Outros sites Medialivre
Notícia

As muitas vidas futuras do papel

As potencialidades do papel “são imensas. Hoje em dia, face aos problemas que vivemos, acho que há uma oportunidade muito positiva para as indústrias que trabalham nesta área”, disse Elvira Fortunato.

09 de Julho de 2021 às 14:40
Elvira Fortunato referiu que estão em marcha dois projetos no âmbito da covid em que é usado o papel. David Santos
  • Partilhar artigo
  • ...

"Desde o início do nosso grupo de investigação, o CENIMAT, que tivemos sempre a sustentabilidade como ponto principal. Como estávamos na área dos materiais tivemos a preocupação em utilizar, sempre que possível, materiais abundantes, de origem renovável, reciclável, e, por outro lado, utilizar também tecnologias amigas do ambiente", revelou Elvira Fortunato, cientista e professora catedrática do departamento de Ciência dos Materiais da NOVA School of Science and Technology-FCT NOVA, e vice-reitora da Universidade Nova de Lisboa e diretora do CENIMAT-Instituto de Nanomateriais, Nanofabricação e Nanomodelagem.

No início, um dos materiais investigados foi o papel e os seus derivados e a celulose em aplicações da área da eletrónica. "Ficamos também muito admirados e de facto as potencialidades deste material são imensas e em várias aplicações. Hoje em dia, face aos problemas que vivemos, acho que há uma oportunidade muito positiva para as indústrias que trabalham nesta área". Adianta que "o papel será uma das grandes alternativas para combater materiais de origem fóssil", disse Elvira Fortunato e tem aplicações na área da cosmética, produtos farmacêuticos, das embalagens, a eletrónica.

Alternativa aos plásticos

"Temos o problema dos microplásticos, os resíduos de plásticos nos oceanos, e como têm porosidade absorvem metais mais pesados, que entram na cadeia alimentar humana", disse Elvira Fortunato. Acrescentou que "podemos usar a celulose e os materiais à base do papel para as embalagens, o papel com todas as suas características, com camadas, proteções, com vários tipos de encapsulamento à base de biomateriais".

O CENIMAT foi o primeiro centro de investigação no mundo a utilizar o papel e a celulose para aplicações na eletrónica, porque é um material isolante que pode ser utilizado na eletrónica em transístores e semicondutores, por exemplo. "Neste momento no laboratório conseguimos transformar a superfície do papel em grafeno, que é um material que é um excelente condutor e nós neste momento podemos alterar a superfície através de um processo laser extremamente barato e ter papel condutor, que tem mais aplicações", disse Elvira Fortunato.

O papel tem flexibilidade, peso, custo, a tecnologia está mais que desenvolvida, por isso há uma série de aplicações em que se podem explorar as propriedades do papel para aplicações completamente diferentes. "Temos dois projetos na covid em que os testes de diagnóstico são feitos à base de papel, vamos iniciar um projeto grande na área da diabetes em que parte dos testes de diagnóstico é processado em papel e como conseguimos alterar a superfície do papel e parte da celulose noutros materiais como o grafeno, o papel tem propriedades únicas que se calhar são difíceis de obter com outro material", concluiu Elvira Fortunato.