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Mais prevenção gera economia de recursos

A sustentabilidade do sistema de saúde “só será atingida se conseguirmos uma melhor organização dos recursos, uma correta avaliação do custo/benefício, uma aposta forte na prevenção”, considera Isabel Magalhães presidente da Pulmonale.

11 de Outubro de 2021 às 14:30
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Estima-se hoje que uma em cada quatro pessoas seja afetada por doença do foro mental, agravamento que resulta da pandemia de covid-19, refere Joaquina Castelão, presidente da FamiliarMente - Federação Portuguesa das Associações das Famílias de Pessoas Com Experiência de Doença Mental.

A covid-19 obrigou a deixar para segundo plano os outros cuidados de saúde das várias especialidades médicas, incluindo a psiquiatria e saúde mental. Segundo Joaquina Castelão, os serviços vão retomando a atividade normal mas têm dificuldade em responder a todas as necessidades. "A falta de recursos humanos na saúde mental é uma realidade que se arrasta há anos. Faltam as equipas locais de saúde mental, constantes do plano nacional de saúde mental, que deveriam já cobrir o território nacional, garantindo o acesso e equidade aos cuidados de saúde mental de proximidade", considera Joaquina Castelão.

Revela que durante a pandemia "foram utilizados alguns meios tecnológicos até aí pouco ou nunca utilizados, como as chamadas telefónicas e videochamadas". Na opinião de Joaquina Castelão, "esta especialidade exige da parte do médico especialista e de outros profissionais que integram a equipa local de saúde mental (psiquiatra, enfermeiro, psicólogo, assistente social, terapeuta ocupacional, nutricionista, etc.) o contacto presencial com o doente e a família. A conversação e observação são fundamentais para o diagnóstico e prescrição do tratamento, tal como para as intervenções psicoterapêuticas e psicossociais associadas".

Não basta dinheiro

Isabel Magalhães, presidente da Pulmonale - Associação Portuguesa de Luta Contra o Cancro do Pulmão, considera que "não existe um verdadeiro plano de recuperação dos atrasos dos doentes não covid, envolvendo os vários stakeholders. Por isso a recuperação da atividade tem ocorrido à medida do abrandamento da pandemia, mas, como refere Isabel Magalhães, com grande esforço dos profissionais envolvidos, "não tendo a robustez necessária para recuperar as lacunas criadas na pandemia. O SNS já apresentava debilidades pré-pandemia, pelo que ter-se-á de encontrar soluções estruturantes e não apenas estar preocupado em voltar a atingir os números de cuidados existentes em 2019".

Na sua opinião, apesar de o sistema se encontrar subfinanciado, não basta injetar mais dinheiro. Teria de haver uma mudança de paradigma, em que o sistema passasse "a estar verdadeiramente focado no utente, nas suas necessidades ao longo da vida numa perspetiva holística, envolve múltiplos fatores e convoca-nos a todos os cidadãos. Desde logo sem literacia, sem verdadeira capacitação do cidadão não será atingido esse modelo centrado na pessoa", afirma Isabel Magalhães.

Assinala que por exemplo a inovação tem associado um custo elevado e que os recursos são limitados. Por isso, a sustentabilidade "só será atingida se conseguirmos uma melhor organização dos recursos, uma correta avaliação do custo/benefício, uma aposta forte na prevenção", considera Isabel Magalhães. Adianta ainda que investir na prevenção, no rastreio, possibilitar o diagnóstico precoce poderão permitir mais e melhor qualidade de vida e uma forte economia de recursos a nível do tratamento, "deixando espaço a que a inovação se aplique em tempo útil aqueles que realmente dela necessitam".