para serem financiados pelo instrumento europeu para a recuperação.

28 de Outubro de 2021 às 18:30
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"A CUF candidatou-se ao PRR (Programa de Recuperação e Resiliência) no setor da saúde, mas admito que haja fundos do PRR mais significativos para o SNS", disse Rui Diniz, presidente da comissão executiva da CUF. O projeto apresentado insere-se na área do Value Based Healthcare (VBH), em que a CUF tem medidas, em termos de VBH, 13 patologias com 34 equipas envolvidas com mais de 15 mil doentes e 25 mil inquéritos recebidos. Este projeto apresentado ao PRR representa é "um salto adicional no VBH", em parceria com a Nova Medical School, Nova SBE e a FCT da Nova com base num laboratório colaborativo que têm centrado em VBH. Também se candidataram na área da digitalização e dos ensaios clínicos.

Fernando Araújo, presidente do Centro Hospitalar de São João, tem expectativas muito favoráveis mas também alguma preocupação. "Muitos projetos que estão no PPR são muito antigos, o que pode não ser o ideal". Na sua opinião, "devia-se aproveitar para mudar a organização do sistema, e para isso é necessário algum investimento para fazer essa mudança e termos novos paradigmas diferentes".

Considera que "é uma oportunidade única para mudarmos a forma como o sistema comunica. Existe a verba para os sistemas de informação mas veremos como se utiliza". Fernando Araújo acrescenta que falta uma discussão sobre esta mudança: "Temos de envolver os vários parceiros tanto os públicos como os privados, os sociais e as empresas tecnológicas para conseguir os padrões que nos garantam no futuro a integração plena dos dados da saúde dos utentes, e há questões infraestruturais e de equipamentos que acho que vale a pena ter um olhar diferente".

O PRR no SNS

Por sua vez Victor Herdeiro, presidente da ACSS - Administração Central do Sistema de Saúde, fez um resumo justificativo dos investimentos do PRR na área da saúde que atingem os 1,38 mil milhões de euros. Os investimentos nos cuidados de saúde primários, cerca de 475 milhões de euros, preveem a construção e a reabilitação de centos de saúde e aumentar "a resolubilidade aos cuidados de saúde primários para que consigam fazer análises, raios-X. Também a saúde oral está prevista nos cuidados de saúde primários com o alargamento dos rastreios".

Há ainda um investimento de 200 milhões de euros para os cuidados continuados e paliativos para alargar a resposta e cerca de 85 milhões na saúde mental, "que é um problema escondido e por isso a saúde mental vai ser diferente em 2026", prevê Victor Herdeiro. Está ainda contemplada uma verba de 300 milhões de euros para a transição digital na saúde. "As ferramentas que foram utilizadas massivamente com várias funções e propósito na pandemia já existiam e não eram utilizadas, mas agora ficaram. Com a subida exponencial das doenças crónicas o digital e as novas tecnologias como a telemonitorização acabam por ter uma importância vital", conclui Victor Herdeiro.

Referiu ainda que ainda existe o plano de investimentos do novo quadro 2030, e que no OE de 2021 houve verbas para equipar os hospitais com equipamentos médicos pesados e que no PRR também estão previstos para a governação de instituições hospitalares com incentivos fortes para os centros de responsabilidade integrada.

Do Rest & Restore ao Work & Work Estes últimos 18 meses de luta contra a pandemia desgastaram os profissionais de saúde, que fizeram um esforço único. Fernando Araújo refere que nos Estados Unidos a resposta para estes profissionais rest and restore como modo de tentar agora voltar para um novo paradigma. Em Portugal pede-se aos profissionais work and work. "Querem que eles recuperem as listas de espera, façam mais cirurgias, e nas urgências temos atualmente picos como já não tínhamos em 2019 e estamos a bater recordes, e ainda não chegámos ao inverno com as doenças respiratórias".

Com um problema adicional para as organizações de saúde. Além do cansaço físico e mental dos profissionais, estes têm número elevado de dias de férias para gozar porque muitos foram adiados e outros majorados, e depois há um grau elevado de absentismo, "fruto não só de doença mas, por exemplo, dos isolamentos profiláticos dos filhos, o que põe uma imensa pressão sobre quem está a trabalhar", resume Fernando Araújo.