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A conversa interminável dos cuidados centrados no doente

“Os cuidados centrados no doente são algo de que muito se fala e que pouco se vê em Portugal”, afirmou Ana Raimundo, presidente da SPO - Sociedade Portuguesa de Oncologia.

28 de Outubro de 2021 às 17:30
Ana Raimundo é presidente da SPO.
Ana Raimundo é presidente da SPO. Mariline Alves
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"Pôr o cidadão no centro já se fala há algum tempo, mas parece algo estratosférico, mas é fácil", sublinhou Ana Sampaio, presidente da APDI - Associação Portuguesa da Doença Inflamatória do Intestino. Trata-se apenas de convidar os cidadãos a participar nas entidades de saúde como os hospitais, em determinados órgãos como o conselho consultivo.

Uma das propostas que as associações de doentes têm vindo a discutir passa pela criação de um provedor do doente nos hospitais. "Seria alguém que no fundo cuide dos interesses dos doentes e concentre, de modo que os profissionais de saúde se consigam aperceber de que há uma centralidade e que o doente é o cliente dos cuidados de saúde tanto nos hospitais como nos cuidados primários", disse Ana Sampaio.

"Ouvir o doente em todas as fases do percurso, no screening, no diagnóstico, no tratamento e depois os resultados, ou seja, o patients reports outcomes, que é o resultado das intervenções médicas e depois os sobreviventes. Estes são mais porque os tratamentos são cada vez mais eficazes, vivem cada vez mais com o cancro como uma doença crónica", explicou Ana Raimundo. Esta médica alertou que a sociedade tem de estar preparada para integrar essas pessoas na vida social, profissional e que "a nossa legislação laboral está muito atrasada em relação à inclusão desses doentes. Isto é que são os cuidados centrados no doente que não se resumem ao tratamento."

As próximas pandemias

Foi referido ainda que se tem de repensar a estrutura de combate a uma epidemia. Ana Raimundo defendeu que "seria essencial que se preparassem alternativas aos médicos de família, como outros profissionais de saúde, para que os médicos de família pudessem continuar a responder a outras doenças nomeadamente as crónicas, libertando os médicos de família para o que sabem fazer bem que é seguir os seus doentes".

Teleconsulta deve ser uma opção do doente

No balanço do ano e meio de pandemia, Ana Sampaio ressalta o valor e a importância da teleconsulta, que deve ser sempre uma opção do doente face à consulta presencial. Pode ser relevante para os doentes crónicos porque estes "não têm só consultas mas exames, toma de medicação, portanto, se pouparmos estas deslocações, é tempo de produtividade que o país vai ganhar e pode evitar que o doente ponha o emprego em risco pois faltará menos".

Ana Raimundo salienta que houve algumas melhorias nas práticas como a higienização das mãos, as máscaras, os cuidados com os doentes diminuíram drasticamente a infeção hospitalar que em Portugal era dramática entre os países europeus e os profissionais de saúde interiorizaram todos estes cuidados. Em muitos hospitais houve processos para redução da estadia no hospital, com a marcação dos vários atos médicos de um doente para o mesmo dia, uma agilização dos processos que mostra que o doente é o centro.

Isabel Magalhães, presidente da Pulmonale - Associação Portuguesa de Luta Contra o Cancro do Pulmão, apontou para a "inexistência de dados em tempo útil que permitam avaliar, tomar decisões, planear, é um constrangimento constante com que nos debatemos, o que aconteceu mesmo durante a pandemia. As bases de dados não interagem, não conseguimos ter uma informação suficiente, o que tem impactos desde a tomada de decisão ao processo de investigação, ao doente, de modo que ele possa ter acesso aos seus próprios dados em qualquer ponto do país".